Nesta semana, entre
os dias 16 e 20, integrantes do movimento negro participam da 42ª Sessão do
Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas, a ONU.
Para
o grupo, um dos objetivos do encontro é denunciar alterações legislativas que
podem agravar o genocídio da população negra no Brasil, como o pacote
apresentado pelo atual Ministro da Justiça, Sérgio Moro. A agenda é fruto
de carta enviada, em agosto, com apontamentos técnicos sobre a
situação dos negros no país.
Outros
temas, como os decretos armamentistas do presidente Jair Bolsonaro, as
discussões sobre a Base de Alcântara, no Maranhão, a situação dos pescadores e
pescadores da região da Bahia de Todos os Santos, em Salvador, o Censo de 2020
e o racismo religioso serão abordados pelos brasileiros.
Biko
Rodrigues, da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais
Quilombolas (CONAQ), Eliete Paraguassu, liderança do Movimento de Pescadoras e
Pescadores e Douglas Belchior, da Uneafro Brasil são os representantes da luta
antirracista em Genebra. A
articulação contou com o apoio da Conectas, entidade de direitos humanos.
Os
representantes do Brasil fazem parte da Coalizão Negra Por Direitos,
organização que reúne 60 entidades da sociedade civil e representantes da
população negra para reivindicar melhores condições à população
afro-brasileira.
Para
Douglas, um dos desafios da viagem é promover o trabalho da Coalizão
internacionalmente em busca de apoio em prol de direitos humanos dos negros no
Brasil. “Nosso esforço é firmar a Coalizão como uma frente do movimento que
opera ações políticas no sentido de denunciar violações e exigir direitos
sociais. É uma reparação histórica muito importante”, define.
Nesta
quarta-feira, pela manhã, os três acompanharam plenárias com representantes da
sociedade civil e reuniões com grupos especiais, dedicados a perseguição
religiosa e execuções sumárias. De tarde, estiveram em reunião com a
coordenação do Grupo de Trabalho de Pessoas de Descendência Africana da ONU.
O
representante da CONAQ avalia que o encontro oferece oportunidade de apresentar
as pautas da população negra, atualmente ignoradas pelo atual governo no país.
“Hoje, mostramos ao comissariado da ONU nossas preocupações e angústias com o
que acontece no Brasil”, definiu. “Estamos em Genebra para denunciar as
violações do Estado brasileiro frente a população negra. A violência ataca a
nossa cor”, completa Biko.
Produzido
pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o Atlas da Violência
deste ano apontou que 75,5% das vítimas de homicídio no Brasil são negras. A
cada pessoa não negra que sofreu homicídio em 2017, aproximadamente, 2,7 negros
foram mortos. Nos primeiros dias de setembro, o Anuário da Violência também
apontou que 75% dos mortos pelas polícias brasileiras são pessoas negras.
Para
Eliete, o momento político do país é grave e suas consequências negativas
atingem os mais pobres, sobretudo as comunidades tradicionais, como os
pescadores e os quilombolas.
“Estamos
juntos para combater as violências. Vamos fazer o enfrentamento para nos manter
no território, proteger as coisas que nos são sagradas, como a natureza e as
nossas vidas”, defende.
Próximos dias
A
agenda continua nos próximos dias. Nesta quinta-feira, 19, o grupo se reúne com
Nathalie Prouvez, chefe da Seção Democracia e Estado de Direito do alto comissariado
da ONU. Em seguida, a reunião será com Todd Howland, responsável pelo
desenvolvimento das questões econômicas e sociais da ONU.
Às
13h30, acontecem atividades promovidas por organizações da sociedade civil
brasileira, entre elas a Conectas e a Assessoria Popular Maria Felipa. Ainda
estão programadas algumas reuniões, inclusive com representantes da União
Europeia.
A agenda da
Coalizão vai até sexta feira, 20.