sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

TV GLOBO EXIBE SEU PRIMEIRO ESPECIAL DE NATAL COM ATORES E AUTORA NEGROS

Fonte: Folha de Pernanbuco Edição: Adilson Gonçalves
Pela primeira vez, o especial de Natal da Globo, exibido no dia 25 de dezembro, foi protagonizado por uma família negra e com um Papai Noel negro. "Juntos a Magia Acontece", escrito por Cleissa Regina Martins e dirigido por Maria de Médicis, conta a história de uma família cuja morte da matriarca, Neuza (Zezé Motta), às vésperas do Natal, desperta a depressão do viúvo Orlando (Milton Gonçalves) e desalinha a vida do filhos André (Fabrício Boliveira) e Vera (Camila Pitanga).

Para ocupar a cabeça, Orlando tenta arrumar um emprego como Papai Noel, mas é sistematicamente recusado pelos estabelecimentos por ser negro. Então, a neta Letícia (Gabriely Mota), 9, filha de Vera e de Jorge (Luciano Quirino), decide criar um plano para tornar Orlando o Papai Noel de seu bairro.Fabrício Boliveira afirma que o especial relata uma noite natalina com questões importantes que vão além de festa e presentes. "Eles aproveitam esse momento de mudança, de transformação, de final de ano, da representação que isso tem para algumas religiões, para poder resolver questões internas da família. Achei isso um grande apontamento sobre o Natal. Como eles resolvem a questão dessa perda da matriarca para virar o ano, para fazer com que isso seja um passo de transformação, felicidade e afeto para essa família", aponta o ator.



Ele diz ainda considera intrigantes alguns temas levantados pela autora no especial, como por exemplo a sensibilidade masculina. "Meu personagem assume que não voltou para casa nos dias entre enterro e a missa de sétimo dia da mãe porque ele não conseguia lidar com a falta dela (...) Ele diz que é fracassado porque não consegue lidar com suas sensibilidades", adianta o ator. "Eu me reconheço nesse personagem nessa questão do machismo que nos aprisiona em relação à sensibilidade, a pedir ajuda, a estar próximo do 'brother' e dar um abraço de verdade", reflete.

Aos 85 anos, o veterano Milton Gonçalves se emociona ao falar sobre seu papel e diz que este será um natal inesquecível em sua vida. Com lágrimas nos olhos, ele relata: "Quando eu era menino, não existia Papai Noel negro. Tudo o que era considerado bonito não tinha negros. Nós sentíamos muito medo e vergonha. A gente se escondia [...] Farei este Papai Noel da melhor forma que puder. Se ele fosse oriental ou índio, também estaria do lado dele. Mas como sou eu, melhor para mim, né?"

Boliveira faz coro a Gonçalves e ressalta o quanto a imagem do Papai Noel é americanizada no Brasil. "Acho bom a gente poder repensar a cor do Papai Noel ou de onde ele veio. Por que essa imagem permanece para a gente como verdade absoluta? Como a gente consome o que vem de fora? (...) Talvez eu não acreditasse em Papai Noel quando era criança porque aquela imagem não
se comunicava comigo."


Camila Pitanga, 42, diz que, durante a infância, acabou naturalizando o Papai Noel branco como única possibilidade. "Era tão dado, por todas as informações que eu tinha, do comercial, da televisão, da rua, que o Papai Noel era branco, que eu nunca me dei conta dessa outra possibilidade."

A atriz afirma ainda que o especial acorda o público para uma outra possibilidade de leitura e de manifestação da figura do Papai Noel: "Acho que vai abraçar mais pessoas". "A gente poder contar com a nossa voz, uma história que é de família, mas é de uma família preta, na noite de Natal, é muito
especial. Esse projeto tem vários sabores para mim", acrescenta.


Para Boliveira, apesar de a atração ter aberto espaço para um elenco majoritariamente negro, a representatividade na dramaturgia ainda é pouca. "Acho vergonhoso", desabafa. "Queria que chegasse o momento que eu não fosse mais chamado de ator negro, mas só de ator. Isso só vai acontecer quando a gente tiver mais atores negros trabalhando."

quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

GRANDE CORO DA VILLA-LOBOS CANTA EM CELEBRAÇÃO NATALINA NA ESCADARIA DO PALÁCIO TIRADENTES

Texto Jan Theóphilo /foto: Pedro Soares/Vill Lobos Edição: Adilson Gonçalves
Centenas de cantores irão se reunir nesta quarta-feira (18/12), às 18h, na escadaria do Palácio Tiradentes, sede da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), para uma apresentação especial em celebração ao Natal. Os integrantes do Grande Coro são todos alunos dos cursos regulares da Escola de Música Villa-Lobos (EMVL), que trará também de seu grupo mais representativo, o Madrigal do Villa. Com cerca de 30 cantores, o Madrigal fará uma participação apresentando seu repertório de cunho religioso/ritualístico de estilos, compositores e arranjadores diversos.

