sexta-feira, 18 de outubro de 2019

COLUNA DO ANDRÉ BORGES


Solano Trindade – Poeta do povo 

André Borges
         
Nascido em Recife, no bairro São José, Francisco Solano Trindade já encontrou os negros gozando de relativa liberdade outorgada pela princesa Isabel, filha de D. Pedro II, mas na verdade, conquistada pelos lutadores abolicionistas, entre os quais se destacaram Luis Gama, em São Paulo,, o Tigre da Abolição, o negro campista José do Patrocínio e Joaquim Nabuco. Mas os negros ainda eram vítimas de novos grilhões: o preconceito racial, a pobreza, os obstáculos à ascensão social, a existência nas favelas e mocambos, o subemprego, pois o negro saíra da mão-de-obra não paga na escravidão à mão-de-obra mal paga nas subtarefas das cidades.
Se vivo estivesse, poeta negro, Solano Trindade, teria completado 94 anos em 24 de julho próximo passado. Intelectual ativo e ardoroso defensor do povo, Solano era descendente de escravos, do que aliás,  muito se orgulhava. Foi um dos mais brilhantes continuadores da luta de libertação dos negros, iniciada pelo comandante heroico Zumbi dos Palmares.

Filho de um sapateiro e de uma doméstica, cedo Solano descobriu a sua vocação de poeta, de defensor do povo e da sua cultura. Razão pela qual é considerado como um dos mais importantes poetas da negritude brasileira contemporânea, tendo seu nome dignificado grandemente a luta e a valorização do negro na sociedade brasileira e internacional.
Ativista do Movimento Negro, politicamente consciente, Solano Trindade manejou a cultua como um instrumento de luta. Foi um dos fundadores da Frente Negra Pernambucana, por ter entendido em sua participação política o quanto se desenvolvia uma política racista no Brasil, embora bastante camuflada. Cria também o Centro de Cultura Afro-Brasileira, para a divulgação de artistas negros. É nesse momento que publica seu primeiro livro  “Poemas Negros”. Dando fundamento concreto ao seu nome profético Solano (vento forte, na África), participa do Primeiro Congresso Afro-Brasileiro, em Recife, em 1934 e no Segundo, em Salvador, em 1935.
Em busca de maiores espaços, nos quais pudesse expandir sua várias atividades, antes de vir para o Rio, Solano rolou pela Bahia, Belo Horizonte, Rio Grande do sul, onde funda, na cidade de Pelotas, em 1940,  um grupo popular que seria o embrião do Teatro Folclórico Brasileiro e do Teatro Popular Brasileiro, por ele  criados em 1943 e 1949, no Rio. Em São Paulo, implantou um polo do Teatro Popular Brasileiro.

Chegando ao Rio, Solano foi morar no Catete, mas o crescimento da cidade o empurrou depois para a Saúde, bairro dos mais antigos da então Cidade Maravilhosa. Com Paulo Armando e o maestro Abigail Moura, implantou a Orquestra  Afro-Brasileira, em 1944, no âmbito da União Nacional dos Estudantes, a heroica UNE que a  ditadura asfixia vente anos  após. Neste ano também lança o livro “Poemas de Uma Vida Simples ”, prefaciado por Paulo Armando, o que lhe valeu nova passagem pela temível polícia de Felinto Muller.
Depois se mudou para a Baixada Fluminense, mais precisamente para o Município de  Duque de Caxias. Poeta já famoso, como bom boêmio, Solano passou a frequentar o reduto dos intelectuais e poetas da época, isso lá pela década de 1940 e 50, o bar Vermelhinho, na Rrua Araujo Porto Alegre, em frente da ABI, onde chegou a ter mesa cativa. Intensificou sua luta pela democratização do Teatro e sonha com peças populares que seriam montada em palcos abertos na Cinelândia, Central do Brasil e outras praças da periferia. Castro Alves deixou as praças para o povo: Solano sonhava com o Teatro para o povo.
Com o Teatro Popular Brasileiro, Solano levaria a vários países da Europa a arte negra e popular do Brasil. Tendo esse lindo sonho desmoronado, por falta de apoio, Solano não se dá por vencido e, com Abdias Nascimento, cria o Teatro Experimental Negro, que tantos talentos vai revelar. Espírito agitado, sem nunca se entregar à inércia o poeta estava sempre lendo, pesquisando, anotando, isso tudo feito sempre com alegria.
Seus Livros “Poemas Negros”, “Poemas de Uma vida Simples”, “Seis Tempos de Poesia” e “Cantares ao Meu Povo” necessitam de reedições, para que assim seja resgatado do esquecimento em que jaz sepultado o poeta, que nunca esqueceu que o povo tem fome, e quem tem fome tem pressa. Quem sabe fosse essa a oportunidade da Secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro  e o Conselho Estadual  dos Direitos do Negro presentearem os Afros- Brasileiros com a reedição da sua obra. Solano Trindade faleceu em 1974, em Santa Teresa, com 66 anos. Deixou viúva Maria Margarida, e três filhos: Raquel, Godiva e Liberto. Em sua homenagem, foi fundado o Centro Cultural Solano Trindade, em 1986, e seu nome foi dado a um CIEP, em Realengo.

