MONTGOMERY, BERÇO DA SEGREGAÇÃO RACIAL E DA LUTA PELOS DIREITOS CIVIS, ELEGE SEU PRIMEIRO PREFEITO NEGRO
Fonte: NYT Edição: Adilson Gonçalves
Campanha e sucesso de Steve Reed
foram validados pela comunidade negra, que compõe 60%
MONTGOMERY, EUA - Em
um colégio eleitoral perto do cruzamento das avenidas que homenageiam
tanto a ativista dos direitos civis Rosa Parks, quanto o líder
confederado Jefferson Davis, Laura Minor passou a tarde quente numa cadeira
dobrável com um adesivo de David Woods para prefeito na camisa.
Ela havia sido contratada para a
campanha do candidato, mas não tinha vergonha de dizer que Woods havia
comprado seu tempo, mas não havia ganhado seu voto.
"Na verdade eu
estou apoiando Steven Reed”, disse com entusiasmo a mulher negra. Ela vive em
Montgomery, capital do Alabama e Na
terça-feira, 7, Reed, um jovem juiz e filho de uma importante família
política, tornou-se o primeiro prefeito negro da cidade.
Sua
campanha e seu sucesso foram validados pela comunidade negra, que compõe
60% da população de Montgomery. A cidade foi moldada por dois principais
legados: como o de uma capital de uma nação com passado racial corrompido e
como o berço do movimento dos direitos civis.
Reed entrou na disputa sem estar
filiado a nenhum partido. Ele derrotou David Woods, homem branco e
dono de uma estação de televisão, após concorrer com outros 12 candidatos no
primeiro turno, com 67% dos votos, segundo resultados não oficiais
divulgados pela cidade.
Randall Woodfin: Birmingham
Agora, Montgomery se junta a Birmingham
e Selma, cidades com grande histórico de luta pelos direitos civis no Alabama,
ao eleger jovens negros como prefeitos. Reed se junta a Randall Woodfin, o prefeito de 38 anos de Birmingham, maior cidade do Alabama, e Darrio Melton, 40, que é prefeito de Selma desde 2016. Talladega também elegeu seu primeiro prefeito negro, Timothy Ragland, 29, na terça-feira.
Muitas pessoas que cresceram sob a
sombra desta história não puderam fazer
nada menos que esperar que eles fossem
presenciar o início de um emocionante capítulo. "Esta é a nossa vez",
disse Yolanda Sayles Robinson, 59 anos, que nasceu na cidade e se
descreve como um produto da década de 1960. "Estamos esperando por
isso há muito tempo."
Discurso
de união em uma cidade que tenta renascer
Darrio Melton: Talladega
"Você acreditava que não tínhamos
que ser definidos pelo nosso passado", disse Reed à multidão que se
aglomerou em um salão na noite de sua eleição gritando seu nome e
cantando "One Montgomery" enquanto ele subia ao palco. "Não
será sobre o primeiro. Nem será sobre o melhor. Será sobre o impacto que
causamos na vida de outras pessoas. "
Em alguns cantos, Montgomery,
situada no rio Alabama com uma população de cerca de 200
mil habitantes, passou por uma revitalização.
Timothy Ragland
A história que há muito assombra a
cidade evoluiu para uma espécie de trunfo, com um memorial nacional às
vítimas de linchamento e um museu de escravidão e encarceramento em massa
atraem grandes multidões.
Novos hotéis e outros empreendimentos
surgiram no centro da cidade, e as ruas ao redor do Capitólio do Estado estão
repletas de restaurantes frequentados por jovens. A Hyundai, fabricante de
automóveis, investiu milhões de dólares em uma fábrica que tem sido importante
criadora de empregos.
Pobreza
resiste na capital do Alabama
Ainda assim, os investimentos na cidade
não foram divididos igualmente. Alguns bolsões da cidade estão abandonados, com
ruas pobres e perigosas. Também existem preocupações acerca da perda de pessoas
talentosas para cidades maiores, atraídas por melhores opções de carreira e
cultura.
Reed foi o primeiro juiz de testamento
negro no condado de Montgomery e graduado pela Morehouse, faculdade
historicamente negra em Atlanta e Vanderbilt, onde ele fez um MBA. Ele também
tem fortes laços com a comunidade.
Seu pai, Joe Reed foi, durante muito
tempo, líder da bancada negra do Partido
Democrata do Estado e sua família é um
elemento importante na cidade. Alguns eleitores relataram memórias de Reed na
adolescência ou de vê-lo como um garoto na igreja, e compartilharam um certo
orgulho em acompanhar seu sucesso.
O voto, para alguns, carregava um
significado profundo, chegando a fazer comparações com 2008, quando o
presidente Barack Obama foi eleito. "Aqui estamos", disse Derrick
Marshall, 63 anos, um auxiliar de professor que viveu em Montgomery
praticamente toda a sua vida, "parado à porta de outro evento
significativo".
Passado
confederado e palco de segregação racial
Montgomery tornou-se uma cidade em
dezembro de 1819 e serviu como a primeira capital dos Confederados durante a
Guerra Civil Americana. Nos anos 60, tornou-se famosa quando o
reverendo Martin Luther King Jr. liderou protestos por direitos iguais
para negros e brancos, que, à época, viviam segregados no Alabama. Ali, Rosa
Parks desafiou a polícia estadual ao sentar-se num ônibus destinados para
brancos.
Na noite da eleição, enquanto
palestrantes se revezavam com uma playlist de músicas que incluíam Beyoncé,
Usher and the Isley Brothers — a multidão da festa de Reed assistiam às
notícias de uma televisão local projetada na parede, torcendo enquanto a contagem
de votos piscava na direção deles.
A vitória de Reed pode ser uma benção,
alguns disseram numa resposta às suas orações.Foi algo que eles buscavam por
gerações, Sylvia Norman estava entre os que que viam o atraso como uma
espécie de presente. “Anos sem um prefeito negro fortaleceram a determinação da
comunidade em fazer isso acontecer”.
“Não demorou muito”,
disse a eleitora Sylvia Norman. “Deus faz as coisas no seu tempo”. Ela
aplaudiu, dançou e pulou, pois parecia que a hora chegaria em breve.
Nenhum comentário:
Postar um comentário