A direção musical da apresentação e regência é do professor e coordenador dos cursos da EMVL, Leandro S. Gregório, com preparação do repertório e orientação dos alunos pelos professores Clarisse Grova, David Monteiro, Isabela Vieira, Marcos Teixeira, Valbiana Coutinho, Wigberto Júnior e Marcel Souza. A produção é de Glaucia Sundin.
A apresentação integra a série de espetáculos que a Escola de Música Villa-Lobos (um espaço da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa / FUNARJ) vem realizando em ações culturais pela cidade com seus corais, como o Madrigal do Villa e o Coro de Câmara, fortalecendo a tradição da instituição na formação de cantores e músicos profissionais.
É uma oportunidade especial para o público conhecer, num local de importância histórica para o Rio de Janeiro, as atividades realizadas pela Escola de Música Villa-Lobos em parceria com a Assembleia Legislativa”, afirmou o presidente da Alerj, deputado André Ceciliano.
Serviço:
Grande Coro da Escola de Música Villa-Lobos
Data: 18/12
Horário: 18 horas
Local: Palácio Tiradentes – Alerj (Rua Primeiro de Março, s/n)
Obs: entrada franca

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

SOB OBSERVAÇÃO DA NAÇÃO RUBRO NEGRA, JORGE JESUS RECEBE MEDALHA TIRADENTES E DÁ SINAIS DE QUE FICARÁ NO CLUBE

Texto, Foto e edição: Adilson Gonçalves

Sob a observação da torcida rubro-negra, que espera dele a conquista do título e o anúncio de sua permanência no clube e  até mesmo da torcida adversária, que deseja ao contrário, o  técnico português Jorge Jesus foi agraciado nesta quinta feira, dia 12, na Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro- Alerj com a Medalha Tiradentes, honraria máxima de destaque, ofertada pela Casa Legislativa.
A homenagem foi uma iniciativa dos deputados Andre Cecilliano (PT),  Alexandre Knoploch (PSL) e Rodrigo Bacellar (Solidariedade).
O presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, também homenageado, o foi duplamente: além da medalha, recebeu o Titulo de Cidadão Benemérito, proposição dos deputados André Ceciliano, Marcio Pacheco (PSL) e Thiago Pampolha (PDT).
 Algum tempo antes da sessão solene, prevista para as 18 horas, as galerias
 do Plenário da Alerj mais pareciam as arquibancadas do Maracanã em dia de clássico, só que desta vez não havia time adversário. Os torcedores entoavam o cântico "olê,olê,olê,olê, Mister, Mister…”,  além dos torcedores comuns, funcionários da Casa, que ficaram além do término de seus expediente, deputados rubro negros e até mesmo outros parlamentares torcedores de outros times, marcaram presença por admiração aos homengeados e aos propositores das homenagens.
“As homenagens e manifestações que estou recebendo são muito importantes, pois mexem com o sentimental e isso irá contribuir para a minha decisão de ficar (ou não) no clube. É curioso um português estar sendo homenageado com a Medalha Tiradentes, mas isso muito me honra. Temos o Dom Pedro que proclamou a independência, e nós portugueses e brasileiros estaremos sempre ligados pela história, pelo sangue, por várias maneiras”, comentou Jesus.
 O presidente da Casa, André Ceciliano, em seu discurso exaltou a empatia simultânea de Jesus junto à Naçao Rubro Negra e seus feitos, correlatos à epópeia de seus conterrâneos navegadores, na busca de conquista obtidas na descoberta de novos mundos, reiterando ao final de sua fala, o pedido de 42 milhões de rubro-negros: que Jesus continue à frente do comando do time do Flamengo. E aí fica uma dica de marketing e de história: que tal qual como Dom Pedro I, ele anuncie o seu Dia do Fico à frente da Nação Rubro-Negra no dia 9 de janeiro de 2020, 198 anos depois do anúncio de Pedro I ?

PAIXÃO PELO FLAMENGO ARREFECE
 OS EMBATES IDEOLÓGICOS NA ALERJ

As eleições do ano passado determinaram uma renovação de 51% na Alerj e com ela,  chegou ao Palácio Tiradentes também a polarização, através, principalmente de parlamentares do PSL e Psol, partidos que assumiram o protagonismo na Casa, suplantando PMDB e PT, ocupantes anteriormente deste status. Ao longo deste ano legislativo , o primeiro para a maioria deles, não foram poucas as vezes em que parlamentares destes dois partidos quase chegaram às  vias de fato. Mas a paixão pelo
Flamengo e suas vitórias e conquistas ao longo do ano sempre apaziguaram os ânimos, afinal, dos 70 parlamentares fluminenses, 35 deles torcem pelo Flamengo , exatamente 50%. No Plenário estiveram presentes os deputados Luis Paulo (PSDB), Lucinha(PSDB), Renan Ferreirinha(PSB), Rodrigo Bacellar(SDD), 
Alexandre Knoploch (PSL) e Rodrigo Bacellar (Solidariedade),  Márcio Pacheco (PSC) e Thiago Pampolha (PDT), Rodrigo Amorim (PSL),Brazao (PL), Márcio Canella (MDB)entre outros, enfim, a direita, o centro e a esquerda, algo que somente uma nação como o Flamengo pode fazer.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

ESTUDANTE ACUSADO DE RACISMO TENTOU INGRESSAR NA UFRB ATRAVÉS DE COTAS

O estudante do curso de Ciências Sociais, Danilo Araújo de Góis, denunciado por racismo contra uma professora da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) tentou entrar na universidade através de cotas raciais. A informação foi confirmada ao G1 pela assessoria da instituição.
Segundo a UFRB, o pedido do estudante foi feito durante o vestibular de 2018.2, mas acabou indeferido. Danilo Góis, que está no 3° semestre, entrou na universidade através de um processo seletivo para vagas residuais, onde concorreu na modalidade de ampla concorrência.
A professora da UFRB Isabel Cristina Ferreira dos Reis denunciou à Polícia Civil que sofreu racismo durante a aplicação de provas, dentro do campus da instituição, na cidade de Cachoeira, na noite de segunda-feira (9). O caso é investigado. A docente entrou com um ação no Ministério Público da Bahia (MP-BA).

quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

ESTUDANTE COTISTA DE SÃO GONÇALO É APROVADA PARA FACULDADE ALEMÃ

Fonte: O São Gonçalo Edição: Adilson Gonçalves
Moradora de São Gonçalo, a estudante Evelyn dos Santos Gomes de Jesus, de 22 anos, foi admitida para fazer um intercâmbio na Universität Leipzig, que fica na Alemanha. A menina é cotista de Relações Internacionais, na Universidade Federal Fluminense (UFF), e foi aprovada para a instituição estrangeira em janeiro. Para custear as despesas, ela está promovendo uma vaquinha online.
Segundo a estudante, esta é a maior oportunidade que eu já recebeu para obter uma melhor formação acadêmica e pessoal. A universidade é uma das mais antigas da Alemanha, e é onde figuras públicas notáveis como a atual chanceler alemã, Angela Merkel, e a ex-presidente chilena, Michelle Bachelet, escolheram estudar.
“Consegui essa bolsa porque apliquei para as oportunidades de intercâmbio que a UFF disponibiliza aos alunos. Eu tentei diferentes editais para conseguir, todos na Alemanha, mas o que disponibilizou auxílio financeiro eu infelizmente não fui selecionada. Mas ainda assim consegui a vaga na universidade, mesmo sem auxílio”, contou a menina, que mora com o pai no Bairro Almerinda, mas foi criada no Engenho Pequeno, ambos em São Gonçalo.
Evelyn iniciou Relações Internacionais em 2015, na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), mas devido às despesas com passagens - que hoje seriam de aproximadamente R$342 mensalmente - precisou trancar e conseguiu transferência em 2016 para a UFF, através do Enem.
“Lembro que, na escola, fui selecionada para um coaching social vocacional, onde eu tive a certeza sobre minha paixão por estudar sobre países e suas diferentes culturas e como se dão suas relações. Em 2016, tive a oportunidade de integrar a equipe de Relações Internacionais dos voluntários nas Olimpíadas e Paraolimpíadas Rio 2016, onde auxiliamos Chefes de Estado e membros da FIFA e IAAF ao longo de todo o evento”, explicou a estudante.
‘Vaquinha online’ vai ajudar a custear estudo


As aulas de Evelyn na Alemanha iniciam em 27 de março. Porém, a jovem ainda não tem o dinheiro necessário para custear as despesas iniciais, avaliadas em quase R$16 mil. Por isso, ela resolveu fazer uma vaquinha online.
O dinheiro arrecadado será utilizado para custeio da moradia, que fica entre 200 a 250; a taxa alemã de 110, necessária para pedir permissão de residência no país; seguro saúde de 50, que todo estudante deve adquirir durante todo período de intercâmbio; e passagem de avião, que está aproximadamente R$2,5 mil.
“O valor é bem alto, mas é porque ao chegar, eu devo comprovar que tenho como me financiar durante todo o intercâmbio. Se eu não fizer isso, não tenho como ir. Eu já procuro trabalho lá de babá, mas como eu preciso chegar lá para conseguir não é algo que eu possa comprovar rendimento agora. A taxa de câmbio da moeda brasileira para o euro pra variar está muito alta, tornando as coisas ainda mais desafiadoras”, disse.
Quem quiser ajudar a estudante a fazer o intercâmbio, pode fazer doações para a conta 34036-9, agência 6895, do Banco Itaú, em nome de Evelyn dos Santos Gomes de Jesus, de CPF 123.543.037-50, ou através do link https://www.vakinha.com.br/vaquinha/moradora-goncalense-aceita-em-universidade-alema

BAILINHO DA PORTELA ESTREIA NESTA QUINTA E PROMETE SER O "FERVO" DO VERÃO NO CENTRO DO RIO DE JANEIRO

Texto: Assessoria/Edição: Adilson Gonçalves
Resistência dos tradicionais carnavais cariocas, num dos mais bonitos salões ArtDecó do Rio de Janeiro. O Bailinho da Portela surge como proposta de resgate da cultura do carnaval de salão e de preservação da vocação da Cinelândia para o enriquecimento da cena cultural da cidade. Com produção e curadoria assinada pela Pronto RJ, o Bailinho tem festa de lançamento de sua primeira temporada confirmada para o dia 12 de dezembro (quinta).
 O evento vai acontecer no final do dia, das 18h à meia noite, para se estabelecer como proposta de happy hour diferente de tudo o que se tem na cidade. O evento promete ser uma experiência original, repleta de movimento, performances e muita música brasileira.
 A noite já começa no comando de Carlinhos de Jesus, com um super aulão de gafieira carioca, preparando o público para dançar e interagir. A programação conta com mais três atos, incluindo a lavagem das baianas, a apresentação de uma Orquestra de samba conduzida pelo Nego Álvaro (concorreu ao Grammy Latino 2019), somada a participação especial de baluartes da azul e branco. O evento finaliza com a Bateria da Portela.
 O espetáculo lavagem será carregado de energia positiva, apresentado por baianas de Madureira e acompanhadas por percussionistas; além da vibração e brilho da bateria da  Tabajara do Samba, com a participação de ritmistas e passistas, trazendo a cultura indígena aos tempos atuais, temática do enredo de 2020. 
O evento elegerá o muso e a musa do evento que será apresentado por Bruno Chateubriand, Embaixador do Bailinho. O casal escolhido representará a brasilidade, a carioquice e a cultura Carnavalesca.
 - A direção do Bailinho quer trazer qualidade de programação aos cariocas. Um evento aos moldes do entretenimento peculiar ao período do Rio Antigo, com ares totalmente modernos, que vai fortalecer a importância cultural da Cinelândia e de seus grandes carnavais – comemora Carlinhos de Jesus, coreógrafo da comissão de frente da Portela.
 O Bailinho da Portela estreia no salão do Espaço Marzipan, joia da arquitetura brasileira, construído em 1940, debruçado sobre a Praça da Cinelândia e de frente para o Aterro do Flamengo, ponto mais acessível do Centro do Rio.
 A compra de ingressos poderá ser feita no local ou eletronicamente, com preços de entrada entre R$25 e R$40. A festa de lançamento contará com lista amiga, combinada pelo @bailinhodaportela ou com a produção do evento. Venda antecipada pelo site: www.sympla.com.br