Seus poemas:

O Trem


Trem sujo da Leopoldina,
correndo, correndo,
parece dizer:
tem gente com fome,
tem gente com fome,
tem  gente com fome...

Piiiii !

Estação de Caxias,
de novo a correr,
de novo a dizer:
tem gente com fome,
tem gente com fome,
tem  gente com fome...

Vigário Geral,
Lucas, Cordovil,
Brás de Pina,
Penha Circular,
Estação da Penha,
Olaria,
Ramos,
Bonsucesso,
Carlos Chagas,
Triagem, Mauá,
trem sujo da Leopoldina,
correndo, correndo,
parece dizer:
tem gente com fome,
tem gente com fome,
tem  gente com fome...

Tantas caras tristes,
querendo chegar,
em algum destino,
em algum lugar...
Trem sujo da Leopoldina,
Correndo, correndo,
parece dizer:
tem gente com fome,
tem gente com fome,
tem  gente com fome...

Só nas estações,
quando vai parando,
lentamente,
começa a dizer:
Se tem gente com fome,
daí de comer...
Se tem gente com fome,
daí de comer...

Mas o freio de ar,
todo autoritário,
manda o trem calar:
Psiuuuuuuuuuuuu...


Negros


 Negros que escravizam
e vendem negros na
África
não são meus irmãos

Negros senhores na
América
a serviço do capital
não são meus irmãos

Negros opressores
em qualquer parte do
mundo
não são meus irmãos

Só os negros oprimidos
escravizados
em luta por liberdade
são meus irmãos
Para estes tenho um poema
grande como o Nilo.

ALERJ PODERÁ TER PROGRAMA DE ENFRENTAMENTO AO RACISMO INSTITUCIONAL


Fonte:Alerj/Edição:Adilson Gonçalves
A Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) deverá ter um Programa de Capacitação Permanente de Prevenção e Enfrentamento ao Racismo Institucional dirigido aos servidores públicos, terceirizados e demais interessados. É o que determina o projeto de resolução 51/19, das deputadas Dani Monteiro, Renata Souza e Mônica Francisco, todas do PSol, que a Alerj aprovou, em discussão única, nesta quinta-feira (17/10). Por ter recebido emendas, o texto ainda precisa ser votado em redação final pela Casa.
O objetivo é adotar mecanismos de superação do racismo institucional; promover o reconhecimento do racismo institucional como violação dos direitos da população negra e dos direitos humanos e buscar a construção de um espaço de transformação de relações sociais.
Segundo a proposta, deverão ser realizadas e divulgadas campanhas de sensibilização sobre o racismo institucional; promover curso de formação interna do corpo de funcionários; produzir e divulgar dados sobre o perfil étnico-racial dos funcionários da Alerj, além de realizar seminários anuais para apresentação dos resultados do programa.
A Alerj poderá realizar convênios com universidades públicas e organizações da sociedade civil que debatam racismo e temas correlatos para a construção da ementa e ministração das aulas, produções de material didático e fiscalização da execução do curso a ser ministrado


PROJETO DE LEI MODIFICA COMPOSIÇÃO DO FÓRUM DE MULHERES NEGRAS DA ALERJ, COM A INCLUSÃO DE INTEGRANTES DA SOCIEDADE

Fonte: Ascom Alerj/Edição: Adilson Gonçalves
A composição do Fórum Permanente de Diálogo com as Mulheres Negras da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) poderá ser alterada. É o que propõe o projeto de resolução 90/19, do deputado Waldeck Carneiro (PT), que a Alerj aprovou em discussão única nesta quinta-feira (17/10).
Por ter recebido emendas, o projeto deverá ser votado em redação final.Segundo a proposta, o fórum deverá ser composto pelos presidentes ou integrantes efetivos designados das Comissões de Defesa dos Direitos da Mulher, de Direitos Humanos, de Combate às Discriminações e de Segurança Pública da Alerj. Também deverão compor o fórum seis mulheres representantes da sociedade civil, indicadas por entidades ou coletivos do movimento de mulheres negras.
A Coordenação Colegiada será composta com base no princípio da paridade entre deputados estaduais e representantes do movimento de mulheres negras do Estado do Rio de Janeiro. A proposta altera a Resolução 396/17, que instituiu o Fórum de Mulheres Negra na Alerj. O novo projeto aumento de cinco para sete o número de mulheres representantes da sociedade civil no colegiado, além de incluir um integrante da Comissão de Direitos Humanos no fórum.

quinta-feira, 17 de outubro de 2019

COMISSÕES DA ALERJ RECEBEM PROPOSTAS PARA MELHORAR A SEGURANÇA PÚBLICA DO RIO

Fonte: Alerj Fotos Rafael Wallace Edição: Adilson Gonçalves
Propostas para melhorar as políticas de segurança no Estado do Rio foram apresentadas, nesta quinta-feira (17/10), durante audiência pública promovida pelas comissões de Defesa dos Direitos da Mulher, Direitos Humanos, Combate às Discriminações, Educação, Trabalho e Habitação, da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). De acordo com o Instituto de Segurança Pública do Rio (ISP), de janeiro a agosto de 2019, 1.249 pessoas foram mortas por ações policiais.
O movimento Parem de nos Matar, criado este ano, após o assassinato do gari William de Mendonça, na favela do Vidigal, Zona Sul do Rio, entregou um relatório aos deputados da Casa, com 17 sugestões para proteger os direitos dos moradores das comunidades. Líderes comunitários reclamaram da utilização de aeronaves como plataformas de tiro e da realização de operações policiais de busca e apreensão durante a noite - das 18h às 06h. Os dois pontos foram destacados no relatório e o documento solicita medidas de combate a essas práticas.
O presidente da Comissão de Combate às Discriminação da Alerj, deputado Carlos Minc (PSB), lembrou que o Ministério Público do Rio (MPRJ) já atua para reduzir essas práticas. “O MP abriu dois processos para investigar essas ações. Isso prova que a pressão feita pela Casa já está tendo resultado”, expôs Minc.
O parlamentar ainda destacou que tramita na Casa, desde 2015, o projeto de lei 182/15, de sua autoria, que determina o afastamento de policiais acusados, mais de uma vez, de causar mortes durante confrontos. Segundo a norma, o agente terá que ficar longe do trabalho nas ruas (cumprindo carga horária em serviços técnicos e internos) por um período mínimo de um ano, além de receber acompanhamento psicológico e ser submetido a reciclagem e capacitação em direitos humanos.
“O texto não prevê uma punição, mas uma medida para que se reduza a letalidade da polícia em operações. A polícia precisa pautar suas operações com inteligência, para evitar mortes. O texto já foi esteve na pauta da Casa e vamos pressionar para que ele volte”, argumentou Minc.
O Ministério Público do Rio já registrou desde janeiro deste ano 38 denúncias sobre violência policial. O dado foi apresentado, durante o encontro, pelo promotor do Grupo de Atuação Especializada em Segurança Pública (Gaesp), Paulo Roberto Mello Cunha. “Temos atuado com a sociedade civil para combater a prática desses crimes de segurança pública. A situação é grave. Foi muito importante a ação do Parlamento de promover esse diálogo”, afirmou Cunha.
Foram convidados representantes das Polícias Civil e Militar e do Governo do Estado para a audiência, no entanto, os órgãos não enviaram nenhum representante. A presidente da Comissão de Direitos Humanos da Alerj, deputada Renata Sousa (PSol), lamentou as ausências. “Infelizmente eles não vieram e é inadmissível que o governo não se proponha a ouvir a população. Era uma oportunidade enorme do governo também se familiarizar com aqueles que sofrem o impacto direto da ação da polícia”, declarou a parlamentar.
A audiência foi solicitada pela presidente da Comissão de Defesa da Mulher do Parlamento Fluminense, deputada Enfermeira Rejane (PCdoB), porém, por causa da gravidade do problema a parlamentar resolveu convidar outras comissões para liderar a reunião. “Todas essas comissões estão envolvidas com a questão da política de segurança pública, por isso a importância de reunir tantos deputados nesse encontro. É preciso pensar em conjunto soluções para o Rio de Janeiro”, concluiu Rejane.

Na pele

Um dos depoimentos marcantes da audiência pública foi o do professor Derick Fonseca, de 32 anos. Há três meses ele quase entra para as estatísticas e incorpora o número de negros mortos nas favelas do Rio. Ao sair de casa, na Comunidade do Feijão, em São Gonçalo, ele foi alvo de cinco tiros de fuzil em um confronto entre a polícia e bandidos da região. “Só deu tempo de gritar: - sou professor, sou professor, e ainda assim os policiais continuaram atirando, me jogaram no chão e só depois de abrir a minha mochila e encontrar o material da escola particular que dou aula pararam de me bater. Tive sorte dos tiros não pegarem em mim. Tenho orgulho de ser favelado, de ter crescido na favela, apesar da humilhação e dos riscos que sofro por isso”, desabafou Derick.
Também estiveram na reunião os deputados petistas Waldeck Carneiro e Zeidan Lula, além dos parlamentares do PSol, Flávio Serafini, Monica Francisco e Dani Monteiro e do PSB, o deputado Renan Ferreirinha.

IPEAFRO RELIZA AULA-EXPOSIÇÃO "O QUE NÃO CABE EM 500 ANOS: OUTRA HISTÓRIA DOS POVOS AFRICANOS" NO CAIS DO VALONGO


Fonte: Ipeafro Edição: Adilson Gonçalves
O Ipeafro - Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros e pelo Partiu! - Plano de Arte e Intervenção Urbana promovem neste domingo, dia 20 de outubro, a partir das 15 horas, a aula-exposição "O Que Não Cabe em 500 Anos: A Outra História dos Povos Africanos. O evento será realizado no Cais do Valongo, com acesso gratuito.

A atividade tem como ponto de partida a Linha do Tempo dos Povos Africanos, pesquisa desenvolvida pelo Ipeafro que remonta o quebra-cabeça da história autêntica da África, dos africanos e seus descendentes em todos os continentes, desde o berço da humanidade até os dias atuais. 
O artista urbano Cazé Arte apresentará ao público, pela primeira vez, sua interpretação da Linha do Tempo, no tamanho de 7,20m x 2,10m. A pintura será feita em um painel montado a partir de madeiras de demolição e pneus de bicicleta reaproveitados. O escritor e poeta Milsoul Santos abrirá o evento com sua interpretação do poema Padê de Exu Liberador, de Abdias Nascimento. O DJ Rajão criará a atmosfera afrocentrada com a batida ancestral. Após a introdução feita por Leonardo Veiga, do ONU-Habitat Brasil, os professores Mônica Lima (Instituto de História/UFRJ)Elisa Larkin Nascimento (IPEAFRO)Renato Noguera (Departamento de Educação/UFRRJ) e Carlos Alberto Medeiros (IFCS/ UFRJ) darão a aula, seguida de conversa com o público.

