Texto e edição:Adilson Gonçalves
O nome oficial é Restaurante e Bar Amarelinho, mas na
tarde/noite daquela sexta feira, dia 28
de dezembro, o nome daquele estabelecimento bem que poderia ser denominado de
Pretinho. É que quase 200 integrantes do movimento negro do Rio de Janeiro
reuniram-se em uma confraternização de final de ano.
Figuras emblemáticas e icônicas do movimento negro, como Ruth Pinheiro, Yedo Ferreira, Nancy Rosa, Djalma Santos, José Luis Germano, Lydia Garcia, Edimé Tibeiro, Ras Adauto entre outros, estiveram presentes, além, e claro, de dois dos seus fundadores: Paulo Roberto Santos e Carlos Alberto Medeiros.
O evento é realizado há quase 40 anos, sempre no Amarelinho, na Cinelândia, tradicional área boêmia do Centro do Rio. Embora hoje tenha o nome oficial de Ocupação Amarelinho: Encontro Anual de Amigos e Militantes do Movimento Negro do Estado do Rio Janeiro, nem sempre foi assim e é Carlos Alberto Medeiros quem explica:
- Na verdade, começamos com uma grande gozação. Eram cerca de sete homens que fundaram a Sociedade Ereta Ogbony. Conversávamos sobre tudo: mulheres, rumos e estratégias do movimento negro, situação politica, enfim vários assuntos, mas não éramos e nem somos machistas ou misógenos. - enfatiza.
No entanto, Nancy Rosa de Azeredo, promotora cultural, ex-presidente cultural do Clube Renascença, alfineta:
- Eram machistas sim. Era um clube do Bolinha. O evento somente tomou esta proporção, a de lotar o Amarelinho, quando as mulheres começaram a participar, há cerca de dois ou três anos. Acho isso importante, para que eles compreendam a força que têm as mulheres- enfatizou Nancy, apoiada por Ruth Pinheiro.
Para Yedo Ferreira, de 86 anos, referência e reverenciado pelo unanimimente pelos integrantes do Movimento Negro a reunião serve como elo entre as várias gerações do movimento negro:
Yedo Ferreira e Adauto Rass *Foto Zezinho Andrade |
Mas mesmo em meio à confraternização, não faltam os momentos de reflexão e de protestos. Medeiros analisa o aumento de casos de racismo, ocorridos, principalmente em Minas Gerais:
- Acho que muita gente vai achar estranho o que acho, mas considero isto positivo, pois estas pessoas estão tirando as máscaras. Em relação aos últimos anos obtivemos vários avanços. Hoje temos negros capacitados ocupando cargos chaves em grandes empresas, que compreenderam que quando elas excluem uma pessoa por questão de raça, gênero, cor ou credo religioso, elas estão perdendo talento e principalmente dinheiro, que é o que elas visam. - afirma.
Embora o clima fosse de confraternização, não foi deixados de se traçar planos para 2020. A retomada da representatividade no legislativo pelos negros, diminuída nos últimos tempos, já neste ano, de eleições municipais, foi uma delas. Afinal a luta continua, ou como escreveu Wally Salomão , "A Felicidade do negro é uma felicidade guerreira"