Bailinho da Portela
Dia 12/12, quinta-feira, das 18h a 0h.
Bruno Tenório - (21) 99521 0017
Fabiana Amorim - (21) 97953 7120
 Espaço Marzipan
Av. Rio Branco, 251/3andar – Em frente ao Cine Odeon.
Classificação: 16 anos. 

terça-feira, 10 de dezembro de 2019

SESSÃO TEMÁTICA DOS DIREITOS HUMANOS NO SENADO CHEGA À CONCLUSÃO QUE DIREITOS DOS NEGROS ESTÃO LONGE DE SEREM CUMPRIDOS

 Fonte Senado Notícias Edição Adilson Gonçalves 
Os debatedores ouvidos na sessão temática do Dia Internacional dos Direitos Humanos, realizada nesta segunda-feira (9) no Plenário do Senado, condenaram com ênfase as violações aos direitos da população negra, cobraram o resgate da participação dos negros na História e defenderam o cumprimento pleno das políticas de cotas no ensino superior e em concursos públicos. A sessão atendeu a pedido do presidente da Comissão de Direitos Humanos (CDH), Paulo Paim (PT-RS), apoiado por outros 26 senadores.
O advogado Humberto Adami Santos Júnior, presidente da Comissão Nacional da Verdade da Escravidão Negra no Brasil da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), pediu união de esforços na luta da entidade e respeito à função da Fundação Palmares, especialmente no aspecto das demarcações de quilombos. Ele apoiou o processo de resgate histórico de personagens negros.
- Quantos heróis e heroínas da escravidão aguardam resgate? Em cada município do Brasil, há uma história que foi esquecida – opinou.
Para Santos Júnior, o Brasil jamais será nação de primeiro mundo enquanto não reparar os efeitos da escravidão. Ele entende que as ações afirmativas no Brasil estão sob ameaça, apesar de o sistema de cotas ter sido considerado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) como compatível com a Constituição.
Presidente da Associação dos Defensores Públicos do Distrito Federal (Adep-DF), Mayara Lima Tachy considera que formou-se um mito da inexistência do racismo no Brasil. Ela entende que o problema estrutural persiste na vulnerabilidade da juventude negra e na falta de representantes no poder e nos negócios.

