quarta-feira, 6 de novembro de 2019

COLUNA DO ANDRÉ BORGES

Sindicalismo e Movimento Negro

André Borges Edição:Adilson Gonçalves

A História do Movimento Sindical Brasileiro não registra o aprofundamento da participação e da contribuição do trabalhador negro-escravo nos vários ciclos econômicos do Brasil. Isso não aconteceu também na formação da classe operária e a sua consequente geração das riquezas na economia agrícola, predominante no Brasil Colônia. Economia essa caracterizada pelos latifúndios, em que os trabalhadores negros-escravos contribuíram com a sua força de trabalho.

   Até 1888, quando foi abolida a escravidão no Brasil, o trabalho escravo foi predominante.  Ao ser proclamada a República em 1889, o nascente setor industrial já abrangia os ramos da indústria têxtil, fundições, indústria de sabão, bebidas e produtos alimentícios.
    Antes de surgir o Movimento Sindical organizado, foi o negro-escravo quem mais contribuiu com sua força de trabalho, gerando riquezas que propiciaram o desenvolvimento da nossa incipiente economia, seja ela nas minas de ouro, nos canaviais e  engenhos de açúcar e nos cafezais. Essa contribuição foi fundamental para o aparecimento das primeiras fábricas, nas quais o negro-escravo participou com a sua força de trabalho, sendo que o seu respectivo salário era entregue ao seu então proprietário, seu senhor.
   Para o desenvolvimento do trabalho assalariado no Brasil, foi fundamental a leva de imigrantes europeus que trouxe – de 1871 até 1920- três milhões, trezentos e noventa mil trabalhadores estrangeiros que, segundo o censo de 1893, apenas na capital de São Paulo, constituiram aproximadamente 55% da população e 71% da força de trabalho. Em contrapartida, nada se diz sobre a participação dos trabalhadores-negros no mercado de trabalho da época.
Atualmente, além de organizados em várias entidades em que se constitui o Movimento Negro, os trabalhadores se encontram organizados também nos sindicatos e nos partidos políticos. Mas a participação do trabalhador-negro no Movimento Sindical não tem sido objeto de estudos ou pesquisas. Em consequência disso, tem-se uma ideia bastante vaga da forma como se processou a ascensão do trabalhador-negro na atual estrutura do Movimento Sindical. Embora se tenha conhecimento da sua efetiva participação nos sindicatos, onde ocupam espaço na direção de alguns; nas Federações e
Confederações e nas centrais Sindicais hoje existentes no Brasil, não se sabe ainda a real contribuição do trabalhador negro-escravo ao nascimento da classe operária no Brasil. Não se tem dados que possam responder à seguinte indagação: o trabalhador-negro encontrou alguma resistência de caráter racista que dificultasse sua integração e a consequente Ascenção no Movimento Sindical? Essa indagação é pertinente quando se sabe que, nos seus primórdios, a organização do Movimento Sindical foi fortemente influenciada e dirigida pela tendência anarco-sindicalista aqui chagada com os imigrantes europeus, de onde se origina o domínio colonial, juntamente com as mazelas do sistema escravista aqui estabelecido.

Por não se ter discutido com profundidade a questão do trabalhador-negro no Movimento Sindical, este Movimento não incorpora em suas lutas as reivindicações específicas do trabalhador-negro. Daí a urgente necessidade de se levar essa questão para uma discussão com maior profundidade, em razão do avanço que  vem demonstrando a organização do Movimento Negro e a consequente estratégia da luta pela efetiva  participação dos afrodescendentes  no  poder político do Estado brasileiro, sem o quê jamais se consolidará a necessária unidade da nação brasileira, para  continuar a luta pelo desenvolvimento e a defesa da soberania nacional, seriamente ameaçada pela  política implementada pelas grandes potências, com vista a recolonizarão do Brasil.




*André Borges, 87 anos, é escritor, autor de cinco livros, um dos fundadores do PDT e do Partido Socialista e Liberdade, do qual é integrante da corrente Primavera Socialista, participou ainda da criação da Confederação Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB) e foi Vice-presidente do Instituto Palmares de Direitos Humanos (IPDH) no Rio de Janeiro, ligado à questão racial, e Coordenador Estadual-Adjunto do Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH).

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