Dois dias antes do aniversário de 48 anos do golpe de 1964, um debate
marcado por elogios à ditadura terminou com cerca de 300 pessoas, a maioria
militares da reserva e alguns ex-integrantes do regime, sitiados por
manifestantes que os acusavam de tortura e assassinato, na sede do Clube
Militar, na Cinelândia, no centro do Rio. A Polícia Militar fez um corredor com
policiais com escudos e cassetetes entre a porta principal da instituição, na
Avenida Rio Branco, e uma das bocas da estação do Metrô, para garantir a saída
em segurança das pessoas, e usou bombas de gás e de efeito moral contra os
ativistas. Foi impossível, porém, evitar que os manifestantes, ligados a PT,
PCdoB, PSB, PDT e movimentos sociais, os insultassem com palavrões e gritos de
"assassino", "torturador", além de berros como
"mulheres foram estupradas pela repressão". Cercados ao tentarem sair
pela lateral, alguns militares da reserva ganharam banhos de tinta e tiveram de
correr.

Em meio à confusão, alguns militares da reserva conhecidos saíram escoltados e amparados por seguranças. Um deles era o general Nilton de Albuquerque Cerqueira, ex-presidente do Clube que foi secretário de Segurança Pública do Rio nos anos 90 e, ainda como major servindo no DOI-Codi de Salvador, empreendeu a caçada que culminou na morte do ex-capitão do Exército Carlos Lamarca na Bahia, em 1971. Aparentemente, não foi reconhecido. Também o general da reserva Gilberto Figueiredo, que presidiu o Clube, saiu sob escolta e foi insultado. Além dos ovos, os manifestantes, na maioria estudantes, jogaram tinta vermelha e fizeram "chamadas" com os nomes de mortos e desaparecidos políticos do regime militar. Em pelo menos uma vez, um dos participantes do debate recebeu uma cusparada; outro foi cercado na esquina da Rio Branco com Santa Luzia, escapando após a detonação de bombas de gás. Dois manifestantes foram derrubados por disparos de pistolas Taser (elétricas)
"Torturador! Assassino!", berrou um manifestante para um homem de cabelos brancos que entrava no acesso ao Metrô, sob escolta de PMs. "É a tua mãe!", respondeu o idoso. O vice-presidente do Clube, general da reserva Clovis Bandeira, afirmou que os manifestantes queriam impedir uma reunião de quem pensasse diferente. Logo após o debate, chegou a haver orientação para que os participantes descessem em pequenos grupos, saíssem pela Santa Luzia e evitassem provocações. Ao chegarem ao térreo, porém, foram barrados pelos seguranças, que estavam muito tensos e pediram que voltassem. A socióloga Mira Caetano foi atingida por bombas de efeito moral, e apresentava ferimentos no seio, na barriga e na perna. "Fechamos a rua e começaram a jogar spray de pimenta. A gente não saiu, e nem vi quantos policiais eram, fiquei desnorteada e acho que na hora desmaiei".
Lá em cima, o debate "1964 - A Verdade" foi marcado por elogios à ditadura e críticas à Comissão da Verdade, criada por lei sancionada pela presidente Dilma Rousseff para investigar crimes ocorridos na ditadura. "Devemos olhar para a frente", pediu um dos debatedores, o jornalista Aristóteles Drummond.
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