- Não podemos fugir da ideia de que há uma interseccionalidade nisso. Especialmente atingindo as mulheres negras, que estão na parte de baixo da cadeia alimentar – lamentou.
Mayara Lima Tachy disse que o “encarceramento em massa” dos negros reflete uma estrutura de poder determinada a excluir essa população do convívio da sociedade, e propôs a inserção no mercado de trabalho por meio de cotas como forma de reverter anos de prejuízo pela escravidão.
Deise Benedito, mestre em Direito e Criminologia da Universidade de Brasília (UnB), ressaltou que na História do Brasil os africanos e indígenas sempre foram tratados como “menos humanos” e “inadequados” aos padrões europeus de sociedade, o que causou sequelas de racismo institucional e violência racial.
- A escravidão foi uma execução penal sem crime. Foi um dos piores crimes contra a humanidade: transformar pessoas em não-pessoas – declarou.
Deise criticou o projeto do pacote anticrime. Ela acredita que, se o texto entrar em vigor, acirrará a política de extermínio de jovens negros associada à falta de garantias do Estado quanto a acesso a trabalho, saúde e educação.
A defensora pública federal Viviane Ceolin Dallasta Del Grossi entende existir uma violência estrutural e desproporcional, exemplificada por ela pelos ataques sistemáticos da polícia ao “direito de reunião” e “direito ao lazer” representado pelos bailes funks em favelas. Ela citou dados da Anistia Internacional que colocam o Brasil como um dos países mais violentos do mundo, com maiores efeitos sobre a população negra, e lembrou que a Comissão Interamericana de Direitos Humanos já condenou a polícia do estado do Rio de Janeiro sem que isso tenha reduzido os índices “alarmantes” de homicídios perpetrados pelas
forças de segurança.
 - Onde falta comida, faltam os direitos procedimentais básicos – resumiu.
Makota Celinha, coordenadora nacional do Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro-Brasileira, disse que as lições destacadas pelo Dia Internacional dos Direitos Humanos ainda não foram aprendidas. Ela criticou o “sonho” do Brasil de ser um país branco e negar a escravidão e seus efeitos.
- Milhões de africanos foram escravizados e submetidos à mais vil forma de tratar um ser humano.
Celinha também criticou a conjuntura de racismo contra religiões de matriz africana, cuja generosidade e respeito à vida causariam inveja e incômodo que resultam em prepotência e atos violentos.
Diretor executivo da organização LGBTI Grupo Dignidade, Toni Reis narrou sua experiência como adotante de três crianças negras e o racismo de que seus filhos foram vítima na escola e em espaços públicos. Ele lembrou que a Declaração Universal dos Direitos Humanos afirmou a dignidade do ser humano
diante das atrocidades da guerra, mas lamentou a persistência no Brasil de elevadas estatísticas de violência contra a população LGBTI e a disseminação de fake news que os associam à promoção da pedofilia e à destruição da família.
- Não queremos destruir a família. Queremos construir a nossa, do nosso jeito e da nossa forma – explicou.
Para Ana Claudia Pereira, gerente de projetos da ONU Mulheres, a pauta dos direitos humanos deve ser articulada com a consciência sobre a situação da população negra. Ela defendeu a “discriminação positiva” na forma das cotas raciais, como meio de enfrentar a “discriminação negativa” e apoiou a coordenação internacional por termos vinculantes contra o preconceito e o racismo. Antônio Crioulo, coordenador das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), criticou negros que ocupam postos de poder mas fazem o papel do “capataz escravizador”. Segundo ele, é necessária a revisão da narrativa oficial sobre a participação dos afrodescendentes na história do país e o fim da onda de conflitos e violência envolvendo quilombos e seus líderes.
- Nunca foi fácil. Mesmo nas situações mais complicadas, nós resistimos e vamos continuar resistindo.
Reitor da Universidade Zumbi dos Palmares, José Vicente celebrou a resistência do povo negro, avaliando que a aprendizagem de direitos humanos em terras tropicais começou quando o primeiro negro escravizado pisou o solo brasileiro. Ele comemorou a vigência de normas rígidas contra o racismo, mas entende que é preciso cumpri-las para construir “um país de todos”. Vicente lamentou a elevada evasão escolar do jovem negro.
- Mais que respeitadora dessa diversidade, a escola deve ter mecanismos para manter esses jovens.
Representando o Grupo de Políticas Etnorraciais da Defensoria Pública da União, Rita Cristina de Oliveira disse que o exercício dos princípios da Declaração Universal dos Direitos Humanos acabou inviabilizado pelo poder político e econômico e deturpado por intelectuais brancos ocidentais. Ela pediu um olhar apurado para o racismo institucional, já comprovado pelas estatísticas.
- Há um pacto racista não escrito, mas que se sobrepõe a toda idealização de direitos que se dizem universais – disse.
Para Rita, os negros recebem “concessão controlada”. Ela conclamou os não-negros comprometidos com o antirracismo a ceder seus “espaços de poder”.
Maria Aparecida de Laia, presidente do Instituto de Pesquisas e Ensino Para o Desenvolvimento Social (Ipedes), também chamou a atenção para a violação aos direitos dos negros como problema central dos direitos humanos no Brasil, incluindo aspectos como violência, encarceramento, acesso à saúde, inclusão dos jovens no ensino e prática religiosa.
- Precisamos criar mais estratégias para transformar a vida da população negra – disse.
O jornalista e escritor Tom Farias, que classificou o racismo como uma decisão de Estado, destacou os negros proeminentes na sociedade brasileira no século 19 e criticou as referências a vultos históricos que são “embranquecidas” pela narrativa oficial. Deborah Duprat, procuradora federal do Direito do Cidadão, criticou a paralisação nos processos de demarcação de terras quilombolas e lembrou que a existência de numerosos quilombos refletiu uma “invisibilização” dos negros que surpreendeu mesmo os operadores do Direito.
- Passaram 31 anos da Constituição, e as terras tituladas se contam nos dedos das mãos – declarou.

Fonte: Agência Senado

VIOLA DAVIS CRITICA HOLLYWOOD POR TER COGITADO JULIA ROBERTS PARA PERSONIFICAR ABOLICIONISTA NEGRA


Fonte:hypeness Edição: Adilson Gonçalves
Saber que Julia Roberts chegou a ser cogitada para o papel da abolicionista negra Harriet Tubman deixou a atriz Viola Davis muito irritada com as práticas racistas persistentes em Hollywood.
“É simples: Julia Roberts como Harriet Tubman é ridículo. Isso quase não merece uma resposta. Isso é ridículo. Eu entendo que a indústria de filmes é sobre comércio e dinheiro, eu entendo. Mas isso é ridículo”, declarou a vencedora do ‘Oscar’ e do Emmy para a revista MadameNoire.
A notícia sobre Roberts saiu na coluna do roteirista Gregory Allen Howard no jornal Los Angeles Times. Segundo ele, o estúdio sugeriu Roberts como nome para interpretar Tubman nos cinemas. Aparentemente, os produtores do filme não sabiam que Tubman foi uma mulher negra e, quando descobriram, a ideia não foi adiante. 
Se insistissem nessa escolha para o papel a produção teria duas opções: embranquecer Harriet para o tom de pele da atriz ou escurecer Roberts, praticando black face. Ambas as alternativas são extremamente racistas. Isso sem contar que tiraria a oportunidade de uma atriz negra interpretar a figura histórica. 
De acordo com um estudo divulgado pela Universidade do Sul da Califórnia, personagens negros constituem 14% dos papéis de Hollywood, número que se equipara aos 13% de afrodescendentes da população americana.
No entanto, 17% dos filmes examinados no estudo não tinham nenhum personagem negro, e metade das obras tinha uma porcentagem menor que a da população negra. Ou seja, alguns filmes com elencos predominantemente compostos por atores afrodescendentes compensam por outros sem um sequer.
Para Viola, esta situação exemplifica a importância da representatividade em Hollywood em frente e atrás das câmeras principalmente. Se a equipe trabalhando no filme tivesse negros em sua composição, essa confusão não teria acontecido.
“É sempre preocupante que, quando as pessoas questionadas sobre raça, diversidade e inclusão são as pessoas que precisam disso e não as que estão no poder”, refletiu a atriz.
Bom, só nos resta encerrar essa notícia com uma frase da própria Viola em seu inspirador discurso no ‘Emmy’ de 2015. Ironicamente ou não, ela inicia com uma citação de Harriet Tubman, e depois é categórica. “A única coisa que separa mulheres negras de qualquer pessoa é oportunidade. Não se pode ganhar um Emmy por papéis que não existem”.
Fada sensata, né?


segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Conselheiras Tutelares de Curitiba têm mandato cassado por aparecerem em vídeo gritando ‘Lula Livre’ e ironizando Moro

Eleitas para o Conselho Tutelar de Curitiba nas eleições de 6 de outubro, duas candidatas que apareciam em listas do campo progressista tiveram seu mandato cassado após a divulgação de um vídeo feito pelas duas para amigos com menções ao ex-presidente Lula e ironias ao ex-juiz federal Sérgio Moro, que comandava a 13ª Vara Federal da capital paranaense. Aline de Castro Farias e Rosana Kloster estão recorrendo e entidades acusam o MP de perseguição política.
Reportagem da jornalista Rosiane Correia de Freitas, para o Plural, que detalha o caso, conta que as duas estão sendo acusadas de “falta de idoneidade moral” e que uma das provas usadas pelo Ministério Público e pela Rede de Instituições de Acolhimento de Curitiba e Região Metropolitana (RIA) seria um vídeo em que as duas gritam “Lula Livre” em comemoração pela vitória nas urnas no dia 6. Segundo o MP, Aline tem uma postura “agressiva e intimidadora”.
Postagens nas redes sociais que colocam as duas como “candidatas do campo progressista” e publicações de Aline falando sobre o ministro da Justiça, Sérgio Moro, também foram incluídas no processo.
A Federação Democrática das Associações de Moradores e Clubes de Mães de Curitiba (Femotiba) criticou a atuação do  Comissão Eleitoral do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de Curitiba (Comtiba). “Elas foram eleitas democraticamente e fizeram uma campanha sem serem alvo de denúncias por condutas vedadas. O fato de serem condenadas como inidôneas pelo Comtiba me parece mais uma perseguição”, declarou Cirleide Silva, presidenta da federação. O processo eleitoral dos conselhos também foi bastante criticado por conter uma série de irregularidades.
O advogado Felipe Eduardo Lopes, responsável pela defesa das duas candidatas, gravou um  vídeo comentando o processo. “As candidatas foram simplesmente diminuídas dentro da sala do julgamento por conta unicamente do vídeo. Foi desprezada a trajetória de luta, resistência, vida, sofrimento real. Essas duas mulheres sofreram muita violência ao longo da trajetória de vida delas. Elas vem de uma lugar diferente deste em que parcela da população, eu me incluo nela, vive numa bolha de segurança, carinho e amor”, declarou.

MOVIMENTO NEGRO VAI PROCESSAR SILVIO SANTOS. "PRETENDEMOS IR ÀS ÚLTIMAS CONSEQUÊNCIAS", AFIRMA FREI DAVI


O diretor da Educafro, frei David dos Santos, pretende reagir às cenas de discriminação explícita protagonizadas por Sílvio Santos em seu programa de auditório.
“Marcamos para amanhã uma reunião com nossos advogados. Veremos qual o melhor a caminho para buscar justiça nesse caso de racismo”, disse ele.
A Educafro é uma associação que luta para promover a educação e o trabalho entre os negros. Teve atuação destacada na implantação de políticas de cotas nas universidades públicas.No Programa Sílvio Santos deste domingo, a cantora Jennyfer Oliver foi interrompida por Sílvio Santos quando cantava Caneta Azul.
Foi a única das quatro competidoras que teve a interpretação interrompida pelo comentário de que a música era muito chata. Era a única negra.

