Em um dia marcado pelo reconhecimento aos serviços prestados à
advocacia brasileira, a OAB-BA inaugurou em sua sede o busto de Luiz Gama,
primeiro advogado negro da Bahia e principal referência na luta pela abolição.
Estima-se que ele tenha libertado nos tribunais da época cerca de 500 homens e
mulheres negros da escravidão.
A cerimônia aconteceu na sexta-feira (4) e contou com as
presenças da Diretoria seccional, da presidente da Comissão Nacional de
Promoção da Igualdade da OAB, Silvia Cerqueira, do presidente da Comissão
Nacional da Verdade da Escravidão Negra no Brasil da OAB, Humberto Adami, do
vice-presidente nacional da OAB, Luiz Viana Queiroz, dos parlamentares Sílvio
Humberto e Olívia Santana, dentre outras personalidades do meio jurídico e representantes
do movimento negro. No mesmo dia, tomou posse a Comissão Especial de Promoção
da Igualdade Racial, presidida pela advogada Dandara Pinho.
O presidente da OAB-BA, Fabrício Castro, definiu Luiz Gama como
um gigante
da advocacia brasileira e frisou que conhecer a sua história é algo
de extrema importância. "Nós precisamos conhecer melhor essa figura porque
essa, sem dúvida, é uma história que serve de inspiração para muitas das nossas
lutas", afirmou.
O advogado Sérgio São Bernardo destacou que mais do que um
advogado Luiz Gama atuou como um exímio jurista autor de diversas teses.
"É dele que sai o fundamento de que se não era mais permitido traficar
escravos, todos os homens e mulheres negras não deveriam ser trancafiados e
escravizados. Foi com essas ideias que ele libertou mais de 500 pessoas da
escravidão", disse.
Para Silvia Cerqueira, a homenagem prestada pela OAB-BA foi um
marco na advocacia brasileira e baiana. Ela destacou que Luiz Gama deixou um
legado extraordinário para a classe, sobretudo para aqueles que advogam para os
mais necessitados.
"A OAB-BA tem uma história muito importante desde a gestão
de Luiz Viana, quando defendemos as cotas junto ao Conselho Federal, e hoje ela
se perpetua e se consagra na gestão do presidente Fabrício ao inaugurar o busto
de Luiz Gama", afirmou.
Humberto Adami lembrou que desde que o Conselho Federal
registrou a homenagem a Luiz Gama reconhecendo ele como advogado, diversas
seccionais da Ordem vem fazendo isso ao longo do país. "Hoje, Luiz Gama e
Esperança Garcia são os dois principais nomes trabalhados pela Comissão
Nacional da Verdade da Escravidão, que já está presente em 17 seccionais",
frisou.
Redescobrindo a história
Ex-presidente da OAB-BA e atual vice-presidente do CFOAB, Luiz Viana contou que
o busto de Luiz Gama começou a ser feito ainda na gestão passada. Ele lembrou
também que desde
"Na entrada da OAB-BA estão os advogados que advogaram para
os presos políticos, temos o busto de Montezuma, o primeiro presidente do IAB,
e hoje estamos colocando Luiz Gama aqui, para que a gente possa dizer o que
significa essas figuras estarem conosco", pontuou.
Luiz Viana disse ainda que nesse momento tão complicado do país
a OAB sabe no que acredita e para onde quer ir. "Não vamos aceitar aqueles
que, por não entenderem o humanismo, querem impedir a gente de ser aquilo que
somos. Eu quero estar junto da luta de todos, não quero ser dono da luta de
ninguém, mas quero estar lado a lado de vocês".
Sobre o homenageado
Nascido em Salvador, no dia 21 de junho de 1830, Luís Gonzaga Pinto da Gama foi um rábula, orador, jornalista, escritor e o Patrono da Abolição da Escravidão do Brasil. Filho de mãe negra livre e pai branco, foi feito escravo aos 10 anos, após ser vendido pelo pai, e permaneceu analfabeto até os 17 anos.
Luiz Gama conquistou judicialmente a própria liberdade e passou
a atuar na advocacia em prol dos cativos e, aos 29 anos, já era considerado o maior
abolicionista brasileiro. Ele foi um dos raros intelectuais negros no Brasil
escravocrata do século XIX. Luiz Gama pautou sua vida na defesa da liberdade,
da República e foi um ativo opositor da monarquia.
Posse da Comissão
Emocionada em seu discurso de posse, a presidente da Comissão Especial de
Promoção da Igualdade Racial, Dandara Lucas Pinho, agradeceu a todos o
integrantes do grupo de trabalho e à Diretoria da OAB-BA pelo apoio que tem
sido dado à luta em defesa da igualdade racial. Ela fez questão destacar que
essa luta deve seguir em frente sempre.
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