terça-feira, 15 de outubro de 2019

COLUNA DO ANDRÉ BORGES

 OS NEGROS E A REALIDADE BRASILEIRA

André Borges


A construção e a ocupação do Estado brasileiro,foi feita da forma mais violenta possível. A chegada do colonizador a este país, com seus costumes, roupas, formas de falar e a diferença cultural, sem dúvida alguma, se constituiu na primeira e mais evidente forma de violência cometida por aqueles que se tornariam escravizadores dos povos aqui já existentes e dos que foram arrancados, à força, do continente africano. Estes povos que constituíram a diáspora negra no Brasil, sofreram as mais diversas formas de violência, por mais de 3 séculos sob o regime de escravidão. Muito embora esta forma cruel de dominação tenha sido sempre rechaçada pela resistência, que resultou nos vários levantes e revoltas que constam da nossa história.
Ao termino desse período, e com o respectivo fim da escravidão institucional, o Estado Brasileiro sequer garante à Diáspora Negra Brasileira as condições necessárias para que se possa exercer uma cidadania para aqueles que tanto contribuíram para o crescimento desse país .Tais como: titulação de terra moradia e subsidio legais para se manter nela, haja vista que , a economia era basicamente agrícola
Garantia esta dada aos emigrantes europeus e japoneses na década de 30 no século passado .Caracterizando com isto uma outra forma de violência do Estado Brasileiro que é a omissão pois ele não se manter neutro diante todo esse desmazelo com a população negra .Como consequência essa política criou um abismo sócio-econômico que tende a aumentar ,   caso não sejam criados mecanismos capazes de frear o recrudescimento da violência contra a população negra.
De acordo com o Secretário Geral da ONU – kofi Annan – “Em todo mundo, minorias étnicas continuam a ser desproporcionalmente menos escolarizadas do que o grupo dominante .  São minoritariamente representados nas estruturas políticas e majoritários nas favelas, nas prisões e outras formas de guetos sociais. Não têm acesso ao serviço de saúde e nem expectativa de qualidade de vida. Estão sub-representação nas estruturas políticas e super-representadas nas prisões tem menos acesso a serviço de saúde de qualidade e, consequentemente menos expectativa de vida .Esta e outras formas de injustiça social se constituem na mais cruel realidade do nosso tempo, mas não precisam ser inevitáveis no futuro.”


A despeito de todo esse histórico, nos dias atuais, estes fatos ainda são motivos de grande preocupação para a comunidade negra. É o que dizem as estatísticas oficiais abaixo.
       No Brasil, nos últimos vinte (20) anos, a violência matou cerca de 600 pessoas.  Isso corresponde a uma média de 30 mil pessoas por ano, Esses dados demonstram que, em época de guerra, mesmo em países como foi o caso do Vietnam, onde 68 mil pessoas foram mortas, não morreu tanta gente assim.
       Segundo dados do IBGE, existem, “atualmente”, 87 homens para cada grupo de 100 mulheres, sendo que , as mortes violentas acontecem mais com os homens do que com as mulheres , sobretudo na faixa etária dos 15 aos 44 anos, a situação ainda é mais dramática, sobre tudo quando fazemos a subdivisão dessa faixa que é dos 15 aos 24 anos, representando  57% dos casos. Isso equivale dizer que nossos jovens estão cada vez mais vulneráveis a violência nos dias atuais. Se formos dividir este percentual por grupos étnicos, verificaremos que os grupos mais atingidos são os formados por jovens negros.

Após 4 dias de intenso trabalho, foram  votadas e aprovadas  a Carta de Brasiléia, grande parte das Resoluções e Moções, dentre as quais, por absoluta falta de espaço, destacamos as mais importantes. A IX Conferência Nacional de Direitos Humanos foi encerrada por representante da sociedade civil, Senhor Ivônio  de Barros o  representante da Secretaria Especial de Direitos Humanos, senhor Perly Cipriano.

Resoluções

1. Criação do Sistema Nacional dos Direitos Humanos;
2. Elaborar Plano Nacional, Estaduais e Municipais de Direitos Humanos;
3. A concepção dos Direitos Humanos no âmbito do Sistema Nacional dos Direitos Humanos deve ser  entendida à luz da Proteção Internacional da Pessoa Humana;
4. Criar e fortalecer as Secretarias Estaduais e Municipais de Direitos Humanos como órgãos de coordenação das políticas de direitos humanos, ligadas ao Poder Executivo, e independentes da Secretaria de Segurança Pública;
5. Promover a reparação de danos causados a segmentos indígenas, afrodescendentes e ciganos, por meio de políticas e ações afirmativas;
6.  Ratificar todos os protocolos e tratados internacionais da ONU e OEA e retirada de todas as reservas aos mecanismos internacionais e implementar mecanismo legislativos como o Protocolo Facultativo do Comitê para a Eliminação da Discriminação Racial –CERD, as Convenções da Organização do Trabalho-OIT, números 29, 100, 105, 111,138,132, e ECA. Regras  Mínimas de Tratamento dos Presos das Nações Unidas e Lei dos Refugiados entre outros;
7. Primazia dos Direitos Humanos sobre a macroeconomia: rompimento com o FMI; não à ALCA, auditoria  da Dividia Externa, Plebiscito oficial sobre a Dívida e regulamentação do imposto sobre grandes fortunas;
8. Combater o racismo e garantir a titulação e infraestrutura para comunidades remanescentes dos Quilombos;
9. Criar sistema de cotas para pessoas afrodescendentes nos cargos em comissão nos diversos poderes;
10.                 Criar programas de ações afirmativas na saúde, para atendimento às doenças prevalentes na população negra.


Moções

1.Repúdio ao Governo Federal e o Congresso Nacional pela aprovação do salário mínimo;
   2.Repúdio â atual política econômica;
   3. Repúdio à realização da VI licitação, que significará a entrega do nosso petróleo às multinacionais;
   4. Repúdio às constantes violações dos direitos humanos promovidos pelos Estados Unidos, à ocupação de países autônomos, à violação das leis internacionais e à manutenção de “prisioneiros de guerra” nas bases militares do Estados Unidos. Solicita também a retirada das tropas estadunidenses dos países invadidos e ocupados;
        5. Repúdio ao bloqueio econômico e político dos Estados Unidos contra Cuba;
         6. Moção de solidariedade ao povo e ao governo de Cuba frente às agressões promovidas pelo imperialismo norte-americano





*André Borges, 87 anos, é escritor, autor de cinco livros, um dos fundadores do PDT e do Partido Socialista e Liberdade, do qual é integrante da corrente Primavera Socialista, participou ainda da criação da Confederação Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB) e foi Vice-presidente do Instituto Palmares de Direitos Humanos (IPDH) no Rio de Janeiro, ligado à questão racial, e Coordenador Estadual-Adjunto do Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH).

https://vivazumbiezapata.blogspot.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário