quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

Da estratégia de caramujo de Machado de Assis ao racismo estrutural: black money e a imprensa de resistência

 Texto: Fabrício César de Oliveira Fonte: Observatório de Imprensa
Edição: Adilson Gonçalves
A técnica jornalística, a atitude e a escrita de Machado de Assis são reconhecidas por todos da área, mas poucos sabem de sua “estratégia de caramujo” enquanto homem negro em uma sociedade sem democracia racial. O trabalho de tipógrafo, revisor, crítico teatral e cronista nos jornais do século XIX deram a Joaquim Maria Machado de Assis segurança e tempo para exercer o que mais gostava: escrever com criticidade. No entanto, tudo isso não apaga sua origem negra (pai e avós paternos), sua negritude e sua luta antirracismo. Sendo o modo como escreve, o lugar de onde fotografa com palavras a realidade (realismo machadiano) e a escolha estratégica de vida as fontes de toda sua genialidade. Tal genialidade não é a que devemos cobrar dos nossos jornalistas atuais, porém não podemos tolerar deles, ainda mais de homens brancos, atitudes racistas como a do âncora do Bom Dia São Paulo, Rodrigo Bocardi, na última sexta feira (07).
A “estratégia de caramujo” – adotada e declarada, aos leitores atentos, em uma crônica da semana de 13 de maio de 1893 (cinco anos depois da abolição da escravatura) – mostra um escritor negro que escolhe andar pelas frestas, pelas ambiguidades das relações sociais da burguesia brasileira; e não mudou muito o modo como o racismo no Brasil é velado, mas existente. Machado de Assis escolhe ser “o mais encolhido dos caramujos” (como retratam os críticos Eduardo de Assis Duarte e Lilia Moritz Schwarcz, em seus respectivos estudos), pois, em sociedades pré-abolição e pós-abolição vividas pelo “bruxo do Cosme Velho”, a estratégia de escrever sobre a podridão burguesa por dentro da própria burguesia é marca de um gênio que criou representações como Brás Cubas, Bentinho, Capitu, o agregado José Dias, Rubião, Quincas Borba, Cândido Neves, Tia Mônica, os Pádua, entre outros tantos personagens de uma época mergulhada em uma ideologia de consumo burguês, eurocêntrico e branco.
Machado denunciava o sistema de dentro. A “estratégia de caramujo” de Machado é, portanto, uma singularidade de um gênio produzida por nossas maiores chagas: a escravidão e o racismo, velado ou não. Contudo, Joaquim Maria não se dobraria ao ambiente, mas sim criaria uma casca, um casulo protetor, como o de um caramujo, de onde poderia mover-se lentamente, por letras, por palavras, poderia fazer suas críticas, deixando um rastro no chão, quase imperceptível para quem tinha olhos distraídos; mas bastaria olhar mais de fora, por uma espécie de exotopia, para ver claramente a estratégia de um “bruxo caramujo” e seu rastro, como podemos agora ver, ler e nos deliciar. Logo, a “estratégia de caramujo” declarada pelo autor foi seu modo de denunciar o racismo em suas entranhas mais perversas, inconscientes e veladas. Racismo tão agudo e estrutural que tentou embranquecê-lo em fotos em campanhas publicitárias e em livros, ao longo das décadas. A “estratégia de caramujo” é, portanto, mais uma forma de denúncia machadiana à podridão burguesa e, principalmente, ao racismo.
Passados mais de 110 anos da morte (1908) do mestre e escritor negro, Machado de Assis, e mais de 130 anos da abolição da escravatura (1888), o racismo ainda é nossa maior marca de desigualdade na sociedade mais desigual do mundo, segundo último relatório do PNUD/ONU de 2019. Embora sejamos, 54% da população, movimentemos mais de R$ 1,71 trilhões anualmente e sejamos 51% dos empreendedores, 75% dos negros estão nos 10% mais pobres e ainda é gritante a diferença média de 40% a menos no salário dos negros em relação aos brancos; além disso, a cada 23 minutos um negro é assassinado no país, em uma proporção quase quatro vezes maior do que o risco corrido pelos brancos. Mais assustador ainda é saber que 80% dos mortos por policiais no Rio de Janeiro, em 2019, eram nossos negros. São dados de um sintoma, são dados de uma patologia social vinculada à desigualdade: o racismo estrutural.
Não é preciso ir muito longe no tempo e no espaço para termos outro exemplo de racismo estrutural. Rodrigo Bocardi, jornalista da Globo, ao se justificar no Twitter, na sexta-feira (07), dizendo que alguém com a origem dele não pode ser racista, dá abertura para que o próprio autoelogio seja uma atitude racista: “Alguém como eu não pode ter preconceito. Eu não tenho. Nunca tive. Nunca terei”.
