- Edição: Adilson Gonçalves
- Fonte: New York Times
- Fotos:Dawoud BeY
Para sua decepção,
não havia manifestantes fora do museu, que estava sendo criticado por excluir
obras de artistas negros em seu retrato do Harlem, bairro de Nova York. Mas
dentro do local ele presenciou algo que o marcou bastante: paredes repletas de
fotografias de negros comuns que pareciam chamar a atenção dos presentes, que
pareciam intrigados.
Dez anos depois, após
ter mudado seu nome para DawoudBey e estudado fotografia na Escola de Artes
Visuais, ele fez sua estreia com uma exposição no Museu Studio, no bairro do
Harlem. Intitulada "Harlem USA", ela era composta por 25 fotos em
preto e branco de moradores do bairro, de veteranos de guerra tocando em uma
banda a mulheres idosas a caminho da igreja.
Bey, que agora vive
em Chicago e ensina fotografia na Columbia College, tornou-se um aclamado
fotógrafo de retratos, conhecido por transmitir uma perceptível autoconsciência
e introspecção em suas imagens. Seu trabalho tem sido mostrado nos Estados
Unidos e na Europa e está nas coleções permanentes do Museu de Arte Moderna, no
Museu Whitney de Arte Americana e no Museu do Brooklyn.
Agora, sua exposição
sobre o Harlem está em cartaz na íntegra no Instituto de Arte de Chicago - pela
primeira vez desde sua primeira exposição no Museu Studio em 1979. O Instituto
de Arte montou uma unidade especial de captação de recursos para comprar
impressões, principalmente as antigas, da série original (por um preço que Bey
descreveu como por volta dos "seis dígitos") e também está
apresentando outras obras de pioneiros da fotografia de seu acervo, incluindo
James Van Der Zee, Irving Penn e Roy DeCarava, todos influenciados por Bey.
Em uma tarde recente,
Bey, 58, visitou a exposição do Instituto de Arte e falou sobre a relação entre
suas fotos e a exposição "HarlemonMyMind".
"Naquela
época", disse ele, "eu apenas andava por tudo que é lado com uma
câmera que havia herdado do meu padrinho porque achava que era bacana. Mas eu
não sabia o que fazer com ela. A exposição do Museu Metropolitano de Arte me
marcou, me fez pensar."
Ele começou a ir a
outros museus e galerias para apreciar as fotografias dos inovadores do começo
do século, como Walker Evans e Henri Cartier-Bresson. "As obras deles me
deram uma ideia do que eu queria fazer e do que eu não queria fazer",
disse. "Não eram apenas obras ilustrativas. Eram subjetivas e
interpretativas. Essas fotos começaram a apontar para uma direção, para mostrar
que as fotos de pessoas comuns, poderiam, quando feitas de maneira correta, ter
bastante significado."
Em meados dos anos
1970 ele estava utilizando uma câmera de lente única e havia começado a tirar
fotografias das ruas do Harlem, que eventualmente acabaram fazendo parte de sua
exposição no Museu Studio.
No período de quase
mais de três décadas desde a exposição do Museu Studio, Bey tem continuado a
explorar imagens de americanos negros e, mais recentemente, adolescentes de
diversas origens. No processo, ele mudou de fotos em preto e branco para
coloridas, começou a utilizar câmeras de grande formato e optou por intercalar
fotos feitas em seu estúdio e nas ruas.
Esta evolução foi
refletida em outra exposição feita em Chicago, a “DawoudBey: Picturing People”
(DawouldBey: Retratando Pessoas, em tradução literal), uma retrospectiva de sua
carreira que ficou exposta na galeria da Sociedade Renascentista na
Universidade de Chicago de meados de maio a meados de julho e vai viajar pelo
país no ano que vem.
Para o crítico Arthur
Danto, que escreveu um ensaio para o catálogo de "Retratando
Pessoas", um humanismo subjacente unifica toda a obra de Bey. "Há uma
qualidade de clareza, de simpatia e compreensão", disse Danto. "As
pessoas às vezes falam que algumas de suas fotos possuem a mesma qualidade que
as obras de Rembrandt".
"Dou um passo
para trás, brinco um pouco com a câmera, faço algo para que elas tenham a
oportunidade de se sentir confortáveis", disse. "Então presto atenção
no momento. A mão no joelho, o cotovelo apoiado na cadeira, tudo isso nos
mostra quem são essas pessoas e como a narrativa do espaço e dos indivíduos
interagem. "
O elemento que
distingue Bey, no entanto, é menos a precisão geométrica com a qual ele
apresenta o espaço em seus retratos do que o que David Travis, ex-curador de
fotografia no Instituto de Arte, refere-se como a "bússola moral" de
Bey.
"Ele realmente
quer descobrir coisas sobre as pessoas, ele não quer ficar apenas na superfície
de suas vidas e sim realmente mostrar quem são ", disse Travis. Mas ao
contrário de Richard Avedon, que muitas vezes fazia com que uma luz
estroboscópica aparecesse quando as pessoas menos esperavam, ou Diane Arbus,
que disse uma vez que fotografar era como "entrar de fininho na cozinha tarde
da noite para roubar biscoitos", Bey insiste que o processo tem que ser
colaborativo.
"Dawoud acredita
que as pessoas que posam para ele possuem uma voz, e ele não vai roubar algo
que não queiram que seja mostrado", disse Travis. "Ele sempre toma
muito cuidado para ter certeza de que não irá roubar um momento da pessoa que
ele está fotografando. Ele não quer ser um intruso."
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