Fonte: Zero Hora Edição Adilson Gonçalves
Gota d´Água Preta, espetáculo há
pouco apresentado entre nós, colocou o preconceito racial como característica
constitutiva do Brasil. Debaixo do tapete ou escancarado, rompantes racistas
fustigam permanentemente a consciência nacional. Em um país onde jogadores de
futebol são chamados de "macacos" em plena luz do dia, cabe a pergunta:
afinal, somos ou não um país racista?
Anos atrás, Jessé Oliveira comentava a dificuldade de patrocínio para
seu Hamlet Sincrético. Ter um
grupo constituído por atores negros era, segundo ele, causa e consequência da
situação humilhante. Sem negar sua afirmação, argumentei que "no teatro
somos todos negros", enfatizando dificuldades comuns aos artistas cênicos,
independente da cor. De lá para cá, piorou.

O preconceito pode chegar disfarçado das melhores intenções. O
barulho de ativistas cariocas afastou Fabiana Cozza do papel de dona Ivone Lara
em musical sobre a compositora. Diziam que sua pele não era suficientemente
escura para interpretar a personagem. Argumento tão absurdo como o que defende
que personagens transexuais só podem ser feitos por atores trans. Sabemos: o
outro nome da intolerância é burrice.
Ignorância não se combate com ignorância. Atitudes racistas, ou
homofóbicas ou misóginas, devem ser respondidas lembrando o exemplo dos
incontáveis Garrinchas, Montenegros, Buarques e Aleijadinhos deste país
controverso.
Nossos artistas, alguns sordidamente atacados, apontam o Brasil
solidário e inclusivo que queremos. E é com esses que eu vou.
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