Mineiro derrotou os poderosos fraudadores das eleições de 1982 |
Texto:Adilson Gonçalves
O Jornalismo perdeu no último final de semana um de seus grandes heróis: morreu, aos 65 anos, Procópio Mineiro da Silva, o responsável pelo desmonte de um projeto que poderia ter mudado, para pior, a história recente do Rio de Janeiro e do país: o Escândalo Proconsult. Editor da Rádio Jornal do Brasil,foi ele quem deu base à tese de Leonel Brizola, candidato do Partido Democrático Trabalhista (PDT) de que havia um esquema de manipulação de resultados na eleição de 1982, com o objetivo impedir a chegada do velho caudilho ao governo do Estado do Rio de Janeiro; o outro objetivo, não menos obscuro, era garantir a eleição do então candidato do Partido Democrático Social (PDS), Moreira Franco. Ao montar uma equipe de apuração paralela, Procópio ajudou a desbaratar a trama engendrada pelos integrantes do resquício da ditadura militar.
A GRANDE FARSA
As eleições de 1982 - para governador, senador, deputado federal, deputado estadual, prefeito e vereador- representavam a retomada do estado democrático, a primeira, após o sistema bipartidário- Movimento Democrático Brasileiro (MDB) e Aliança Renovadora Nacional(Arena) - imposto pelo regime militar. O primeiro partido tornou-se PMDB e o segundo, PDS. Além deles, participavam ainda do pleito daquele ano o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), Partido dos Trabalhadores (PT) e PMDB, pelos quais concorreram ao cargo de governador do estado Sandra Cavalcanti, Lysâneas Maciel e Miro Teixeira, respectivamente. As regras das eleições daquele ano impunham que os votos de todas as instâncias fossem de uma mesmo partido. Por isso, havia a estimativa de um alto índice de votos nulos. A responsável pela totalização dos votos era a empresa Proconsult - - contratada pelo TRE do Rio de Janeiro , apesar de ligada ao Serviço Nacional de Informações (SNI).
A grande farsa foi montada em duas frentes: enquanto a Proconsult desviava os votos brancos e nulos para Moreira Franco, um poderoso grupo comunicação divulgava somente a média dos resultados do interior do estado, que detinha somente um terço do eleitorado e que era reduto da família Amaral Peixoto, do qual Moreira, à época, era herdeiro. Tal ardil o manteria sempre à frente da contagem de votos, facilitando, assim, a manipulação da opinião pública. A apuração paralela da equipe do Jornal do Brasil divergia do resultado oficial, assim como o da empresa Sysin Sistemas e Serviços de Informática, contratada pelo PDT. Entre os dois contendores, a apuração jornalistica da equipe de mineiro foi o fiel da balança. Ainda em meio à polêmica apuração Mineiro foi demitido da Radio, mas seu trabalho teve continuidade
MINEIRO, PERNAMBUCANO E CARIOCA
Pernambucano de nascimento, mineiro de sobrenome e carioca por adoção, Procópio da Silva Mineiro, saiu de seu estado e chegou ao Rio de Janeiro ainda adolescente, indo morar em São João de Meriti, Baixada Fluminense, onde sempre residiu até a morte. Procópio ingressou no jornalismo nos anos 70. Especialista em jornalismo radiofônico, sendo considerado um dos melhores editores de noticiário de rádio de sua geração, a convite de Brizola, Procópio Mineiro após sua demissão da Rádio Jornal do Brasil assumiu, entre outros cargos, a direção da Rádio Roquette Pinto, tendo também sido editor, da revista “Cadernos do Terceiro Mundo” – de Neiva Moreira.
O jornalista Luis Nacif comentou a morte de Mineiro:
- Ele foi maior redator de rádio com quem já trabalhei, um editor muito competente e que dirigiu a Rádio JB. Foi nessa emissora que ele impediu uma das maiores fraudes eleitorais da história do Brasil, a da Proconsult, com o objetivo de eleger o candidato do regime militar, Moreira Franco, contra Leonel Brizola, para o governo do Rio de Janeiro em 1982. Auxiliado por outro grande jornalista, Peri Cota, Mineiro montou uma apuração paralela que impediu a concretização da fraude. O Brasil deve a ele, ao Cota e à equipe de jornalismo da Rádio JB de então, a garantia do respeito ao voto popular. A direção de redação do jornal manteve uma neutralidade dúbia e só passou a apoiar a ação do Procópio e de sua equipe quando já era mais do que evidente que uma fraude já estava desmascarada. A ação de Procópio nunca mereceu o reconhecimento devido. Logo depois, foi demitido da Rádio JB. Outros jornalistas assumiram o papel que lhe coube na desarticulação da fraude. Uma injustiça e uma mentira. E o principal beneficiário da fraude abortada foi diretor da Caixa Econômica Federal no Governo Lula e hoje é ministro de estado. A história há de fazer justiça a um jornalista que honrou a profissão às vezes tão vilipendiada nos dias que correm.
Filiado ao PDT desde 1982, Procópio era um militante ativo e integrava o Diretório Regional do PDT do Rio de Janeiro. No 4º Congresso Nacional do PDT, em Brasília, em 2008, foi relator do grupo de trabalho que discutiu a “Democratização dos Meios de Comunicação”. Ultimamente Procópio Mineiro estava trabalhando como redator da Imprensa Oficial do Estado do Rio de Janeiro, onde foi um dos fundadores do “D.O. Notícias”. Procópio Mineiro morreu na tarde de sexta-feria (29/8), vítima de acidente vascular-cerebral. Sua saúde estava debilitada em consequência de dois infartos e também problemas de diabetes. Ele estava internado no Hospital Clínico de Padre Miguel deixou três filhos e foi enterrado último domingo, dia 31 no Cemitério de Irajá.
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