Mas o que houve para o apresentador ir até o Twitter? Na sexta, em reportagem sobre mobilidade urbana, um dos maiores problemas da cidade de São Paulo, um jovem negro com camiseta esportiva de um clube de elite foi entrevistado pelo repórter de rua da Globo. Na tentativa de fazer um diálogo amistoso entre o estúdio e o entrevistado, o âncora fez uma indagação fora do contexto da reportagem, perguntando se ele era pegador de bolinhas no Clube Pinheiros. Uma pergunta impregnada de senso comum e estereotipagem. A resposta do jovem Leonel, negro entrevistado, foi um misto de desapontamento e assertividade no olhar e na voz: “Não, não, não. Sou atleta do Pinheiros. Jogo polo aquático”. Depois disso e da desconstrução do estereótipo contido na pergunta do âncora, veio uma enxurrada de críticas ao apresentador, ao vivo e pelas mensagens das redes interativas. A saída encontrada pelo jornalista, branco, foi dada no Twitter. Muitos veem preconceito na pergunta de Bocardi; outros, nem tanto. Mas o que não se pode negar é a existência do racismo, nem se pode dizer de forma categórica, dogmática e axiomática que “Nunca tive. Nunca terei (atitude preconceituosa)”, pois afirmar de tal forma já é um ato de falta de um questionamento mais profundo, histórico e honesto.
Por outro lado: as saídas, a inclusão e o jornalismo preto
Não vivemos mais nos tempos machadianos: o jornalismo mudou, pois a sociedade está em transformação. As denúncias que outrora eram veladas, em invólucros de escritor caramujo, agora estão mais evidentes, pois é assim que revelamos os sintomas e podemos tratá-los coletivamente. Não escondendo a ferida, que poderá virar tumor, mas pedindo ajuda ou mesmo apontando o dedo para ela. Está sendo assim que o jornalismo dessa segunda década do século XXI no Brasil vem se manifestando: pela voz de quem tem sua singularidade e existência colocadas em xeque por questões patológicas e pseudocientíficas ainda do século XIX. Está sendo assim que o jornalismo preto vem cada vez mais aparecendo (e deve), seja no Alma Preta Jornalismo e no Letra Preta, da revista piauí, ou por influências fortes de grupos de estudos nas universidades, como o Geledés, organizado e coordenado por mulheres negras, como a filósofa e doutora em educação Sueli Carneiro, ou por forte atuação de grupos, hubs e startups como o Black Money, fundado em 2017, que tem na liderança uma brasileira negra, chamada Nina Silva, eleita pela revista Forbes uma das mulheres mais poderosas do Brasil e que ficou entre as 100 figuras afrodescendentes mais influentes com menos de 40 anos no ranking da Most Influential People of Africa Descent, instituição ligada à Organização das Nações Unidas (ONU). O Black Money prioriza o consumo entre os negros fazendo circular capital entre eles; a ideia é dar autonomia à comunidade negra na era digital e fortalecer o ecossistema de negócios geridos por essa população. É esta, portanto, a ideia mais objetiva, segundo alguns articuladores, de enfrentamento ao racismo estrutural no Brasil, pois ataca a raiz do problema: o capital burguês, que aos poucos vai ganhando cor, melanina e aspectos de democracia, realmente liberal e racial. Une, portanto, a luta contra o racismo a uma luta de inclusão ao sistema.
Machado de Assis não errou em nada. Não podemos acusá-lo, anacronicamente, de não ter feito jornalismo preto nem abolicionista; por isso, não errou. Fez de seu modo uma denúncia antirracista e profundamente antissistêmica. Exímio que era, mostrou-nos, e mostra sempre, quais os problemas da alma burguesa, quais seus defeitos, sua podridão de comportamento, suas patologias e jogos sociais. Mostrou-nos como um caramujo-escritor, deixando o rastro na terra, deixando o rastro em palavras e crítica, fez seu sinal de alertar sobre a sociedade que se apoia em pseudociências (como o racismo). Genial, Machado ironizou seu tempo e os modos de vida que o circundavam. Em outra perspectiva, o Black Money nos mostra como usar de estratégias do sistema os modos de modificar o próprio sistema pela inclusão do negro. É uma saída. Uma outra saída. Antirracista, mas não antissistêmica.
Mais de um século depois, não há como ser jornalista, escritor, brasileiro, da mesma forma, sem denunciar e sem ler os rastros que o “bruxo do Cosme Velho” tanto fez questão que nós lêssemos com o passar do tempo. E nem há saída à sociedade sem jornalismo preto e a força de movimentos como o Black Money. Muito menos há como seguir fazendo jornalismo, sendo homem branco, sem sair do seu lugar de privilégio ou sequer parar para se desculpar com os que ofendeu, como ainda não fez Rodrigo Bocardi na TV, embora já tenha pedido desculpas para o público seleto e mais crítico do Twitter. É hora da escuta! Foi-se o tempo da “estratégia de caramujo”, mas sempre será tempo de Machado de Assis!

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

STJ SUSPENDE LIMINAR E SÉRGIO CAMARGO RETORNA À PRESIDÊNCIA DA FUNDAÇÃO PALMARES

 Fonte: O  Globo Edição: Adilson Gonçalves
BRASÍLIA — O presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), João Otávio de Noronha, derrubou nesta quarta-feira decisão que suspendeu a nomeação de Sérgio Camargo para a presidência da Fundação Palmares. Noronha acatou um recurso da Advocacia-Geral da União (AGU). Com a decisão, a expectativa é a de que Camargo seja imediatamente reconduzido ao cargo. Procurada por meio de sua assessoria, a nova secretária especial da Cultura, Regina Duarte, respondeu apenas que "decisão judicial cumpre-se".
“Caiu a liminar que me afastou da Fundação Cultural Palmares. Serei reconduzido ao cargo. Grande dia”, postou Camargo nas redes sociais.
Ex-aliada: Demitida por Regina Duarte, reverenda Jane tentou emplacar presidente afastado da Fundação Palmares
Ele foi nomeado pelo ex-secretário da Cultura Roberto Alvim. Em dezembro, a Justiça do Ceará acatou uma ação civil que pedia a suspensão de Camargo.
A decisão foi tomada a pedido do advogado Hélio de Sousa Costa, em uma ação popular. Segundo ele, houve desvirtuamento na nomeação, porque as declarações de Camargo nas redes sociais seriam incompatíveis com o papel do órgão para o qual foi escolhido.
O juiz concordou que houve “excessos” nas postagens de Camargo em redes sociais. Guerra fez um resumo das declarações – que, para ele, contém termos “em frontal ataque as minorias cuja defesa, diga-se, é razão de existir da instituição que por ele é presidida”.
Entre as postagens listadas no processo, Camargo se referiu à ativista americana Angela Davis como “comunista e mocreia assustadora”. Também declarou que nada ter a ver com “a África, seus costumes e religião”. Sugeriu entrega de medalha a “branco que meter um preto militante na cadeia por crime de racismo”. Disse que “é preciso que Mariele morra. Só assim ela deixará de encher o saco”. E, por fim, afirmou que “Se você é africano e acha que o Brasil é racista, a porta da rua é serventia da casa”. Os comentários foram revelados pelo GLOBO.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

