quinta-feira, 25 de maio de 2023

GOOGLE RETIRA DE SUA LOJA DE APPS JOGO SIMULADOR DE ESCRAVIDÃO


Edição: Adilson Gonçalves

Fonte: O Globo    

 Após repercussão negativa, o Google removeu ontem à tarde de sua loja de download de aplicativos um game chamado “Simulador de Escravidão”, em que o usuário assume o papel de proprietário de pessoas escravizadas para “extrair lucros e evitar rebeliões e fugas”. Castigos físicos faziam parte do jogo desenvolvido pelo estúdio Magnus Games e que trazia, na sua divulgação, a imagem de homens negros sem camisa trabalhando ao redor de um “senhor” branco bem vestido e de chapéu. Pela descrição do game, o jogador seria capaz de “gerenciar seus escravos, mudar suas condições de vida e treiná-los”, além de protegêlos “para evitar que escapem e se levantem”. Fazer negócios com os escravizados era também parte do jogo, que permitia torturas.

     Lançado no dia 20 de abril deste ano, o aplicativo, que contava com mais de mil downloads ontem, gerou uma onda de denúncias nas redes. Os produtores afirmavam na Play Store que o aplicativo foi criado para “fins de entretenimento”, sendo que eles condenam “a escravidão no mundo real”. Na tela de abertura do game, aparecia uma notificação informando que todo o conteúdo era fictício, sem vínculo a eventos históricos específicos, e que “todas as coincidências são acidentais”. NEGRO ACORRENTADO O simulador incluía três tipos escravizados: trabalhadores, gladiadores e escravos de prazer. “Compre e venda-os. Cada escravo é adequado para um determinado negócio. Treine seus escravos para aumentar seu nível de maestria e renda”, dizia a descrição. O “escravo trabalhador” era exibido como um homem negro acorrentado pelo pescoço, enquanto o gladiador tinha tom de pele mais claro. Já o “escravo por prazer” traz uma mulher branca com roupa de dança. 

    Em nota, o Google afirmou que removeu o aplicativo da Play Store e que tem um “conjunto robusto de políticas que visam manter os usuários seguros e que devem ser seguidas por todos os desenvolvedores”. “Não permitimos apps que promovam violência ou incitem ódio contra indivíduos ou grupos com base em raça ou origem étnica, ou que retratem ou promovam violência gratuita ou outras atividades perigosas”, informou a empresa. Nos comentários, que davam média de notas de 4,0 a 5,0 para o aplicativo, usuários deixaram mensagens de ódio e satisfação com o teor do game. “Ótimo jogo para passar o tempo. Mas acho que faltava mais opções de tortura. Poderiam instalar a opção de açoitar o escravo também. Mas fora isso, o jogo é perfeito!”, escreveu um dos usuários, em 22 de maio, que deixou nota máxima. O aplicativo tinha classificação livre e possuía anúncios. 

    O GLOBO tentou contato com o estúdio Magnus Games por email, mas não teve resposta. No registro da Play Store, consta como site oficial da empresa uma página no Facebook com publicações em inglês. Apartir de denúncias nas redes chamando a atenção de que racismo não é entretenimento, o Ministério da Igualdade Racial divulgou comunicado informando que entrou em contato com o Google com a intenção de propor medidas “que contribuam para um filtro eficiente para que discursos de ódio, intolerância e racismo não sejam disseminados com tanta facilidade”. Já a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro vai abrir, por meio das Coordenações de Promoção da Equidade Racial e da Infância, um procedimento instrutório para apurar a responsabilidade civil do Google. O órgão também deve acionar a Polícia Federal para a instauração de um inquérito com o objetivo de investigar se houve “conduta tipificada como racismo recreativo, com a identificação e responsabilização do autor do fato e das pessoas que fizeram comentários igualmente racistas na plataforma”.

terça-feira, 1 de dezembro de 2020

DIEGO ARMANDO MARADONA, MUITO MAIS DO QUE APENAS UM RAPAZ LATINO AMERICANO

Texto e edição: Adilson Gonçalves

Diego Armando Maradona foi intenso, tanto dentro do campo, quanto fora dele; tanto como jogador, como cidadão. Nascido paupérrimo, de origem indígena, de certa forma os negros visíveis da Argentina, jamais se omitiu ou se encastelou nas suas fama e  riqueza. A bola proporcionou-lhe riqueza, a idolatria  não somente pátria, mas planetária.


