quinta-feira, 25 de maio de 2023

GOOGLE RETIRA DE SUA LOJA DE APPS JOGO SIMULADOR DE ESCRAVIDÃO


Edição: Adilson Gonçalves

Fonte: O Globo    

 Após repercussão negativa, o Google removeu ontem à tarde de sua loja de download de aplicativos um game chamado “Simulador de Escravidão”, em que o usuário assume o papel de proprietário de pessoas escravizadas para “extrair lucros e evitar rebeliões e fugas”. Castigos físicos faziam parte do jogo desenvolvido pelo estúdio Magnus Games e que trazia, na sua divulgação, a imagem de homens negros sem camisa trabalhando ao redor de um “senhor” branco bem vestido e de chapéu. Pela descrição do game, o jogador seria capaz de “gerenciar seus escravos, mudar suas condições de vida e treiná-los”, além de protegêlos “para evitar que escapem e se levantem”. Fazer negócios com os escravizados era também parte do jogo, que permitia torturas.

     Lançado no dia 20 de abril deste ano, o aplicativo, que contava com mais de mil downloads ontem, gerou uma onda de denúncias nas redes. Os produtores afirmavam na Play Store que o aplicativo foi criado para “fins de entretenimento”, sendo que eles condenam “a escravidão no mundo real”. Na tela de abertura do game, aparecia uma notificação informando que todo o conteúdo era fictício, sem vínculo a eventos históricos específicos, e que “todas as coincidências são acidentais”. NEGRO ACORRENTADO O simulador incluía três tipos escravizados: trabalhadores, gladiadores e escravos de prazer. “Compre e venda-os. Cada escravo é adequado para um determinado negócio. Treine seus escravos para aumentar seu nível de maestria e renda”, dizia a descrição. O “escravo trabalhador” era exibido como um homem negro acorrentado pelo pescoço, enquanto o gladiador tinha tom de pele mais claro. Já o “escravo por prazer” traz uma mulher branca com roupa de dança. 

    Em nota, o Google afirmou que removeu o aplicativo da Play Store e que tem um “conjunto robusto de políticas que visam manter os usuários seguros e que devem ser seguidas por todos os desenvolvedores”. “Não permitimos apps que promovam violência ou incitem ódio contra indivíduos ou grupos com base em raça ou origem étnica, ou que retratem ou promovam violência gratuita ou outras atividades perigosas”, informou a empresa. Nos comentários, que davam média de notas de 4,0 a 5,0 para o aplicativo, usuários deixaram mensagens de ódio e satisfação com o teor do game. “Ótimo jogo para passar o tempo. Mas acho que faltava mais opções de tortura. Poderiam instalar a opção de açoitar o escravo também. Mas fora isso, o jogo é perfeito!”, escreveu um dos usuários, em 22 de maio, que deixou nota máxima. O aplicativo tinha classificação livre e possuía anúncios. 

    O GLOBO tentou contato com o estúdio Magnus Games por email, mas não teve resposta. No registro da Play Store, consta como site oficial da empresa uma página no Facebook com publicações em inglês. Apartir de denúncias nas redes chamando a atenção de que racismo não é entretenimento, o Ministério da Igualdade Racial divulgou comunicado informando que entrou em contato com o Google com a intenção de propor medidas “que contribuam para um filtro eficiente para que discursos de ódio, intolerância e racismo não sejam disseminados com tanta facilidade”. Já a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro vai abrir, por meio das Coordenações de Promoção da Equidade Racial e da Infância, um procedimento instrutório para apurar a responsabilidade civil do Google. O órgão também deve acionar a Polícia Federal para a instauração de um inquérito com o objetivo de investigar se houve “conduta tipificada como racismo recreativo, com a identificação e responsabilização do autor do fato e das pessoas que fizeram comentários igualmente racistas na plataforma”.

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