“Em nenhum momento eu me fiz de vítima, mas me senti super constrangida pela situação dele ter escutado as três cantarem e quando chegou na minha vez ele me barrou”, disse, em desabafo publicado na rede social.
Mesmo assim, o público entendeu que a melhor interpretação foi a dela: recebeu 84 votos, contra oito, cinco e três das demais competidoras.
Sílvio Santos, no entanto, ignorou a escolha do público. “Se eu estivesse na minha casa, vendo o programa depois que eu ouvi esta música, Caneta Azul, na minha opinião a melhor intérprete na televisão: Juliana, você ganhou!  Você é muito bonita, você canta bem.”
O constrangimento de Jennyfer foi visível. As outras duas jovens brancas aplaudiram, Jennyfer ficou paralisada.
“O Silvio vai continuar podre rico e não vai adiantar nada ficar brigando pelo que achamos que está certo. O certo hoje é errado e o errado é certo. Vai continuar do mesmo jeito. Não adianta processar, ir atrás de direitos, porque vou ser prejudicada, nunca mais vou participar de emissora nenhuma, vou queimar meu dinheiro com advogado… Deixa pra lá. O importante é que vivo da música, trabalho honestamente e ganhei carinho do público”, disse.
“Foi racismo, sim”, entende David dos Santos, que estuda alternativas para o caso. “Não foi brincadeira do Sílvio Santos, embora o racismo cordial brasileiro ocorra muitas vezes na forma de  brincadeira. Não é. Ofende, machuca”, acrescenta.
Na semana passada, a Educafro recorreu à Defensoria Pública da União contra a nomeação de Sérgio Nascimento de Camargo, que é negro e já disse, entre outros absurdos, que a escravidão foi “benéfica para os descendentes”.
A nomeação de Sérgio Nascimento foi suspensa por decisão da Justiça no Ceará, em outra iniciativa. 
                                                 Difícil.
Desta vez, frei David cogita procurar o SBT para tentar um acordo, com a participação do Ministério Público. “É preciso garantir a presença do negro na programação da emissora. Nossa idéia é transformar um ‘inimigo’ — no caso, Sílvio Santos — em aliado.” O apresentador e dono do SBT, Sílvio Santos, já deu mostras de que, sem pressão, jamais será aliado do movimento negro ou de qualquer outro movimento social.
O público sabe.
“Vocês que me desculpem, mas o fato do Silvio Santos ser velho não justifica o motivo dele ser racista. Ele é rico e tem todas as ferramentas pra saber que isso
é errado”, escreveu um internauta.
Desde ontem à noite, o assunto é um dos mais comentados no Twitter, com quase 90 mil manifestações, a maior parte de desaprovação.
No mesmo programa, em outras oportunidade, Sílvio Santos mostrou como vê os negros, sobretudo as negras. Como um velho senhor de escravos, a pretexto de brincadeira, ele pediu que uma moça “cheia de curvas” ficasse de costas, a abraçou por trás e disse:
“Fica aqui na minha frente, já que você quer se esfregar. Meu bem, finge que eu não estou aqui.”

quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

ALERJ RECEBE DELEGAÇÃO DO CONSELHO PAN-AFRICANO PROMOÇÃO DE INTERCÂMBIO CULTURAL ENTRE PAÍSES DE MATRIZES AFRICANAS

Fonte: Ascom Alerj Edição: Adilson Gonçalves
A Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) recebeu nesta quarta-feira (04/12), os embaixadores do Conselho Pan-Africano (Pan-African Council) no Brasil, organização internacional vinculada a União Africana. Para celebrar o lançamento do primeiro escritório no país, na cidade do Rio de Janeiro, membros de países, como Caribe, Colômbia e Cabo Verde, foram recebidos pelo presidente da Casa, deputado André Ceciliano (PT), na sala da presidência.

Na ocasião, foram apresentados objetivos para promover o intercâmbio cultural entre os países junto aos povos de matrizes africanas.
Nas Américas o Conselho já possui escritórios na Colômbia, Caribe e Estados Unidos. De acordo com o presidente global do organismo, Fabien Anthony, o Brasil foi escolhido por ser estratégico e por conter o maior contingente de afrodescendentes fora de África do mundo. “O Brasil se orgulha de uma comunidade negra cada vez mais visível e emergente, e que está remodelando sua própria percepção e está se auto-reconhecendo positivamente na sua africanidade e ancestralidade”.
Ainda segundo Anthony, é muito importante trazer o grupo de vários países para que os brasileiros vejam o compromisso que o Conselho Pan-Africano tem com o Brasil e com a população afro-brasileira. “Estamos muito satisfeitos com o trabalho que estamos realizando aqui e estamos tendo muito sucesso com essa visita. Estamos muito motivados para começarmos a trabalhar juntos com nossas equipes e a legislatura no Brasil”, completou.
Além de André Ceciliano, os deputados Carlos Minc (PSB), Tia Ju (PRB) e Enfermeira Rejane (PCdoB) também participaram da reunião.

CAMPANHA BRANQUITUDE EM MOVIMENTO VISA CONTRIBUIR PARA A DIMINUIÇÃO DA DESIGUALDADE RACIAL NA MÍDIA CEARENSE

Fonte: Diário do Nordeste/Edição: Adilson Gonçalves
A história de Maria Alice é a mesma da maioria da população brasileira. Muito recente, um vídeo causou comoção nas redes sociais. As imagens mostram a menina, de apenas dois anos, assistindo ao Jornal Hoje e se reconhecendo na aparência da jornalista Maju Coutinho. A pequena piauiense aponta para a TV e fala feliz: "Esse aqui é meu cabelo".
Na última terça-feira (3) Maju teve a oportunidade de conhecer Alice durante o programa Encontro com Fátima Bernardes. Na ocasião, a âncora revelou o quanto sua infância foi marcada pela carência de representatividade na televisão. A falta de artistas e comunicadores negros a fez pensar em "alisar" o cabelo.
O caso coincide com a concretização em Fortaleza da campanha "Branquitude em Movimento". A ação esgarça o debate do racismo no mercado de Comunicação e propõe posicionamentos mais firmes dos profissionais da informação na busca por um discurso antirracista.
Ciente do quanto o racismo "é um problema dos brancos", como aponta o material de divulgação, a publicitária e doutora em Linguística Tânia Dourado lança provocação nunca antes proposta aos trabalhadores da área. A premissa é de que agências, veículos, empresas de comunicação, escolas de formação e capacitação em jornalismo, marketing, publicidade e propaganda se comprometam publicamente com a criação de discursos voltados contra o preconceito racial.
O convite é direcionado tanto às empresas responsáveis pelas peças comunicativas quanto aos clientes que contratam estes serviços. Para uma empresa poder usar o selo com o slogan "Somos Antirracistas" serão necessárias mudanças pontuais nos modos de produção e estabelecimento dos produtos midiáticos.
Assim, é preciso desconstruir toda uma lógica opressora. Propor mudanças do discurso discriminatório em prol de uma prática emancipatória. A campanha batalha uma comunicação reparadora, na qual o sujeito negro tenha exatamente o mesmo espaço que o sujeito branco e que este participe em igualdade de condições.
"O racismo é um problema de branco porque foi o branco que o criou. Somos herdeiros de um discurso colonial que contamina as práticas sociais de maneira a naturalizar a exclusão do sujeito negro privilegiando sempre o sujeito branco. E somos nós, profissionais de comunicação brancos, os responsáveis pela propagação e legitimação do racismo", descreve a linguista.
Percepções