 

Ao se deparar com sérios problemas no Barcelona, se não o mais rico, um dos mais deles, optou por jogar em Nápoles, a periferia, o lado pobre da Itália, sempre se posicionando politicamente em nomes daqueles que vão sempre perder: os excluídos socialmente. Emprestou a sua e usou as imagens de figuras como Fidel, Che Guevara e outros para senão erradicá-las, diminuir as diferenças sociais.

a miséria e a pobreza, sempre indo além do discurso, das declarações, mas agindo com a atos. Como disse meu amigo
Marcelo Migliaccio, ele aproveitou bem o carrossel.

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

ALERJ CELEBRA DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA HOMENAGEANDO ROBERTO DEL ROSÁRIO, UM DOS SEUS FUNCIONÁRIOS MAIS QUERIDOS


Reportagem, texto e Edição: Adilson Gonçalves

Mesmo que em tempos de pandemia, a Assembléia Legislativa do
Estado do Rio de Janeiro (Alerj) não deixou de celebrar o Dia da Consciência Negra, homenageando um dos funcionários mais emblemáticos da Casa: R
oberto Del Rosário, de 69 anos, dos quais há 35 nela atua.

Negro, como gosta de ressaltar sempre, Roberto, filho de um espanhol, militar da Marinha de Guerra e de uma jornalista negra, contemporânea do pesquisador Sérgio Cabral pai, nasceu em Duque de Caxias, mas cresceu no bairro da Tijuca, Zona Norte do Rio, fazendo do estudos seu alicerce e mola propulsora para crescer pessoal e profissionalmente. Aos 16 anos, prestou exames para o Curso Preparatório para Oficiais da Reserva (CPOR). Inicialmente, serviu no Regimente de Ensino de Infantaria (REI) e depois na Brigada Paraquedista, de onde saiu tenente-capitão. Terminada sua atuação temporária na vida militar, ingressou na fábrica de Coca Cola e depois prestou concurso para o Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, sendo transferido para a Alerj, inicialmente como comissionado e depois como estatutário. Neste meio tempo, cursou Administração nas Faculdades Estácio de Sá, e Educação Física, na Cândido Mendes.

Já dentro da Alerj, ingressou no Departamento de Segurança da Casa, passando por vários setores, como Departamento de Trânsito, chegando à sub-diretoria Geral de Segurança, após participar de cursos de segurança em Curitiba e outros ministrados pela Swat e Bope. Como sub-diretor, implantou a escala atual de 12 horas de trabalho por 36 de descanso, que vigora até hoje.

Sobre a questão do negro no país, Roberto Del Rosário é enfático:


muito triste, em pleno século 21, terceiro milênio, vermos fatos de racismo em todo o planeta, e muito mais ainda no Brasil, a segunda população negra, depois da Nigéria -* ( a entrevista foi realizada antes do assassinato de João Alberto Silveira Freitas, mortos por dois seguranças da Loja do grupo Carrefour, em Porto Alegre)- Eu sou uma pessoa eclética, tanto na minha vida pessoal, quanto na vida profissional, sempre tratei com distinção toda e qualquer pessoa, seja desde o presidente ao mais humilde funcionário da Casa ou qualquer outro. Já tive embates com algumas poucas pessoas aqui dentro, mas eu já perdoei.

Ainda sobre a questão negra, Roberto Del Rosário, relata que nestas nove legislaturas em que está na Alerj, poucos negros atuaram Casa como parlamentares e os enumera: Benedita da Silva, Edmilson Valentin, Renato de Jesus, Paulada.

-Fico muito contente quando vejo que nesta legislatura, a 12 ª, exista um grande número de negros, no caso, mulheres atuando simultâneamente: Mônica Francisco, Dani Monteiro, Renata Sousa e Enfermeira Rejane. Mas ainda é pouco, deveria ser de no mínimo 30% . Isso sem levar em conta o recorte da sociedade no qual somos mais da metade da população-, afirma Roberto.