SUSTENTABILIDADE, CIDADES E PATRIMÔNIO MUNDIAL

O Cais do Valongo foi uma entrada portuária central pelo qual chegou às
Américas o maior contingente de africanos escravizados. Estima-se que mais de um milhão de negras e negros africanos tenham passado pela região. A proibição e o fim do tráfico de escravos e a abolição da escravatura no Brasil foram seguidas por um processo de ocultamento, inclusive material, dos vestígios. Em 2011, com as obras de revitalização da zona portuária, houve o “redescobrimento” do local, quando começou a luta por seu resgate histórico e de valor cultural como forma de resistência e memória. Em 2017, o Cais foi declarado Patrimônio Mundial da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).
O que Não Cabe em 500 Anos: Outra História dos Povos Africanos faz parte da programação da Virada Sustentável 2019, maior festival do Brasil de cultura, mobilização e educação para a sustentabilidade, que terá atividades em mais de 30 bairros do Rio de Janeiro. O evento também faz parte do Circuito Urbano 2019, conjunto de eventos selecionados pelo ONU-Habitat que promovem debate e conscientização sobre o desenvolvimento urbano sustentável no Brasil.

PROGRAMAÇÃO 
Local: Cais do Valongo
Endereço:
 Av. Barão de Tefé, s/n – Saúde, Rio de Janeiro (em frente ao número 75)
Acesso:
 gratuito
Em caso de chuva:
 a atividade será realizada no Instituto Pretos Novos (IPN), na Rua Pedro Ernesto, 36 – Gamboa

15h às 18h30 – Exposição de peça artística elaborada por Cazé Arte
15h 
– Música ao ar livre com Pedro Rajão (Leão Etíope do Méier)
15h45 
– Abertura com a poesia Padê de Exu Libertador, de Abdias Nascimento, interpretada por Milsoul Santos (IPEAFRO)
16h
 – Participação de Leonardo Veiga, da ONU-Habitat
16h15
 – Aula com mediação de Elisa Larkin Nascimento
17h45
 – Participação do público
18h30
 – Encerramento 
ARTISTAS E PALESTRANTES
Cazé Arte, artista urbano, formado em design, com especialização em caráter design. Seu trabalho mais recente foi o mural retratando Amílcar Cabral na capital de Guiné-Bissau 
Pedro Rajão, DJ, produtor cultural e idealizador do coletivo cultural Leão Etíope do Méier 
Milsoul Santos, poeta, escritor e responsável pela dinâmica cultural do IPEAFRO. Autor dos livros Amor sem Miséria e Pássaro Preto.
Profa. Dra. Mônica Lima (Instituto de História/UFRJ)especialista em História da África e dos Africanos no Brasil, coordenadora do LEÁFRICA (Laboratório de Estudos Africanos) e integrante da equipe que preparou o dossiê que fundamentou a candidatura do Cais do Valongo a Patrimônio da Humanidade, aprovada pela UNESCO
Profa. Dra. Elisa Larkin Nascimento (IPEAFRO), autora da Linha do Tempo dos Povos Africanos e do respectivo Suplemento Didático e organizadora dos livros da coleção Sankofa, volumes 1 a 4 e o livro Adinkra, sabedoria em símbolos africanos 
Prof. Dr. Renato Noguera (Departamento de Educação/UFRRJ), pesquisador do Laboratório de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (Leafro) e coordenador do Grupo de Pesquisa Afroperspectivas, Saberes e Infâncias (Afrosin)
Prof. Doutorando Carlos Alberto Medeiros (IFCS/ UFRJ), jornalista e pesquisador na área de relações raciais, com atuação no movimento social e em órgãos governamentais de promoção da igualdade racial
Apresentação: Julio Menezes Silva (IPEAFRO e FOPIR)
PARCEIROS

Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (IPEAFRO)
Plano de Arte e Intervenção Urbana (Partiu)
Leão Etíope do Méier
Instituto Pretos Novos (IPN)
Virada Sustentável 2019
Tintas Coral
ONU-Habitat

SOBRE O IPEAFRO

O Instituto de Pesquisas e Estudos Afro Brasileiros, no Rio de Janeiro, atua na recuperação da história e dos valores culturais negros, no sentido de assegurar o respeito à identidade, integridade e dignidade étnica e humana da população afro-brasileira. Trabalha com fóruns, cursos, pesquisas, exposições, publicações, memória e patrimônio
SOBRE O PARTIU

