segunda-feira, 2 de setembro de 2019

ASSOCIAÇÃO NACIONAL DA ADVOCACIA NEGRA - ANAN- É LANÇADA EM SÃO PAULO PARA COMBATER O RACISMO ESTRUTURAL NA ÁREA DO DIREITO



Texto e Edição: 
Adilson Gonçalves

Foi lançada, em São Paulo, a Associação Nacional da Advocacia Negra (Anan). O evento aconteceu no Auditório Franco Montoro,na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). A entidade,  criada em 2016 pelo advogado Estevão Silva, conta com mais de 1,5 mil profissionais associados em todo o país e surgiu por conta das dificuldades que os advogados negros têm enfrentado no mercado de trabalho. O objetivo é desenvolver estratégias de combate ao racismo estrutural na área do Direito. Dados do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdade (Ceert) mostram que presença de advogados negros em grandes escritórios, por exemplo, ainda é baixa. Entre os profissionais brancos, 10,1% são estagiários e 48,3% são sócios e advogados juniores, plenos ou seniores. Já entre os negros, 9,4% são estagiários e nos cargos mais elevados, o número é estatisticamente irrelevante, menos de 1%.

Rosana Rufino, vice-presidente da Anan e advogada especialista em Direito da Família e do Consumidor, acredita que a disparidade no mercado de trabalho levará tempo para diminuir. Diante disso, ela explica que uma das iniciativas da associação é a capacitação de advogados negros para eles empreenderem. “Queremos fomentar a gestão de negócios dentro da própria comunidade negra para que os advogados tenham seus próprios escritórios e contratem profissionais negros de outras áreas também”, afirma. “É com o aumento da nossa atuação dentro dos órgãos públicos e privados que teremos força para lutar pelos direitos da população negra”, acrescenta.

 
Para o presidente da Subseção OAB de Santana, Peter Souza, a iniciativa é extremamente necessária. "O único advogado negro que assumiu a seccional da OAB foi Benedito Galvão em 1941, e de forma interina". Ele disse ainda que menos de 1% dos escritórios de advocacia do Brasil tem em sua composição advogadas e advogados negros. 
A deputada Mônica da Bancada Ativista (PSOL) foi quem propôs o evento. Para ela, o trabalho do grupo vai além de atuar contra causas racistas. "É também para se auxiliarem numa questão solidária de curadoria, no cuidado com a carreira para a expansão. Quanto mais advogados negros tiverem, mais chance teremos de conseguir uma justiça de fato justa, igualitária e que pratique de verdade o bem para todos". 

Segundo a socióloga Vilma Reis, dos 18 mil juízes do país, apenas 2,3% são negros. "É este o quadro e é assim que a população negra é vista dentro da justiça criminal. Quase que exclusivamente todos são clientes do sistema e não os agentes públicos de transformação do mesmo", disse. 
A entidade tem como norte os advogados Luiz Gama, considerado fundamental no processo de abolição da escravatura, e Esperança Garcia, primeira advogada negra do Piauí. “São exemplos de pessoas que fizeram a transformação para ocupar espaços de poder e de liderança”, comenta Rosana Rufino.


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