Tanto zelo e espírito diligente em sua atuação profissional em 35 anos nas segurança e escolta de presidentes, parlamentares, autoridades, artistas e celebridades, talvez tenham influído no momento de relaxamento, distração ou talvez cansaço de Roberto, quando ele foi atingido por cinco tiros de 45 em uma tentativa de assalto, na Barra da Tijuca, há alguns anos.


Passado o susto, a retomada: há três anos Roberto Del Rosário assessora o presidente da Casa, André Ceciliano, que junto com a Diretora de Comunicação Social da Casa, Cristiane Larangeiras, foi o mentor da homenagem a Roberto e ao Dia da Consciência Negra.

-Sou muito grato aos dois pela homenagem e reconhecimento, com eles, principalmente ao presidente André Ceciliano, com quem atuo mais diretamente, a oportunidade. Estou com 69 anos e meio - risos- e somente pretendo me aposentar, compulsóriamente aos 75 anos, em 2026, quando completarei minha 10 ª legislatura- , encerra.



quinta-feira, 6 de agosto de 2020

ALERJ CELEBRA 500 ANOS DA PRIMEIRA VOLTA AO MUNDO

Foto e texto: Comunicação Social Alerj
  Edição: Adilson Gonçalves
A água de coco brasileira foi fundamental para o sucesso da primeira expedição marítima que cruzou o planeta. O fato curioso destaca a passagem pelo Brasil da esquadra liderada por Fernão de Magalhães, que transformou para sempre a ciência náutica, a cartografia e a geopolítica mundial. Esse fato histórico será rememorado pelo Fórum de Desenvolvimento do Rio, órgão vinculado à Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), num seminário na próxima terça-feira (03/12), às 10h, no Plenário do Palácio Tiradentes, para comemorar os 500 anos do feito.
Resultado de uma parceria do Fórum da Alerj com a Associação Luís de Camões, o seminário é gratuito e aberto ao público, e as inscrições podem ser feitas pelo site www.bit.ly/500VoltaMundo.
A celebração contará com um “Pocket Show” do ator Tony Correia baseado na peça “Navegar é Preciso”, que destaca a perseverança e a sagacidade dos navegadores de diversas nacionalidades envolvidos no empreendimento. Também participarão da homenagem, o secretário estadual de Educação, Pedro Fernandes, o secretário de Cultura do município do Rio, Adolpho Konder e os consulados de Portugal, Espanha, Uruguai, Peru, Chile e Argentina.
Representante da Associação Luís de Camões, braço do governo português que congrega instituições responsáveis pela difusão da Educação e da Cultura, a embaixadora Teresa Macedo avalia que celebrar a primeira volta ao mundo estimulará a valorização do conhecimento e do intercâmbio entre os povos. “Essa é uma comemoração que destaca o conhecimento. É ele que nos fornece as raízes para pensar o futuro com sustentabilidade. Por isso, sua celebração não pode ficar restrita a eventos oficiais. Deve envolver toda a sociedade. Dessa forma, a parceria com o Fórum é estratégica, devido à capilaridade da instituição junto à sociedade civil”, analisa a embaixadora.
"Navegar é preciso"
O ator português Tony Correia ganhou notoriedade no Brasil quando interpretou o personagem Machadinho, par romântico de Lucélia Santos, em Locomotivas (1977). O artista revela que o texto que interpretará mostra como o intercâmbio cultural ampliou as potencialidades de todos os povos envolvidos. “A viagem de circum-navegação mudou a face da terra e a maneira de pensar do ser humano. Antes dela comprovar a circunferência do planeta, ainda se acreditava que a terra era plana e terminava em abismos povoados por monstros marinhos. A batata, incorporada a pratos típicos portugueses, também é resultado das grandes navegações”, explica Tony Correia.
Serviço:
Comemoração dos 500 anos da Primeira Volta ao Mundo
Data: 03 de dezembro
Horário: 10h às 13h
Endereço: Plenário Barbosa Lima Sobrinho - Palácio Tiradentes (Rua Primeiro de Março, s/n - Centro - Rio)