OAB E FEDERAÇÃO DE FUTEBOL DO MATO GROSSO INICIAM CAMPANHA CONTRA O RACISMO E HOMOFOBIA NO CAMPEONATO MATOGROSSENSE

Fonte: O Bom da Notícia Edição: Adilson Gonçalves
O Campeonato Matogrossense Martinello Sicredi 2020 chegou a mais uma rodada neste final de semana com um novo reforço: a parceria entre a Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Mato Grosso (OAB-MT) e a Federação Matogrossense de Futebol (FMF) para conscientizar os torcedores a entrar em campo na disputa contra o racismo e a homofobia dentro e fora dos estádios.
Uma das grandes paixões brasileiras, o futebol mexe com as emoções do torcedor que, entre músicas e xingamentos, vibra com cada lance do seu time. Mas, para ver o clube do coração levar a melhor, é indispensável respeitar as regras e a lei.
Criticar o árbitro, os jogadores e torcedores adversários com ofensas às suas características étnico-raciais, de orientação sexual ou de identidade de gênero, além de poder custar três pontos ao time, constituem crime.
“Não existe mais espaço na sociedade para tolerar qualquer tipo de discriminação. Injúria racial, racismo, homotransfobia são crimes e, dentro dos estádios não pode ser diferente, pelo contrário, um espaço onde devemos desfrutar de bons momentos com nossos filhos e torcer pelo time do coração deve ser cercado pelo respeito”, destacou o presidente da OAB-MT, Leonardo Campos.
Por meio de suas comissões da Diversidade Sexual, de Defesa da Igualdade Racial e de Esportes, a OAB-MT se coloca como aliada da sociedade para combater o racismo e a homotransfobia.
“Essa é uma campanha extremamente importante, futebol é entretenimento, local para receber famílias, e não podemos ver qualquer tipo de discriminação dentro dos estádios”, ressaltou o presidente da FMF, Aron Dresch.
Em 2019, foram registradas em Mato Grosso 139 ocorrências com motivação homofóbica e 169 relacionadas a racismo, preconceito e discriminação racial, conforme os dados da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp).
“Estes são números que não podemos ver crescer no Estado e, muito menos, nos estádios. O que o mato-grossense merece ver são números cada vez maiores de gols e belas defesas”, finalizou Leonardo Campos.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

CPI DOS INCÊNDIOS DA ALERJ VAI CONVOCAR PRESIDENTE DO FLAMENGO PARA DAR ESCLARECIMENTOS SOBRE TRAGÉDIA NO CLUBE


Fonte: Alerj Edição: Adilson Gonçalves
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) que investiga os recorrentes incêndios no Estado vai convocar o presidente do Clube de Regatas do Flamengo, Rodolfo Landim, para prestar esclarecimentos ao grupo sobre o incêndio do Ninho de Urubu, que há um ano vitimou 10 atletas da base do time. Segundo o presidente da CPI, deputado Alexandre Knoploch (PSL), caso o presidente não compareça ou não envie como representante o vice-presidente jurídico do clube, Rodrigo Dunshee – o novo encontro já está marcado para o dia 14/02 -, Landim poderá ser conduzido coercitivamente. A deliberação aconteceu nesta sexta-feira (07/02) durante reunião da CPI que teve quase seis horas de duração.
Knoploch afirmou que também será convocado, com possibilidade de condução coercitiva, o ex-vice-presidente de patrimônio Alexandre Wrobel. Tanto Wrobel quanto Landim foram convidados a participar da reunião desta sexta-feira, mas não compareceram. "Se eles não estiverem presentes ao primeiro minuto da próxima reunião, serão alvos de condução coercitiva imediata pela Polícia Civil. Estamos cumprindo o que determina a justiça. Primeiro convidamos esses dirigentes, agora eles serão convocados. Esperamos não ter que usar a condução coercitiva, já que o advogado do Flamengo informou que eles virão à reunião", afirmou o parlamentar.

