*Com G1
O ATOR MILTON GONÇALVES CONSOLA BIZA VIANA, VIÚVA DE ZÓZIMO DURANTE O VELÓRIO;
ATRAS DELES, O FOTÓGRAFO
VANTOEN PEREIRA JÚNIOR, SOBRINHO DO CINEASTA
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Chacrinha
chamava o ator Zózimo de “o negro mais bonito do Brasil”. Em 1969, Zózimo foi
par romântico de Leila Diniz na novela “Vidas em conflito”, da TV Excelsior”. O
escândalo fez com que a censura da ditadura militar vetasse a novela.
Aproveitando-se da polêmica, o estilista Dener convidou Zózimo para desfilar,
tornando-o o primeiro manequim de uma grande grife brasileira. “Fui capa de
revista, um sucesso! Só que não me conformaria em ser um ator vazio”, contava.
Sua
carreira havia começado nas peças do Centro Popular de Cultura da UNE e se
encorpou no cinema, no qual se tornou um dos maiores expoentes da cultura
afro-brasileira, como fazia questão de ressaltar, nas décadas de 1960 e 70.
Estreou em em 1962, em “Cinco Vezes Favela”, um dos no marcos do Cinema Novo.
Fez mais de 30 filmes, incluindo clássicos como “Terra em transe”, de Glauber
Rocha”, “Compasso de espera”, de Antunes Filho” e “Grande sertão”, de Geraldo
Santos Pereira.
VERA BARBOSA, SEUS DOIS FILHOS,
SOBRINHOS NETOS DE ZÓZIMO,
E
HELENA PEREIRA, IRMÃ DO CINEASTA
|
Em 1974,
estreou como diretor com o curta em preto e branco “Alma no Olho”, uma reflexão
da identidade negra por meio da linguagem corporal. Zózimo aproveitara os
negativos que sobraram do filme de Antunes Filhos para rodar seu
curta-metragem. Os integrantes da censura achavam que a obra tinha tom
“subversivo” e o chamaram para depor. Perguntaram sob ordem de quem ele havia
feito feito tão sofisticado, imaginando que chegariam a uma complexa mente
comunista. “Sob ordens do amigo e poeta Vinicius de Moraes”, respondeu Zózimo.
Para o
documentarista e antropólogo Noel Santos de Carvalho, que defendeu em 2006 na
USP a tese de doutorado “Cinema e representação racial: o cinema negro de
Zózimo Bulbul”, “Alma no Olho” é sua obra-prima. Lembrou ao GLOBO que o filme
foi baseado no livro “Soul Ice”, de Eldridge Claver, líder dos Panteras Negras,
grupo radical norte-americano dos anos 60/70.
— As
imagens cruas em preto e branco mostram Zózimo na frente da câmera fazendo uma
série de pantomimas que contam a historia do negro desde sua saída da Africa
até os Panteras Negras. Tudo isso em dez minutos. Marcará a todos os que se
interessarem pela historia do negro no audiovisual brasileiro. Obra de um
artista capaz de conectar sua historia, pessoal com a historia do seu povo. Sem
cair no nacionalismo babaca que vigorou na década de 1970.
CARLOS ALBERTO CAÓ ESTEVE PRESENTE AO
VELÓRIO DO
COMPANHEIROS DE ANTIGAS BATALHAS
|
Fundador
do Centro Afro Carioca de Cinema que, realizou no final do ano passado o 6º
Encontro de Cinema Negro Brasil/África. Realizou três curtas, cinco medias e um
longa-metragem, todos com foco na cultura afro descendente e na luta contra as
desigualdades. Em 2010, a convite do governo do Senegal, Zózimo fez o média-
metragem “Renascimento Africano”, que mostra o país nas comemorações dos 50
anos de independência deste país.
Uma das
últimas entrevistas que concedeu foi para documentário em produção do cineasta
americano Spike Lee. Em novembro, comentou como transcorreu a conversa.
— Tinha
morado em Nova York quando a ditadura apertou por aqui. Fiz muitos contatos,
que sempre me ajudaram na organização dos festivais de cinema. Spike esteve no
Brasil e o único cineasta brasileiro que quis entrevistar foi a mim. Porque ele
sabia do meu comprometimento com os irmãos africanos e em fazer com que o
cinema seja ferramenta de luta.
Zózimo já
estava enfraquecido pelo câncer que enfrentava havia alguns anos. Falava com
dificuldade. Estava muito atento ao noticiário e enalteceu a figura do
presidente do STF, Joaquim Barbosa, na condução do julgamento do mensalão.
— Que
maravilha de atuação. Impôs-se com rigor e inteligência como não se via há
muito.
A
ministra da Cultura Marta Suplicy divulgou nota de pesar:
"Zózimo
Bulbul teve uma trajetória fantástica, reconhecida. Mais que um ícone do seu
tempo, é alguém que rompe paradigmas, faz o novo e por isso se torna conhecido
no Brasil e no exterior. Ele nos deixa o exemplo de quem sempre quis fazer mais
e melhor. E fez."
VEJA MAIS FOTOS DO VELÓRIO DE ZÓZIMO BULBUL
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