segunda-feira, 23 de setembro de 2019

GRADUADA PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RECÔNCAVO BAIANO (UFRB) PRIMEIRA TURMA DE MÉDICOS NEGROS

Texto e edição: Adilson Gonçalves
Fonte: Correio da Bahia
Doze jovens negros são os integrantes da primeira turma de médicos graduados pela Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB). A graduação ocorreu no final de agosto e eles representam 41% da turma de formandos. Tal cenário é resultado não somente do sistema de cota racial, mas também também das destinação aos alunos oriundos do ensino publico. Ineditamente, a UFRB apresenta 76,7% dos seus alunos do curso de medicina, declarados como negros - 40%- e pardos - 36,7%.

   “Essa nação sempre foi algoz com a população negra. Para nós, ativistas e militantes da comunidade negra, estamos celebrando uma grande vitória, inclusive, que não imaginávamos que iríamos alcançar”, observa Valdecir Nascimento, coordenadora executiva do Odara Instituto da Mulher Negra.





Cotas regionais


De acordo com os pesquisadores, estudantes e formandos da UFRB, há uma tendência na redução do percentual de negros e de baianos dentre os novos graduandos de medicina.
“É um fenômeno que tem nos preocupado bastante porque o nosso curso é construído na perspectiva da expansão da educação superior para o interior da Bahia, e para a estratégia de provimento de médicos no interior”, reflete Luciana Barbosa, docente da instituição.
A professora e ex-coordenadora do curso de Medicina explica que esse novo fenômeno tem sido objeto de discussão interna. Segundo ela, é comum que estudantes do Sudeste ocupem as vagas da UFRB, e de outras escolas médicas baianas, ao utilizarem o Sistema de Seleção Unificada (Sisu). 


“É possível perceber, no dia-a-dia, que as turmas mais recentes têm uma quantidade maior de estudantes brancos em relação à que acabou de formar”, comenta Everaldino Rodrigues, 29 anos, e aluno da nona turma de Medicina. Conforme apontam os professores Paulo Nacif, Luciana Santana e Luciana Barbosa, uma solução para assegurar a diversidade das futuras turmas requer a implantação de um sistema de avaliação que permita a estudantes do próprio Recôncavo ingressarem em condições menos desiguais, isto é, por meio de cotas regionais.
Em 2017, a Procuradoria Geral da República (PGR) defendeu que esse tipo ingresso, com base unicamente na origem do candidato, é inconstitucional. Entretanto, a discus-são sobre a constitucionalidade das cotas regionais ainda está em andamento no Su-premo Tribunal Federal (STF).
Conforme a assessoria de comunicação da UFRB, a instituição possui 92% dos seus estudantes oriundos do estado da Bahia. Desses, 79,6 são do interior do estado e 62,9% pertencentes ao Recôncavo. Ainda assim, está em discussão o Programa de Avaliação Seriada, cujas ações de implantação devem ocorrer em 2023. O objetivo do PAS é promover a articulação da universidade com a educação e básica e, como isso, fomentar uma política de acesso diferenciada.
  
Atuação no Recôncavo

A Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) repercutiu a colação de grau dos médicos. Segundo a pasta, para além da identidade cultural, de conhecerem melhor o perfil epidemiológico da região Recôncavo, os médicos formados da UFRB tendem a atuar de forma mais direcionada às necessidades dos pacientes que, por vezes, são negligenciadas.
Para o vice-presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia (Cremeb), Julio Braga, os médicos formados UFRB devem tentar permanecer no Recôncavo baiano. A Estratégia de Saúde da Família, no Recôncavo, possui uma cobertura estimada de 87,56% médicos, enquanto a Bahia possui 72,73 %, segundo informou a Sesab. Na região existem 165 médicos atuando na Saúde da Família e há uma lacuna de, aproximadamente, 22 médicos para alcançar 100% de cobertura.
De acordo com Denize Ornelas, da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, área que a UFRB prioriza na formação dos médicos, o perfil racial é importante por mudar as composições das turmas e permitir uma abordagem melhor da diversidade que existe da população brasileira, em relação às diferenças demográficas, econômicas e sociais, decorrentes do racismo institucional.
Ornelas também considera importante a aproximação entre médicos e pacientes negros. “Uma vez que se veem em uma posição que, classicamente, não é ocupada por pessoas negras, e que costumam ter uma origem social mais pobre”, contextualiza. 

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