A população negra representa cerca de 53,6% dos brasileiros, como aponta o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O total, entretanto, passa longe de ser refletido no território da informação. O feliz exemplo da jornalista Maju Coutinho ainda é uma exceção na comunicação social majoritariamente composta por protagonistas brancos.
Em abril de 2013, o Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em convênio com a Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj), divulgou a pesquisa "Quem é o jornalista brasileiro?". A enquete foi aplicada com 2.731 jornalistas de todos os Estados e indicou que de 145 mil jornalistas, 23% são negros. 72% são brancos.
Realizado pela agência Heads, em parceria com a ONU Mulheres, a sétima edição do estudo "TODXS - Uma análise da representatividade na publicidade brasileira" mostrou, em dezembro de 2018 o quanto o mercado nacional ainda precisa quebrar estereótipos. Propagandas exibidas na TV e publicações de marcas nas redes sociais continuam a não representar a diversidade de raças e gêneros.
Foram monitorados 2.149 comerciais veiculados nos canais de televisão de maior audiência do País durante uma semana. O melhor resultado foi entre as protagonistas negras, que chegou a 25% de participação nas peças publicitárias. Já quando a pesquisa abarca protagonistas homens e negros, os dados ainda são muito baixos. Apenas 13%. Mesma análise realizada seis meses antes trouxe índice de 1%.
Lugar de fala
Profissional multidisciplinar, Tânia trabalha com inclusão desde 1998 e atuou como professora universitária na Comunicação durante 20 anos. Formou mais de 3 mil publicitários, bem como redatores e roteiristas. Além do ambiente acadêmico conhece o mercado por conta da trajetória como empresária, diretora de criação, redatora, roteirista, entre outras funções exercidas.
Atuando na perspectiva de uma escola linguística crítica, que procura enxergar os discursos e o papel social deles, a pesquisadora delimitou durante a tese de doutorado o território discursivo da moda. Já na curadoria para o desenvolvimento do estudo, surgiram inquietações explícitas.
"Durante os quatro anos de dedicação exclusiva a esse estudo, eu me deparei com 48 capas de conteúdos de Vogue nas quais nós só tivemos uma única capa com uma mulher negra brasileira. Para mim foi devastador", descreve.
Tânia lembra que o "Branquitude em Movimento" fala diretamente para os profissionais brancos. A organizadora situa seu lugar de fala, enquanto mulher branca e profissional de comunicação responsável pelos discursos propagados na mídia. É preciso o comprometimento da população branca, em especial, dos profissionais de comunicação.
"Nós construímos um imaginário coletivo, nós criamos os padrões de beleza, somos nós que elegemos as imagens que vão aparecer nas embalagens do produtos. Somos nós que elegemos o 'bebê Johnson' ao longo dos anos. Bebê branco e de olho azul. Era um padrão a ser alcançado. Somos nós que consideramos e demos o título de 'rainha dos baixinhos' a uma mulher branca", argumenta a publicitária cearense.
"Branquitude em Movimento" pontua, assim, a necessidade de representatividade. A invisibilidade contribui para constatações gritantes, acredita Tânia. "Você não se sente bom o suficiente. Você não sente que pode chegar até lá. Não é por acaso que a população negra é a maioria carcerária. Não é por acaso que a população negra ocupa cargos como o de babá, porteiro, empregada doméstica. O racismo é devastador. Potencializa a questão da desigualdade social. Precisamos combater o racismo. Ele é prioridade. Não tem como combater a desigualdade social sem atacar o racismo", diz.
A missão da campanha "Branquitude em Movimento" é por igualdade de participação da pessoa negra na comunicação. Despir a área de estereótipos negativos e que reforça o padrão hierárquico de que o branco é a pessoa no topo da pirâmide. Além de vender uma marca, posicionar produtos, potencializar e alavancar vendas, o mercado carece de iniciativas dessa natureza.
A organizadora da campanha resgata o quanto o papel ético da mídia pode salvar vidas. Educação e justiça social são prioridades. Tânia relembra as campanhas em prol da erradicação da poliomelite. A peça publicitária do Zé Gotinha, ainda hoje utilizado e totalmente querido pelas crianças, vêm desde 1988 atuando na memória da população.
A primeira fase de "Branquitude em Movimento" vai atuar no chamado público de empresas e profissionais. Um selo lidera a iniciativa e identificará espaços que busquem a igualdade social. Num segundo momento a ideia é a organização de palestras em jornais, universidades e agências de publicidade. O discurso midiático propaga e constrói o imaginário coletivo. "Qual o imaginário e padrão de beleza que construímos? Cabe a nós, agora, essa desconstrução. É isso que proponho para a sociedade branca e para quem atua na comunicação", finaliza Tânia Dourado.