sábado, 2 de junho de 2012

PRESIDENTE DO SINDICATO DOS JOGADORES DA LIGA INGLESA DE FUTEBOL APRESENTA PROJETO QUE PREVÊ DEMISSÃO PARA ATLETAS PRATICANTES DE ATOS RACISTAS

Edição: Adilson Gonçalves Fonte: Mulher Negra e Agências

A Associação dos Jogadores Profissionais (PFA) da Premier League apresentou esta semana um projeto que prevê a demissão de esportistas que cometerem o crime de racismo previsto na Declaração dos Direitos Humanos que consagra a ideia da igualdade independente de raça, cor, religião, nacionalidade ou sexo. O presidente da PFA, Gordon Taylor acredita que os conselhos e clubes esportivos responsáveis pela contratação de seus atletas precisam ser responsabilizados pela conduta de seus jogadores dentro e fora do campo. “Se há jogadores que são considerados culpados de insultos racistas, os clubes e atletas visados têm de estar conscientes de que esse é um motivo sólido para a rescisão de contrato”, afirma. Entre as atividades da data estão uma entrevista coletiva, um boletim de imprensa e um protocolo especial antes das partidas, com os capitães das seleções lendo uma declaração contra o preconceito. Após a leitura, as seleções e árbitros se reúnem no centro do campo e mostram uma mensagem que ratifica a posição do futebol contra a discriminação. O Código Disciplinar da FIFA que descreve as punições por violações ao Estatuto da FIFA, é válido em todos os jogos e competições organizados pela entidade máxima do futebol. O cumprimento dessas normas é obrigatório para todas as federações e seus dirigentes, jogadores, árbitros e todas as outras pessoas aceitas pela FIFA em um jogo ou competição, inclusive os espectadores.
 Luta contra o racismo - O presidente da Fundação Cultural Palmares (FCP) que participou recentemente do Fórum Racismo no Futebol, ocorrido no Rio de Janeiro acredita na democratização dos instrumentos legais como o Estatuto da Igualdade Racial no combate ao racismo e valorização da diversidade étnica. “A discriminação racial precisa ser tratada como um delito inafiançável. Precisamos resguardar o direito a dignidade humana”. E completa: “A Fundação Palmares manifesta seu apoio à iniciativas que promovem o respeito aos direitos fundamentais das vítimas dos crimes de racismo dentro ou fora do país”.  
Entrada do negro no futebol brasileiro – Introduzido no Brasil no final do século XIX, pelos ingleses o futebol não admitia mulatos ou negros nos campos e nas arquibancadas eram raridade. O esporte era praticado pela elite branca das cidades. E os negros para poderem jogar nos clubes de elite eram obrigados a se submeter a situações como usar toucas para esconder o cabelo crespo e se maquiar com “pó de arroz” para clarear a pele, e parecerem como os jogadores brancos.  A popularização da história do futebol brasileiro deve-se em parte pela inserção do negro no esporte considerado “paixão nacional” e sua passagem do amadorismo para o profissionalismo. Existem algumas pesquisas e histórias populares que explicam o surgimento do drible como uma estratégia que os negros utilizavam para se desvencilhar dos adversários brancos sob pena de serem punidos, caso se esbarrassem em campo. 
RELEMBRE ALGUNS CASOS DE RACISMO NO FUTEBOL MUNDIAL