O Partiu! – Plano de Arte e Intervenção Urbana promove intervenções culturais e sociais na Zona Portuária do Rio, tendo os ODS como diretrizes. O objetivo é  promover conscientização e valorização do entorno, quebrar paradigmas e auxiliar na reurbanização dessa região da cidade

MAIS INFORMAÇÕES 

Julio Menezes Silva | redes@ipeafro.org.br | +55 21 2509.2176
Duda Mattar |  
oprojetopartiu@gmail.com | + 55 21 98151-1580


quarta-feira, 16 de outubro de 2019

HÁ 53 ANOS ERA FUNDADO O GRUPO PANTERAS NEGRAS NO ESTADOS UNIDOS- PARTE 1


Fonte:R 7Edição Adilson Gonçalves
Há 53 anos, mais precisamente no dia 15 de outubro de 1966, era fundado nos Estados Unidos da América o Partido dos Panteras Negras (em inglês, Black Panther Party ou BPP), originalmente denominado Partido Pantera Negra para Auto-defesa (em inglês, Black Panther Party for Self-Defense Pantera Negra. Eles foram um dos movimentos mais radicais que já existiu nos Estados Unidos. O objetivo era lutar contra o preconceito racial nos EUA durante o século XX e dar voz aos negros; eles lutavam ainda contra a violência sofrida pelos negros e sua exploração pelos capitalistas. Por conta da perseguições policiais, o PNs passaram a defender a resistência armada. Esse movimento foi formado na década de 1960 por Huey Newton e Bobby Seale, na cidade de Oakland, na Califórnia. Inicialmente, o grupo foi criado para a autodefesa. Porém, logo após o grupo começou a adotar ideias marxistas. Até porque, eles queriam lutar contra a exploração dos negros no meio capitalista, ligavam os princípios marxistas de divisão de classes burguesa e de trabalhadora com a luta racial. Na avaliação deles, a mão de obra escrava era a principal formadora de riqueza nos Estados Unidos, um país capitalista.
Vale destacar ainda que eles se viam como uma vanguarda na luta do movimento negro estadunidense, por conta das posições políticas defendidas por Mao Tsé-tung em seu Livro Vermelho. Eles diferenciavam-se das ações pacifistas de Martin Luther King e do caráter religioso islâmico dado à luta dos negros por Malcom X. Como já foi dito, defendiam ainda o armamento das comunidades negras. E isso, só ocorreu por conta dos constantes atos de violência e brutalidade policial a que foram submetidos cotidianamente. Tanto é que já ocorreram inúmeros confrontos armados entre Panteras Negras e Policiais. Inclusive, um dos idealizadores do movimento, o Huey Newton, em 1967 havia sido preso por matar um policial em Oakland. Porém, esse caso gerou ainda mais motivos para os panteras Negras se rebelarem. Até porque, eles contestatavam o fato de os negros serem sempre julgados por pessoas brancas. Ou seja, eles queriam que negros compusessem o júri pelo qual seriam julgados.
 Com essa radicalização das ações, no final da década de 60, os Panteras Negras se fortaleceram e popularizaram ainda mais. Tanto é que tiveram mais de 2 mil membros e escritórios nas principais cidades do país. Com o crescimento do partido, foi intensificada a perseguição do FBI ao partido.  J. Edgar Hoover, o chefe do FBI da época, chegou a apontar os Panteras Negras como a principal ameaça à segurança interna dos EUA. Até porque, entre 1966 e 1970 pelo menos 15 policiais e 34  integrantes fod panteras negras morreram em conflitos urbanos. (continua amanhã)

