Sindicalismo
e Movimento Negro
André Borges Edição:Adilson Gonçalves
A História do Movimento Sindical Brasileiro não registra o aprofundamento da participação e da contribuição do trabalhador negro-escravo nos vários ciclos econômicos do Brasil. Isso não aconteceu também na formação da classe operária e a sua consequente geração das riquezas na economia agrícola, predominante no Brasil Colônia. Economia essa caracterizada pelos latifúndios, em que os trabalhadores negros-escravos contribuíram com a sua força de trabalho.
Até 1888,
quando foi abolida a escravidão no Brasil, o trabalho escravo foi
predominante. Ao ser proclamada a
República em 1889, o nascente setor industrial já abrangia os ramos da
indústria têxtil, fundições, indústria de sabão, bebidas e produtos
alimentícios.
Antes
de surgir o Movimento Sindical organizado, foi o negro-escravo quem mais
contribuiu com sua força de trabalho, gerando riquezas que propiciaram o
desenvolvimento da nossa incipiente economia, seja ela nas minas de ouro, nos
canaviais e engenhos de açúcar e nos
cafezais. Essa contribuição foi fundamental para o aparecimento das primeiras
fábricas, nas quais o negro-escravo participou com a sua força de trabalho,
sendo que o seu respectivo salário era entregue ao seu então proprietário, seu
senhor.

Atualmente, além de organizados em várias entidades em que se constitui o Movimento Negro, os trabalhadores se encontram organizados também nos sindicatos e nos partidos políticos. Mas a participação do trabalhador-negro no Movimento Sindical não tem sido objeto de estudos ou pesquisas. Em consequência disso, tem-se uma ideia bastante vaga da forma como se processou a ascensão do trabalhador-negro na atual estrutura do Movimento Sindical. Embora se tenha conhecimento da sua efetiva participação nos sindicatos, onde ocupam espaço na direção de alguns; nas Federações e
Confederações e nas centrais Sindicais hoje existentes no Brasil, não se sabe ainda a real contribuição do trabalhador negro-escravo ao nascimento da classe operária no Brasil. Não se tem dados que possam responder à seguinte indagação: o trabalhador-negro encontrou alguma resistência de caráter racista que dificultasse sua integração e a consequente Ascenção no Movimento Sindical? Essa indagação é pertinente quando se sabe que, nos seus primórdios, a organização do Movimento Sindical foi fortemente influenciada e dirigida pela tendência anarco-sindicalista aqui chagada com os imigrantes europeus, de onde se origina o domínio colonial, juntamente com as mazelas do sistema escravista aqui estabelecido.
Por não se ter discutido com profundidade a questão do trabalhador-negro no Movimento Sindical, este Movimento não incorpora em suas lutas as reivindicações específicas do trabalhador-negro. Daí a urgente necessidade de se levar essa questão para uma discussão com maior profundidade, em razão do avanço que vem demonstrando a organização do Movimento Negro e a consequente estratégia da luta pela efetiva participação dos afrodescendentes no poder político do Estado brasileiro, sem o quê jamais se consolidará a necessária unidade da nação brasileira, para continuar a luta pelo desenvolvimento e a defesa da soberania nacional, seriamente ameaçada pela política implementada pelas grandes potências, com vista a recolonizarão do Brasil.

*André Borges, 87 anos, é escritor, autor de cinco livros, um dos fundadores do PDT e do Partido Socialista e Liberdade, do qual é integrante da corrente Primavera Socialista, participou ainda da criação da Confederação Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB) e foi Vice-presidente do Instituto Palmares de Direitos Humanos (IPDH) no Rio de Janeiro, ligado à questão racial, e Coordenador Estadual-Adjunto do Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH).
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