quinta-feira, 26 de março de 2020

PLENÁRIA ALERJ APROVA VOTAÇÃO À DISTANCIA DURANTE PANDEMIA NO RJ

A Mesa Diretora da Assembleia Legislativa do Estado do Rio (Alerj) publicou nesta quinta-feira (26/03) a regulamentação das votações com participação remota de parlamentares. O Ato 653/2020, publicado no Diário Oficial do Legislativo, detalha como vão funcionar as votações eletrônicas de projetos de lei durante as sessões plenárias enquanto perdurar a pandemia do coronavirus.
Segundo o ato, nesse sistema excepcional cada deputado pode votar de forma remota a partir de sua residência. No entanto, a medida não impede as votações presenciais caso algum deputado queira comparecer ao Plenário Barbosa Lima Sobrinho, no Palácio Tiradentes, sede da Alerj. O sistema virtual vai ser transmitido no plenário para que todos possam se ouvir e escutar os pronunciamentos e votos.
A presidência das sessões deve ser exercida a partir do Palácio Tiradentes. Todas as sessões virtuais terão que ser arquivadas eletronicamente pela Secretaria-Geral da Mesa Diretora.
Na última quarta-feira (25/03), a Alerj teve pela primeira vez uma sessão com parlamentares participando por meio de videoconferência, discutindo e votando projetos em conjunto com deputados que estavam presentes no plenário. A sessão teve a participação dos 70 deputados da Casa, sendo 29 de forma remota.
Presidente da Alerj, o deputado André Ceciliano (PT) comemorou o sucesso do modelo de votação. "O momento que vivemos fez com que tivéssemos essa sessão remota, transmitida numa plataforma onde todos os parlamentares que estiveram online participaram, deram pareceres, discutiram os projetos, como se estivessem no plenário", destacou.
Com o sucesso do teste, o presidente da Alerj afirmou que na próxima semana serão realizadas duas sessões totalmente remotas, na terça (31/03) e quinta-feira (02/04), com sessão híbrida na próxima quarta-feira. "É a Democracia em pleno funcionamento neste momento duro para o mundo inteiro, que esperamos ser superado o quanto antes para voltarmos à normalidade", pontuou.
André Ceciliano destacou a importância das medidas de isolamento social, seguidas pela Alerj com a realização de sessões remotas e redução do trabalho presencial, entre outras ações. "Precisamos nos proteger. A economia é importante, mas as vidas estão em primeiro lugar".

quarta-feira, 4 de março de 2020

EX-SECRETÁRIO-ADJUNTO DE TURISMO DE SANTOS É CONDENADO POR COMENTÁRIOS RACISTAS VAZADOS EM GRUPO DE WHATSAPP

Fonte: Diário do Litoral
 Edição: Adilson Gonçalves
O ex-secretário-adjunto de Turismo de Santos, Adilson Durante Filho, recebeu uma condenação da Justiça por danos morais coletivos após ter um ádio vazado em abril de 2019 onde ele proferiu um comentário racista. "Pardos e mulatos brasileiros são todos mau-caráter", dizia um dos trechos. A indenização foi de R$ 10 mil. A indenização será destinada a instituições que realizam ações de combate ao racismo. Cabe recurso.
O áudio foi publicado em um grupo de amigos de Durante Filho, mas acabou vazando e tomando as redes sociais ainda em abril de 2019. Dias depois o ex-secretário assumiu a autoria do áudio, se desculpou e pediu licença do cargo público. Ele foi exonerado semanas depois.
"Sempre que tiver um pardo, o pardo o quê que é? Não é aquele negão, né?, mas também não é o branquinho. É o moreninho da cor dele. Esses caras – você tem que desconfiar de todos, de todos que tu conhecer. Essa cor é uma mistura, é, duma raça que não tem caráter. É verdade, isso é estudo", disse Durante Filho no áudio.
CARTA DE DURANTE FILHO SOBRE O EPISÓDIO:
"Com relação a um antigo áudio de alguns anos atrás que circula nas mídias sociais, de minha autoria, gostaria de expor que, em um momento de infelicidade e levado pela emoção, em decorrência de um fato que muito me abalou, acabei me expressando de forma absolutamente diversa das minhas crenças e modo de agir. Jamais tive a intenção de atingir quem quer que seja, até porque assim me manifestei em um pequeno grupo de supostos amigos de WhatsApp.
Consigno que não tenho qualquer preconceito em razão de cor, raça ou credo, pois minha criação não me permitiria ser diferente. Peço, humildemente, desculpas a todos que se sentiram ofendidos, e expresso, por meio deste comunicado, meu mais profundo arrependimento quanto às palavras genericamente proferidas."

