terça-feira, 8 de outubro de 2019

AFINAL, SOMOS OU NÃO SOMOS UM PAIS RACISTA ?, INDAGA SECRETÁRIO DE CULTURA DE PORTO ALEGRE

Fonte: Zero Hora Edição Adilson Gonçalves
Gota d´Água Preta, espetáculo há pouco apresentado entre nós, colocou o preconceito racial como característica constitutiva do Brasil. Debaixo do tapete ou escancarado, rompantes racistas fustigam permanentemente a consciência nacional. Em um país onde jogadores de futebol são chamados de "macacos" em plena luz do dia, cabe a pergunta: afinal, somos ou não um país racista?
Anos atrás, Jessé Oliveira comentava a dificuldade de patrocínio para seu Hamlet Sincrético. Ter um grupo constituído por atores negros era, segundo ele, causa e consequência da situação humilhante. Sem negar sua afirmação, argumentei que "no teatro somos todos negros", enfatizando dificuldades comuns aos artistas cênicos, independente da cor. De lá para cá, piorou.
Justin Trudeau, primeiro-ministro do Canadá, enfrenta hoje acusações pesadas de racismo. Contra ele: fotos de 2001, onde mostra o rosto maquiado com tinta preta, quando, em uma festa, se fantasiou de Aladim. Surpreendente, a afirmação de que "o negro é indolente e sonhador e gasta seu dinheiro com frivolidades e bebida" coloca em um ícone revolucionário a mesma pecha. A frase, acredite se quiser, é de Che Guevara. Líderes de direita e revolucionários de esquerda. Inconfundíveis sinais de racismo.
O preconceito pode chegar disfarçado das melhores intenções. O barulho de ativistas cariocas afastou Fabiana Cozza do papel de dona Ivone Lara em musical sobre a compositora. Diziam que sua pele não era suficientemente escura para interpretar a personagem. Argumento tão absurdo como o que defende que personagens transexuais só podem ser feitos por atores trans. Sabemos: o outro nome da intolerância é burrice.
Ignorância não se combate com ignorância. Atitudes racistas, ou homofóbicas ou misóginas, devem ser respondidas lembrando o exemplo dos incontáveis Garrinchas, Montenegros, Buarques e Aleijadinhos deste país controverso.
Nossos artistas, alguns sordidamente atacados, apontam o Brasil solidário e inclusivo que queremos. E é com esses que eu vou.


Nenhum comentário:

Postar um comentário