Famílias das vítimas

Após um ano do incêndio no alojamento das divisões de base do Flamengo,
onde 10 meninos morreram e três ficaram feridos, familiares e advogados das vítimas presentes à reunião reclamaram da falta de acolhimento por parte do Flamengo. O clube chegou a acordos de indenização com apenas três famílias. Segundo Wedson Candido de Matos, pai de Pablo Henrique – uma das vítimas -, ele ficou sabendo da tragédia pela mídia e o clube não prestou nenhuma tipo de atendimento. "Nesse um ano não tivemos quase nenhum contato com o Flamengo. Total desprezo. O Flamengo nos abandonou. Não procura, não conversa. Não tive atendimento psicológico, não tive nenhum tipo de atenção. Apenas pagam a pensão, que é a conta de comprar os remédios que eu e minha esposa passamos a tomar depois da tragédia”, revelou Wedson.
Advogada da família de Pablo Henrique, Mariju Maciel disse que o que se pede é acolhimento e carinho. "Ainda não tivemos acesso aos autos do processo e estamos há um ano enfrentando o descaso. O que queremos é ouvir do Flamengo 'desculpa por ter colocado seu filho para dormir num container de alta combustão'. O Flamengo só me procurou uma vez estipulando um teto de indenização e não querendo dialogar. Todas as famílias tinham aceitado o acordo feito em conjunto pelo Ministério Público, Ministério Público do Trabalho e Defensoria Pública. O clube é que não aceitou e preferiu tratar com cada família individualmente", disse.
Segundo Mariju, a família de Pablo veio de Minhas Gerais para a reunião e pediu, por e-mail, ao clube a liberação para visitar o Ninho do Urubu na manhã deste sábado (08/02), quando completa exatamente um ano da tragédia, para colocar uma vela onde o adolescente morreu. Inicialmente a diretoria do Flamengo havia negado o pedido, informando que o time principal se concentraria para o jogo contra o Madureira pelo Campeonato Carioca. No entanto, durante a reunião, o CEO do clube, Reinaldo Belotti, chegou a um consenso e as famílias poderão visitar o CT sem a presença da imprensa.
O vice-presidente da CPI, deputado Rodrigo Amorim (PSL), disse que o
Flamengo está fugindo do debate. "A instituição usa a sua força para intimidar. Se nós parlamentares estamos enfrentando dificuldades em dialogar, imagina como está sendo para essas famílias", questionou Amorim. Representando a família do Jorge Eduardo, a advogada Paula Wolf, argumentou que o clube trata os advogados dos parentes das vítimas como entraves. "O Flamengo age como se as famílias não tivessem direitos. O presidente Landim diz que nós estamos atrapalhando as negociações, mas o clube não procura essas pessoas", lamentou.
Posição do Flamengo
O advogado do Flamengo, Willian Oliveira, pediu desculpas aos familiares presentes e disse que após o incêndio, o clube realizou todos os procedimentos legais para que o Centro de Treinamento (CT) pudesse voltar a funcionar. A nova gestão, segundo ele, constituiu um diretor para cuidar do CT. Com mais de três horas de reunião da CPI em andamento, o ex-presidente do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello, e o atual CEO do clube Belotti chegaram à Alerj.
Segundo Bandeira de Mello, único dirigente do clube indiciado inicialmente pela polícia, sua gestão havia acabado em 2018 e ele não era mais presidente do Flamengo em fevereiro de 2019. Ele negou todas as acusações e disse que não tinha acesso às informações de manutenção dos equipamentos e nem sobre as licenças e alvarás do Corpo de Bombeiros e da prefeitura. "Essas questões não chegam diretamente ao presidente do clube. Só soube dos problemas de alvará, das licenças e do pedido de interdição do CT pela prefeitura através da mídia e depois do incêndio", declarou. "Agora eu sou um torcedor. Fiquei seis anos na presidência e melhoramos todo o patrimônio e as finanças do clube. Quando eu sai de lá todos estavam vivos e com saúde", finalizou.
Já o CEO Belotti afirmou que o incêndio pode ter sido causado por possíveis problemas elétricos devido às chuvas que caíram na cidade do Rio dois dias antes da tragédia. "Foi uma das maiores tempestades registradas no ano passado. Soubemos de relatos de quedas de energia no CT, além de um ar-condicionado ter parado de funcionar. Esclareço que o aparelho foi reparado e não foi o mesmo que causou o incêndio. Além disso, os jovens estavam eufóricos com um treino e há relatos de que foram dormir mais tarde naquele dia, o que pode ter dificultado a saída deles do alojamento", disse.
Ele assegurou, ainda, que no Flamengo está tomando todas as providências possíveis. “Oferecemos ajuda e apoio médico aos 16 atletas sobreviventes, como auxílio psicológico. Quanto às vítimas fatais, sabemos que nenhum valor indenizatório vai ser o suficiente devido à perda dos jovens. Mas já fizemos acordo com três famílias e tem outro caso em que os país da vítima eram separados e um dos parentes também já aceitou um acordo com o clube", concluiu.
Participaram também da reunião da CPI os deputados Jorge Felippe Neto (PSD) e Renata Souza (PSOL)