Fonte: Correio da Bahia
Doze jovens negros são os integrantes da primeira turma de médicos graduados pela Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB). A graduação ocorreu no final de agosto e eles representam 41% da turma de formandos. Tal cenário é resultado não somente do sistema de cota racial, mas também também das destinação aos alunos oriundos do ensino publico. Ineditamente, a UFRB apresenta 76,7% dos seus alunos do curso de medicina, declarados como negros - 40%- e pardos - 36,7%.
“Essa nação sempre
foi algoz com a população negra. Para nós, ativistas e militantes da comunidade
negra, estamos celebrando uma grande vitória, inclusive, que não imaginávamos
que iríamos alcançar”, observa Valdecir Nascimento, coordenadora executiva do
Odara Instituto da Mulher Negra.
Cotas regionais
“É um fenômeno que tem nos preocupado bastante porque o
nosso curso é construído na perspectiva da expansão da educação superior para o
interior da Bahia, e para a estratégia de provimento de médicos no interior”,
reflete Luciana Barbosa, docente da instituição.
A professora e ex-coordenadora do curso de Medicina
explica que esse novo fenômeno tem sido objeto de discussão interna. Segundo
ela, é comum que estudantes do Sudeste ocupem as vagas da UFRB, e de outras
escolas médicas baianas, ao utilizarem o Sistema de Seleção Unificada
(Sisu).
“É possível perceber, no dia-a-dia, que as turmas mais
recentes têm uma quantidade maior de estudantes brancos em relação à que acabou
de formar”, comenta Everaldino Rodrigues, 29 anos, e aluno da nona turma de
Medicina. Conforme apontam os professores Paulo Nacif, Luciana Santana e
Luciana Barbosa, uma solução para assegurar a diversidade das futuras turmas
requer a implantação de um sistema de avaliação que permita a estudantes do
próprio Recôncavo ingressarem em condições menos desiguais, isto é, por meio de
cotas regionais.
Em 2017,
a Procuradoria Geral da República (PGR) defendeu que
esse tipo ingresso, com base unicamente na origem do candidato, é
inconstitucional. Entretanto, a discus-são sobre a constitucionalidade das
cotas regionais ainda está em andamento no Su-premo Tribunal Federal (STF).
Conforme a assessoria de comunicação da UFRB, a
instituição possui 92% dos seus estudantes oriundos do estado da Bahia. Desses,
79,6 são do interior do estado e 62,9% pertencentes ao Recôncavo. Ainda assim,
está em discussão o Programa de Avaliação Seriada, cujas ações de implantação
devem ocorrer em 2023. O objetivo do PAS é promover a articulação da
universidade com a educação e básica e, como isso, fomentar uma política de
acesso diferenciada.
Atuação no Recôncavo
Para o vice-presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado da
Bahia (Cremeb), Julio Braga, os médicos formados UFRB devem tentar
permanecer no Recôncavo baiano. A Estratégia de Saúde da Família, no Recôncavo, possui uma
cobertura estimada de 87,56% médicos, enquanto a Bahia possui 72,73 %, segundo
informou a Sesab. Na região existem 165 médicos atuando na Saúde da Família e
há uma lacuna de, aproximadamente, 22 médicos para alcançar 100% de cobertura.
De acordo com Denize Ornelas, da Sociedade Brasileira de
Medicina de Família e Comunidade, área que a UFRB prioriza na formação dos
médicos, o perfil racial é importante por mudar as composições das turmas e
permitir uma abordagem melhor da diversidade que existe da população
brasileira, em relação às diferenças demográficas, econômicas e sociais, decorrentes
do racismo institucional.
Ornelas também considera importante a aproximação entre médicos e
pacientes negros. “Uma vez que se veem em uma posição que, classicamente, não é
ocupada por pessoas negras, e que costumam ter uma origem social mais pobre”,
contextualiza.
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