terça-feira, 3 de março de 2020

ABERTAS AS INSCRIÇÕES PARA O DIPLOMA HELONEIDA STUDART 2020; O HOMENAGEADO DESTE ANO É BENJAMIN DE OLIVEIRA, PRIMEIRO PALHAÇO NEGRO DO BRASIL

começaram nesta segunda-feira (02/03) as inscrições para a edição do Diploma Heloneida Studart 2020, premiação concedida anualmente pela Comissão de Cultura da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). A iniciativa tem como objetivo destacar ações, produtores     culturais e movimentos culturais.   
 Neste ano, a premiação homenageia o aniversário de 150 anos do nascimento   do primeiro palhaço negro do país, Benjamin de Oliveira. As inscrições se   encerram no dia 08 de abril e podem ser feitas através do seguinte   formulário: https://forms.gle/qWedjSPgvAHzFp4x9.                                    
Segundo o regulamento, podem se inscrever pessoas físicas, instituições   públicas e privadas de todo o Estado do Rio de Janeiro que atuem em um dos   segmentos descritos nas regras de participação. A divulgação dos selecionados   será realizada até o dia 29 de maio no site da Alerj e nas redes sociais da   Casa  e da Comissão de Cultura. A diplomação está programada para o mês de j Junho, em local a ser divulgado.
"Seguimos firmes em defesa da cultura, em mais uma edição desse prêmio tão   importante que é exatamente um instrumento de reconhecimento e incentivo   para agentes, coletivos e instituições de ensino que atuam na área da cultura   do estado do Rio de Janeiro", disse o deputado Eliomar Coelho (PSOL),presidente da Comissão de Cultura da Alerj. 
As regras para a participação na premiação podem ser consultadas por meio do    link eu se segue: https://tinyurl.com/rh2qvz5.
       

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

ESTADO DO RIO DE JANEIRO RECONHECE APENAS 6% DE SUAS COMUNIDADES QUILOMBOLAS


Fonte: Alerj
Edição: Adilson Gonçalves
O Estado do Rio conta com 48 comunidades quilombolas, e apesar do direito à terra ser garantido pela Constituição Federal, apenas três quilombos possuem título de propriedade. A informação foi divulgada pelo coordenador nacional de Articulação de Comunidades Negras Rurais e Quilombolas, Ronaldo dos Santos, durante audiência pública das comissões de Cultura, Assuntos Municipais e Habitação da Assembleia Legislativa do Estado do Rio (Alerj), nesta segunda-feira (17/02). Ronaldo afirmou que sem a titulação de terras, não há proteção ao patrimônio.
“Com os títulos, aquela comunidade tem a garantia de permanência na terra por muito tempo. Os quilombos estão sendo exterminados com o avanço da especulação imobiliária e é fundamental que a regularização aconteça, para que essa cultura não morra”, afirmou Ronaldo. Os quilombos que foram regularizados, a partir de 2012, ficam em Paraty, Cabo Frio e Mangaratiba.
Para o coordenador, o número insuficiente de quilombos registrados demonstra a negação e a falta de políticas públicas para essa parcela da população. “Vivemos um racismo institucional. A máquina está preparada para não reparar o crime da escravidão. Em alguns estados, temos leis específicas para os quilombos. No entanto, no Rio notamos que o tema ainda é pouco abordado, apesar de estarmos falando de um patrimônio material e imaterial do estado”, desabafou Ronaldo.



























