Texto, foto*, edição: Adilson Gonçalves
Caó , baiano, filho de Ogun, na CMRJ,com a imagem de Oxossi ao fundo, padroeiro do Rio de Janeiro, cidade que o acolheu |
O dia e o mês- 20 de dezembro- que constam em sua certidão de nascimento diferem da data biológica- 24 de novembro - em que ele veio ao mundo, mas o ano é o mesmo: 1941. Pois nesta data, há 70 anos, portanto, nascia em Salvador, na Bahia, Carlos Alberto Oliveira dos Santos, ou simplesmente Caó, filho do marceneiro Themístocles Oliveira dos Santos e da costureira Martinha Oliveira dos Santos, a dona Miúda.
A reverência ao líder é constante |
Figura emblemática do movimento negro brasileiro, Caó foi eleito duas vezes- 1982 e 1986- deputado federal , a última como constituinte, pelo Partido Democrático Trabalhista, o PDT. Como parlamentar constituinte, ele foi o autor da revolucionária lei 7716/89, que criminaliza como crimes não somente a prática de racismo, concernentes ao povo negro, mas entre outras práticas ilícitas, a xenofobia e a intolerância religiosa, que abrange todas as religiões.
Carlos Alberto Oliveira dos Santos é o filho mais velho de seu Themistócles e dona Martinha, ambos já falecidos. Seus dois outros irmãos, Derivaldo e Eliene, também já morreram. A mãe, dona Miúda, costurava para a alta sociedade baiana e foi através de um pedido seu a uma de suas várias clientes que conseguiu matricular o primogênito no tradicional colégio soteropolitano Antônio Vieira, onde era o único aluno negro.
Recentemente entrevistado para o programa Espelho, apresentado pelo ator e diretor Lázaro Ramos, ele falando sobre sua infância em Salvador, revelou que sua primeira contestação a um ato de racismo sofrido ocorreu no colégio
- Todo ano uma peça era encenada e por dois deles, fui escalado para interpretar o personagem do diabo. Na segunda vez eu recusei e joguei mercúrio cromo nas paredes do colégio. Minha mãe foi chamada à escola e comunicada do meu ato. Ao chegar em casa, ela me falou que meu pai resolveria a questão quando voltasse do trabalho. Meu pai, seu Themístocles, era marceneiro, homem de poucas palavras e com um cinto de couro de dois dedos de espessura. Com medo, fugi de casa, mas voltei, me escondendo dentro dela. Quando ele chegou e minha mãe falou com ele, fui chamado. Com muito medo da surra, saí de onde estava escondido e me apresentei . Ele me perguntou o por quê da peraltice e eu respondi que estava cansado de ser escalado para interpretar o Diabo e queria ser Deus, que nunca deixavam. Ele concordou comigo e a surra não aconteceu- contou Caó.
Caó, Rosinha e Cacau ou Carlos Alberto Oliveira, Rosa e Carlos em um momento de descontração |
Apesar de afastado da política, a participação constante em vários eventos da comunidade negra |
A solução mais prudente foi sair de Salvador e ir para o Rio Janeiro. Chegando à cidade, trabalhou inicialmente como corretor de imóveis, mas atuou neste setor por pouco tempo. No mesmo ano começou a trabalhar como repórter do jornal Luta Democrática, Tribuna Carioca, Tribuna da Imprensa, O Jornal, Jornal do Commércio, TV Tupi e Jornal do Brasil, onde entrou como repórter e chegou a sub-editor e editor. Em 1967 formou-se em Direito.
Nesse meio tempo, foi um dos fundadores da Associação de Jornalistas de Economia e Finanças (AJef), em 1974, presidindo-a no ano seguinte. Também criou o Clube dos Repórteres Políticos, do qual foi secretário geral. Em seguida foi presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio de Janeiro, onde conseguiu uma conquista épica, de modo atípico: sem greve ou qualquer outro ato de intimidação ao patronato, ele liderou vários jornalistas, todos de braços, em uma caminhada até o prédio das empresas Bloch, na Glória e ao final das negociações o resultado foi um aumento de 100% para a categoria, algo, senão inédito, raro, na história do sindicalismo brasileiro.
Por questão numerológica ou apenas coincidência, o número dois está presente nas lembranças e conquistas de Caó ao longo da vida: teve dois irmãos – Derivaldo e Eliene- , por duas vezes foi presidente do Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro, duas vezes foi secretário de Habitação e Trabalho do governo estadual, na gestão de Leonel Brizola, igual número de vezes elegeu-se deputado federal pelo PDT e tem um casal de filhos, os quais apesar de já adultos, chama carinhosamente de Cacau e Rosinha, como todo pai baiano, afável e carinhoso. Em um breve balanço de seus 70 anos e a evolução e conquistas dos negros brasileiros, na qual teve efetiva participação, ele avalia e afirma:
- A situação melhorou muito, mas ainda hoje muitos atos de racismo e intolerância são praticados. Melhorou, mas ainda temos muito a conquistar, pois nós queremos, e merecemos, mais. E eu estarei vivo para presenciar isso.
Um exemplo. Reverências e um feliz aniversário!!!
ResponderExcluirCAÓ
ResponderExcluirAo meu amigo, a minha eterna gratidão, pelo orgulho que sinto por você como líder e combativo contra o Racismo, transformado em Lei de sua autoria crime inafiançável e imprescritível, que infelizmente, o Congresso Nacional que tanto amou e se dedicou, não tem competência política e cristã para cumprir com seus objetivos.