SECCIONAL DA OAB BAHIA INAUGURA BUSTO DE LUIZ DA GAMA, PRINCIPAL REFERÊNCIA NA LUTA CONTRA A ESCRAVIDÃO NO BRASIL


 Fonte:OAB Bahia Fotos: Agelino de Jesus
 Edição: Adilson Gonçalves
Em um dia marcado pelo reconhecimento aos serviços prestados à advocacia brasileira, a OAB-BA inaugurou em sua sede o busto de Luiz Gama, primeiro advogado negro da Bahia e principal referência na luta pela abolição. Estima-se que ele tenha libertado nos tribunais da época cerca de 500 homens e mulheres negros da escravidão.
A cerimônia aconteceu na sexta-feira (4) e contou com as presenças da Diretoria seccional, da presidente da Comissão Nacional de Promoção da Igualdade da OAB, Silvia Cerqueira, do presidente da Comissão Nacional da Verdade da Escravidão Negra no Brasil da OAB, Humberto Adami, do vice-presidente nacional da OAB, Luiz Viana Queiroz, dos parlamentares Sílvio Humberto e Olívia Santana, dentre outras personalidades do meio jurídico e representantes do movimento negro. No mesmo dia, tomou posse a Comissão Especial de Promoção da Igualdade Racial, presidida pela advogada Dandara Pinho.
O presidente da OAB-BA, Fabrício Castro, definiu Luiz Gama como um gigante
da advocacia brasileira e frisou que conhecer a sua história é algo de extrema importância. "Nós precisamos conhecer melhor essa figura porque essa, sem dúvida, é uma história que serve de inspiração para muitas das nossas lutas", afirmou. 
O advogado Sérgio São Bernardo destacou que mais do que um advogado Luiz Gama atuou como um exímio jurista autor de diversas teses. "É dele que sai o fundamento de que se não era mais permitido traficar escravos, todos os homens e mulheres negras não deveriam ser trancafiados e escravizados. Foi com essas ideias que ele libertou mais de 500 pessoas da escravidão", disse.
Para Silvia Cerqueira, a homenagem prestada pela OAB-BA foi um marco na advocacia brasileira e baiana. Ela destacou que Luiz Gama deixou um legado extraordinário para a classe, sobretudo para aqueles que advogam para os mais necessitados. 
"A OAB-BA tem uma história muito importante desde a gestão de Luiz Viana, quando defendemos as cotas junto ao Conselho Federal, e hoje ela se perpetua e se consagra na gestão do presidente Fabrício ao inaugurar o busto de Luiz Gama", afirmou.
Humberto Adami lembrou que desde que o Conselho Federal registrou a homenagem a Luiz Gama reconhecendo ele como advogado, diversas seccionais da Ordem vem fazendo isso ao longo do país. "Hoje, Luiz Gama e Esperança Garcia são os dois principais nomes trabalhados pela Comissão Nacional da Verdade da Escravidão, que já está presente em 17 seccionais", frisou.
Redescobrindo a história
Ex-presidente da OAB-BA e atual vice-presidente do CFOAB, Luiz Viana contou que o busto de Luiz Gama começou a ser feito ainda na gestão passada. Ele lembrou também que desde 2013 a Seccional vem trabalhando para resgatar o legado dos advogados e advogadas que prestaram excelentes serviços à cidadania, mas que ficaram apagados da história.
"Na entrada da OAB-BA estão os advogados que advogaram para os presos políticos, temos o busto de Montezuma, o primeiro presidente do IAB, e hoje estamos colocando Luiz Gama aqui, para que a gente possa dizer o que significa  essas figuras estarem conosco", pontuou. 
Luiz Viana disse ainda que nesse momento tão complicado do país a OAB sabe no que acredita e para onde quer ir. "Não vamos aceitar aqueles que, por não entenderem o humanismo, querem impedir a gente de ser aquilo que somos. Eu quero estar junto da luta de todos, não quero ser dono da luta de ninguém, mas quero estar lado a lado de vocês".
Sobre o homenageado

Nascido em Salvador, no dia 21 de junho de 1830, Luís Gonzaga Pinto da Gama foi um rábula, orador, jornalista, escritor e o Patrono da Abolição da Escravidão do Brasil. Filho de mãe negra livre e pai branco, foi feito escravo aos 10 anos, após ser vendido pelo pai, e permaneceu analfabeto até os 17 anos. 
Luiz Gama conquistou judicialmente a própria liberdade e passou a atuar na advocacia em prol dos cativos e, aos 29 anos, já era considerado o maior abolicionista brasileiro. Ele foi um dos raros intelectuais negros no Brasil escravocrata do século XIX. Luiz Gama pautou sua vida na defesa da liberdade, da República e foi um ativo opositor da monarquia.
Posse da Comissão
Emocionada em seu discurso de posse, a presidente da Comissão Especial de Promoção da Igualdade Racial, Dandara Lucas Pinho, agradeceu a todos o integrantes do grupo de trabalho e à Diretoria da OAB-BA pelo apoio que tem sido dado à luta em defesa da igualdade racial. Ela fez questão destacar que essa luta deve seguir em frente sempre.