Além das questões culturais





Após ouvir as demandas dos representantes de instituições quilombolas, a secretária de Estado de Cultura e Economia Criativa (Secec), Danielle Barros, antecipou que quando o Fundo Estadual de Cultura for operacionalizado, o governo terá editais específicos para potencializar a cultura dentro dos quilombos. Danielle lembrou, porém, que as demandas das comunidades vão além das questões culturais e dependem da articulação de outros órgãos do estado. “Reconheço a importância que as comunidades quilombolas têm e vamos nos esforçar, como pasta, para resolver o que estiver ao nosso alcance. Mas é importante lembrar que existe um problema maior do que o tombamento imaterial dos quilombos, que é a preservação do território”, declarou a secretária.
Além da proteção dos territórios dos quilombos, os deputados acreditam que a preservação passa por uma ação conjunta das pastas de Cultura, Educação e Habitação. Segundo eles, essa parceria é essencial para preservar a memória do povo quilombola e para promover a valorização desses espaços. 
“A ação conjunta é fundamental para que a gente mantenha o que consideramos patrimônio material e imaterial do Rio preservado. As secretarias precisam conversar entre si, e a Alerj vai contribuir na promoção desses debates nas essas ações coletivas que são necessárias”, garantiu o presidente da Comissão de Cultura da Casa, deputado Eliomar Coelho (PSol). O parlamentar Luiz Paulo (PSDB) também compareceu à reunião.




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ÓRGÃOS PÚBLICOS DO RJ PODERÃO TER CURSO INTERNO DE CAPACITAÇÃO CONTRA O RACISMO INSTITUCIONAL


Fonte : Alerj Edição: Adilson Gonçalves
Os órgãos da administração pública direta e indireta podem passar a ter cursos internos obrigatórios de capacitação contra o racismo. A medida faz parte do Programa de Prevenção, Capacitação e Enfrentamento ao Racismo Institucional, proposto no projeto 299/19, das deputadas Dani Monteiro, Mônica Francisco e Renata Souza, todas do PSol. A medida será votada em primeira discussão pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, nesta quarta-feira (19/02).
Os cursos deverão ter um presença mínima de 75%. O programa também prevê a produção e divulgação de campanhas sobre o racismo institucional, como a produção de seminários anuais, abertos ao público em geral, para apresentação de resultados e perspectivas de desafios. A medida ainda propõe que o Estado produza e divulgue os dados sobre o perfil étnico-racial dos funcionários de todos os cargos e setores.
“Os recentes casos de racismo enfrentados pelas deputadas negras da Alerj evidenciam uma cruel faceta do racismo institucional, que não reconhece corpos negros como autoridades de Estado. Esse projeto tem o objetivo de oferecer parâmetros mínimos para a formulação de uma capacitação permanente que debata as questões relativas ao racismo na institucionalidade”, justificaram as autoras.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

Da estratégia de caramujo de Machado de Assis ao racismo estrutural: black money e a imprensa de resistência

