Edição e fotos:Adilson
Gonçalves e Sandra Martins*
Fonte Agência Brasil
e assessoria SJPMRJ
-O
jornalismo brasileiro deve criar oportunidades com foco na cidadania, para
noticiar as desigualdades raciais e o racismo.
A recomendação é do jornalista
Heraldo Pereira, durante o lançamento da
segunda edição do Prêmio Nacional Jornalista Abdias Nascimento, da Comissão de
Jornalistas pela Igualdade Racial (Cojira-Rio).
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Heraldo e Caó reencontro no SJPMRJ |
-Devemos
criar possibilidades (jornalísticas)”- afirma Heraldo - Isso não é ativismo
político, é defesa dos direitos humanos, da cidadania. Dirão que queremos
dividir a sociedade, mas, quando mostrarmos números, estatísticas da
desigualdade, não tem quem não ficará constrangido”, completou o jornalista,
que é negro.
Em
uma fala marcada por referências a jornalistas negros, como o próprio Abdias
Nascimento, que dá nome ao prêmio, Luiz Gama, José do Patrocínio e Hamilton
Cardoso, Heraldo Pereira, da TV Globo, revelou que defender reportagens sobre
as diferenças raciais nas empresas é tão “complicado” quanto discutir a questão
na sociedade.
- O dia de hoje (quinta-feira) é especial para mim por dois motivos: por estar presente no lançamento da 2ª edição Prêmio de Jornalismo Abdias do Nascimento e após tantos anos reencontrar Carlos Alberto Caó. Eu estava chegando a Brasília, quando Abdias era senador da República e Caó deputado federal constituinte. Fui acolhido como filho pelos dois, recebendo deles muitos conselhos- relembrou o jornalista
Pereira considera um marco a Lei Caó, que pune o crime de racismo com cadeia. O autor
da lei, Carlos Alberto de Oliveira Caó, ex-presidente do Sindicato dos
Jornalistas e ex-deputado Constituinte, estava entre os presentes ao debate e
foi muito aplaudido
-Acho
que, muitas vezes, os negros são suprimidos do noticiário, de modo geral”,
avaliou Pereira. As pessoas acham que o Brasil é um país branco, inclusive nas
redações - afirma. Para ele, é
preciso fazer "pressão" para que assuntos sejam noticiados, além de ter mais
negros jornalistas.
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Heraldo, Susana Blass e a presidente do Comdedine. *Foto Sandra Martins |
Heraldo
Pereira também fez críticas ao racismo no país relatando experiências pessoais
e citando também caso de discriminação contra o fato de negros ocuparem altos
cargos em instituições como o Supremo Tribunal Federal (STF).
-Sempre nos
fizeram crer que o racismo é coisa da nossa cabeça- "Você que está
interpretando como racismo, eu não tive a intenção, eu, imagina, tenho até
empregada negra’.-, afirmam aqueles que não se dizem racistas- É sempre assim, ninguém tem nunca a intenção de ser racista”,
condenou Heraldo.
Heraldo, que
também é advogado, considerou histórica a decisão do Supremo Tribunal Federal,
ao aprovar a política de cotas por unanimidade. Mas fez uma ressalva: "O
resultado do julgamento só foi de 10 a 0 por causa de uma demonstração de
racismo dentro do tribunal. Heraldo se referia a uma declaração do ministro
Cezar Peluso sobre seu colega Joaquim Barbosa, dias antes do julgamento: - A impressão que tenho é de que ele tem medo de ser qualificado como
arrogante. Tem receio de ser qualificado como alguém que foi para o Supremo não
pelos méritos, que ele tem, mas pela cor", disparou Peluso. “Toda vez que se destaca a cor com
negatividade é um caso de racismo”, expôs o jornalista.
A
coordenadora do Prêmio Jornalista Abdias Nascimento, Angélica Basthi concordou
com Heraldo, mas disse que o tempo é de mudança nas redações. Segundo ela,
reportagens sobre desigualdades raciais têm saído mais na imprensa. Com a
vitória das cotas raciais em universidades, no STF, acrescentou, a cobertura
ganhará fôlego, fazendo a sociedade a repensar a condição do negro.
-A
decisão do Supremo Tribunal consolida uma luta de anos do movimento negro e
estimula a imprensa brasileira a estar mais atenta e mais sensível- declarou
Angélica Basthi.
Durante
o evento, a viúva de Abdias, Elisa Larkin, aproveitou para cobrar da Fundação
Palmares a criação de um memorial onde as cinzas de seu ex-marido estão, no
antigo quilombo Palmares, na Serra da Barriga (AL). “A lápide foi removida do
local e a muda da árvore baobá [que representa longevidade] foi comida por
formigas. Está tudo abandonado”, reclamou.
Direcionado
a jornalistas, o Prêmio Abdias Nascimento distribuirá R$ 35 mil reais para
reportagens que abordem a temática racial no país, em sete categorias, sendo
uma delas direcionada a matérias sobre a situação da mulher negra. As
inscrições podem ser feitas por jornalistas com registro profissional.