terça-feira, 15 de outubro de 2019

CONFRONTO ENTRE FLUMINENSE E BAHIA NO MARACANÃ REPRESENTA MARCO NO FUTEBOL BRASILEIRO, COM DOIS TÉCNICOS NEGROS À BEIRA DO GRAMADO


Fonte: Terra/ Edição: Adilson Gonçalves
Apesar da derrota por 2 a 0 como visitante frente ao Fluminense no Rio de Janeiro, o técnico Roger Machado deu declarações dignas de um verdadeiro vencedor não apenas dentro das quatro linhas, mas também fora delas abordando um assunto de interesse social como o racismo no Brasil.
Participando da campanha de conscientização realizada pelo Observatório da Discriminação Racial no Futebol que frisou o fato de que apenas Roger e Marcão são técnicos negros presentes na Série A do Brasileirão, o comandante do Esquadrão de Aço foi taxativo ao explanar que o fato dos dois serem os únicos negros chamar tanto a atenção é uma clara demonstração da existência do problema:
- Com relação à campanha, não deveria chamar atenção ter repercussão grande dois treinadores negros na área técnica, depois de ser protagonistas dentro do campo. Essa é a prova que existe o preconceito, porque é algo que chama atenção. A medida que a gente tenha mais de 50% da população negra e a proporcionalidade não é igual. A gente tem que refletir e se questionar. Se não é há preconceito no Brasil, por que os negros têm o nível de escolaridade menor
que o dos brancos? Por que a população carcerária, 70% dela é negra? Por que quem morre são os jovens negros no Brasil? Por que os menores salários, entre negros e brancos, são para os negros? Entre as mulheres negras e brancas, são para as negras? Por que que, entre as mulheres, quem mais morre são as mulheres negras? Há diversos tipos de preconceito. Nas conquistas pelas mulheres, por exemplo, hoje nós vemos mulheres no esporte, como você, mas quantas mulheres negras têm comentando esporte? Nós temos que nos perguntar. Se não há preconceito, qual a resposta? Para mim, nós vivemos um preconceito estrutural, institucionalizado- Quando eu respondo para as pessoas dizendo que eu não sofri preconceito diretamente, a ofensa, a injúria, ela é só o sintoma dessa grande causa social que nós temos. Porque a responsabilidade é de todos nós, mas a culpa desse atraso, depois de 388 anos de escravidão, é do Estado, porque é através dele que as políticas públicas, que nos últimos 15 anos foram instruídas, que resgataram a autoestima dessas populações, que ao longo de muitos anos tiveram negadas essas assistências básicas, elas estão sendo retiradas nesse momento. Na verdade, esses casos que vêm aumentado agora, de aumento de feminicídio, homofobia, os casos diretos de preconceito racial, é o sintoma. Porque a estrutura social, ela é racista. Ela sempre foi racista - agregou Roger.
A abordagem do tema, na análise de Roger Machado, é algo que não passa pelo campo do opcional, mas sim como algo obrigatório para não transmitir a ideia de que o problema não existe:
- A gente precisa falar sobre isso. Precisamos sair da fase da negação. Nós negamos. "Ah, não fala sobre isso". Porque não existe racismo no Brasil em cima do mito da democracia racial. Negar e silenciar é confirmar o racismo. Minha posição como negro na elite do futebol, é para confirmar isso. O maior preconceito que eu senti não foi de injúria. Eu sinto que há racismo quando eu vou no restaurante e só tem eu de negro. Na faculdade que eu fiz, só tinha eu de negro. Isso é a prova para mim. Mas, mesmo assim, rapidamente, quando a gente fala isso, ainda tentam dizer: "Não há racismo, está vendo? Vocês está aqui". Não, eu sou a prova de que há racismo porque eu estou aqui.