 Texto: Fabrício César de Oliveira Fonte: Observatório de Imprensa
Edição: Adilson Gonçalves
A técnica jornalística, a atitude e a escrita de Machado de Assis são reconhecidas por todos da área, mas poucos sabem de sua “estratégia de caramujo” enquanto homem negro em uma sociedade sem democracia racial. O trabalho de tipógrafo, revisor, crítico teatral e cronista nos jornais do século XIX deram a Joaquim Maria Machado de Assis segurança e tempo para exercer o que mais gostava: escrever com criticidade. No entanto, tudo isso não apaga sua origem negra (pai e avós paternos), sua negritude e sua luta antirracismo. Sendo o modo como escreve, o lugar de onde fotografa com palavras a realidade (realismo machadiano) e a escolha estratégica de vida as fontes de toda sua genialidade. Tal genialidade não é a que devemos cobrar dos nossos jornalistas atuais, porém não podemos tolerar deles, ainda mais de homens brancos, atitudes racistas como a do âncora do Bom Dia São Paulo, Rodrigo Bocardi, na última sexta feira (07).
A “estratégia de caramujo” – adotada e declarada, aos leitores atentos, em uma crônica da semana de 13 de maio de 1893 (cinco anos depois da abolição da escravatura) – mostra um escritor negro que escolhe andar pelas frestas, pelas ambiguidades das relações sociais da burguesia brasileira; e não mudou muito o modo como o racismo no Brasil é velado, mas existente. Machado de Assis escolhe ser “o mais encolhido dos caramujos” (como retratam os críticos Eduardo de Assis Duarte e Lilia Moritz Schwarcz, em seus respectivos estudos), pois, em sociedades pré-abolição e pós-abolição vividas pelo “bruxo do Cosme Velho”, a estratégia de escrever sobre a podridão burguesa por dentro da própria burguesia é marca de um gênio que criou representações como Brás Cubas, Bentinho, Capitu, o agregado José Dias, Rubião, Quincas Borba, Cândido Neves, Tia Mônica, os Pádua, entre outros tantos personagens de uma época mergulhada em uma ideologia de consumo burguês, eurocêntrico e branco.
Machado denunciava o sistema de dentro. A “estratégia de caramujo” de Machado é, portanto, uma singularidade de um gênio produzida por nossas maiores chagas: a escravidão e o racismo, velado ou não. Contudo, Joaquim Maria não se dobraria ao ambiente, mas sim criaria uma casca, um casulo protetor, como o de um caramujo, de onde poderia mover-se lentamente, por letras, por palavras, poderia fazer suas críticas, deixando um rastro no chão, quase imperceptível para quem tinha olhos distraídos; mas bastaria olhar mais de fora, por uma espécie de exotopia, para ver claramente a estratégia de um “bruxo caramujo” e seu rastro, como podemos agora ver, ler e nos deliciar. Logo, a “estratégia de caramujo” declarada pelo autor foi seu modo de denunciar o racismo em suas entranhas mais perversas, inconscientes e veladas. Racismo tão agudo e estrutural que tentou embranquecê-lo em fotos em campanhas publicitárias e em livros, ao longo das décadas. A “estratégia de caramujo” é, portanto, mais uma forma de denúncia machadiana à podridão burguesa e, principalmente, ao racismo.
Passados mais de 110 anos da morte (1908) do mestre e escritor negro, Machado de Assis, e mais de 130 anos da abolição da escravatura (1888), o racismo ainda é nossa maior marca de desigualdade na sociedade mais desigual do mundo, segundo último relatório do PNUD/ONU de 2019. Embora sejamos, 54% da população, movimentemos mais de R$ 1,71 trilhões anualmente e sejamos 51% dos empreendedores, 75% dos negros estão nos 10% mais pobres e ainda é gritante a diferença média de 40% a menos no salário dos negros em relação aos brancos; além disso, a cada 23 minutos um negro é assassinado no país, em uma proporção quase quatro vezes maior do que o risco corrido pelos brancos. Mais assustador ainda é saber que 80% dos mortos por policiais no Rio de Janeiro, em 2019, eram nossos negros. São dados de um sintoma, são dados de uma patologia social vinculada à desigualdade: o racismo estrutural.
Não é preciso ir muito longe no tempo e no espaço para termos outro exemplo de racismo estrutural. Rodrigo Bocardi, jornalista da Globo, ao se justificar no Twitter, na sexta-feira (07), dizendo que alguém com a origem dele não pode ser racista, dá abertura para que o próprio autoelogio seja uma atitude racista: “Alguém como eu não pode ter preconceito. Eu não tenho. Nunca tive. Nunca terei”.
Mas o que houve para o apresentador ir até o Twitter? Na sexta, em reportagem sobre mobilidade urbana, um dos maiores problemas da cidade de São Paulo, um jovem negro com camiseta esportiva de um clube de elite foi entrevistado pelo repórter de rua da Globo. Na tentativa de fazer um diálogo amistoso entre o estúdio e o entrevistado, o âncora fez uma indagação fora do contexto da reportagem, perguntando se ele era pegador de bolinhas no Clube Pinheiros. Uma pergunta impregnada de senso comum e estereotipagem. A resposta do jovem Leonel, negro entrevistado, foi um misto de desapontamento e assertividade no olhar e na voz: “Não, não, não. Sou atleta do Pinheiros. Jogo polo aquático”. Depois disso e da desconstrução do estereótipo contido na pergunta do âncora, veio uma enxurrada de críticas ao apresentador, ao vivo e pelas mensagens das redes interativas. A saída encontrada pelo jornalista, branco, foi dada no Twitter. Muitos veem preconceito na pergunta de Bocardi; outros, nem tanto. Mas o que não se pode negar é a existência do racismo, nem se pode dizer de forma categórica, dogmática e axiomática que “Nunca tive. Nunca terei (atitude preconceituosa)”, pois afirmar de tal forma já é um ato de falta de um questionamento mais profundo, histórico e honesto.
Por outro lado: as saídas, a inclusão e o jornalismo preto
Não vivemos mais nos tempos machadianos: o jornalismo mudou, pois a sociedade está em transformação. As denúncias que outrora eram veladas, em invólucros de escritor caramujo, agora estão mais evidentes, pois é assim que revelamos os sintomas e podemos tratá-los coletivamente. Não escondendo a ferida, que poderá virar tumor, mas pedindo ajuda ou mesmo apontando o dedo para ela. Está sendo assim que o jornalismo dessa segunda década do século XXI no Brasil vem se manifestando: pela voz de quem tem sua singularidade e existência colocadas em xeque por questões patológicas e pseudocientíficas ainda do século XIX. Está sendo assim que o jornalismo preto vem cada vez mais aparecendo (e deve), seja no Alma Preta Jornalismo e no Letra Preta, da revista piauí, ou por influências fortes de grupos de estudos nas universidades, como o Geledés, organizado e coordenado por mulheres negras, como a filósofa e doutora em educação Sueli Carneiro, ou por forte atuação de grupos, hubs e startups como o Black Money, fundado em 2017, que tem na liderança uma brasileira negra, chamada Nina Silva, eleita pela revista Forbes uma das mulheres mais poderosas do Brasil e que ficou entre as 100 figuras afrodescendentes mais influentes com menos de 40 anos no ranking da Most Influential People of Africa Descent, instituição ligada à Organização das Nações Unidas (ONU). O Black Money prioriza o consumo entre os negros fazendo circular capital entre eles; a ideia é dar autonomia à comunidade negra na era digital e fortalecer o ecossistema de negócios geridos por essa população. É esta, portanto, a ideia mais objetiva, segundo alguns articuladores, de enfrentamento ao racismo estrutural no Brasil, pois ataca a raiz do problema: o capital burguês, que aos poucos vai ganhando cor, melanina e aspectos de democracia, realmente liberal e racial. Une, portanto, a luta contra o racismo a uma luta de inclusão ao sistema.
Machado de Assis não errou em nada. Não podemos acusá-lo, anacronicamente, de não ter feito jornalismo preto nem abolicionista; por isso, não errou. Fez de seu modo uma denúncia antirracista e profundamente antissistêmica. Exímio que era, mostrou-nos, e mostra sempre, quais os problemas da alma burguesa, quais seus defeitos, sua podridão de comportamento, suas patologias e jogos sociais. Mostrou-nos como um caramujo-escritor, deixando o rastro na terra, deixando o rastro em palavras e crítica, fez seu sinal de alertar sobre a sociedade que se apoia em pseudociências (como o racismo). Genial, Machado ironizou seu tempo e os modos de vida que o circundavam. Em outra perspectiva, o Black Money nos mostra como usar de estratégias do sistema os modos de modificar o próprio sistema pela inclusão do negro. É uma saída. Uma outra saída. Antirracista, mas não antissistêmica.
Mais de um século depois, não há como ser jornalista, escritor, brasileiro, da mesma forma, sem denunciar e sem ler os rastros que o “bruxo do Cosme Velho” tanto fez questão que nós lêssemos com o passar do tempo. E nem há saída à sociedade sem jornalismo preto e a força de movimentos como o Black Money. Muito menos há como seguir fazendo jornalismo, sendo homem branco, sem sair do seu lugar de privilégio ou sequer parar para se desculpar com os que ofendeu, como ainda não fez Rodrigo Bocardi na TV, embora já tenha pedido desculpas para o público seleto e mais crítico do Twitter. É hora da escuta! Foi-se o tempo da “estratégia de caramujo”, mas sempre será tempo de Machado de Assis!