Balotelli

1-      O atacante italiano Balotelli esteve com a seleção italiana sub-21 em na capital do País da Bota. Torcedores da Roma jogaram duas bananas no jogador da Inter de Milão, que foi parabenizado pelo treinador Casiraghi por não reagir. Não foi a única vez que o atacante foi vítima de racismo.
2-      Em 2005, Marc Zoro, o zagueiro da Costa do Marfim, chorou ao ser alvo de músicas de teor racista, entoadas pela torcida adversária, quando jogava pelo Messina contra a Inter de Milão.Revoltado, ele pegou a bola com a intenção de entregá-la ao bandeirinha e abandonar a partida.Zoro foi contido por Adriano e Obefami Martins, o brasileiro e o nigeriano que integram o ataque da Inter. Eles acalmaram o jogador e pediram desculpas pelos insultos proferidos pelos torcedores da Inter. Os dois convenceram Zoro a ficar em campo.
Olisadebe
Eto
Em 2001, durante um amistoso entre a Polônia e a Islândia, torcedores poloneses jogaram bananas no campo. Olisadebe foi o primeiro jogador negro a vestir a camisa da seleção polonesa e, apesar de números marcantes, como marcar oito gols nas Eliminatórias para a Copa de 2002, foi alvo de insultos.
5-       Em 2004, o camaronês Eto'o foi alvo de insultos racistas na partida entre Barcelona e Getafe, válida pelo Campeonato Espanhol. Cerca de 50 torcedores do Getafe imitaram macacos cada vez que o jogador tocava na bola.
6-      Na Libertadores de 2005, o atacante Grafite foi expulso no jogo entre São Paulo e Quilmes, da Argentina, após empurrar o rosto do zagueiro Desábato. Ao deixar o campo, Grafite garantiu que foi ofendido pelo argentino, que o chamou também de macaco.  Revoltado com a atitude do adversário, o atacante são-paulino prestou queixa. Os jogadores do Qulmes tiveram dificuldade para deixar o estádio na ocasião. Désabato acabou detido após o jogo e só foi liberado no dia seguinte. Foi um dos casos mais polêmicos de racismo no Brasil.


quinta-feira, 31 de maio de 2012

CAÓ E INTELECTUAIS NEGROS PARTICIPAM DO SEMINÁRIO SOBRE ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA, PROMOVIDO POR LEONEL BRIZOLA NETO

Edição Adilson Gonçalves
Texto: Letícia Coimbra
Fotos: Fabiane Karine
Uma mesa redonda com a participação de importantes personalidades ligadas ao movimento negro no Brasil debateu no auditório da CMRJ, dia 11, a abolição da escravatura, com o tema “13 de maio, Realidade ou Ilusão?”
Com mediação do vereador Leonel Brizola Neto, a mesa debatedora foi composta pelo deputado Caó, Carlos Alberto de Oliveira, autor da Lei contra o racismo no Brasil, o secretário de Trabalho, Emprego e Renda de Nova Iguaçu, Luis Eduardo, a Iyalorixá, Mãe Edelzuíta, do Instituto Nacional e Órgão Sacerdotal da Tradição e Cultura Afro-Brasileira, a professora Dulce Vasconcelos, presidente do Comdedine/RJ (Conselho Municipal de Defesa dos Direitos dos Negros) e a professora Eliza Larkin, do Ipeafro (Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-brasileiros), viúva de Abdias Nascimento, único negro a se tornar senador no Brasil e candidato ao prêmio Nobel da Paz em 2010, falecido no ano passado.
Caó, cujo nome está ligado a maior conquista da causa anti-racista no Brasil, conquistada em 1989, com a legenda do PDT, lembrou que a abolição foi fruto do movimento protagonizado pelos negros e simpatizantes da causa, embora a história não mostre desta forma. “Várias manobras foram feitas para esvaziar a causa abolicionista, como a Lei dos Sexagenários, que na prática libertava o dono do escravo, que aos 60 anos estava velho e desgastado, da obrigação de sustentá-lo, e da Lei do Ventre Livre, que não libertava ninguém… O Brasil foi um dos últimos países do mundo a abolir a escravidão, e fez isso sem qualquer projeto ou planejamento para incluir os negros na vida social e econômica do país, foram simplesmente jogados para a mendicância”, disse.
Caó lembrou que, em 1889, Ruy Barbosa mandou queimar todos os documentos relativos à entrada de escravos no Brasil e registros sobre a escravidão, destruindo assim importantíssima documentação deste período da história do Brasil. A intenção do jurista foi evitar que os antigos donos de escravos entrassem com processos de indenização contra o Estado, porém, o método que usou foi desastroso do ponto de vista histórico para a memória da cultura afrobrasileira. “Por tudo isso, nossa data é mesmo o 20 de novembro”, concluiu Caó, em alusão a Zumbi dos Palmares e ao Dia da Consciência Negra, que no Rio de Janeiro é celebrado com feriado graças a Darcy Ribeiro, Secretário de Cultura, e ao governador Brizola, que instituiu a data no calendário oficial.
Mãe Edelzuíta, herdeira espiritual de Mãe Menininha do Gantois, o mítico terreiro de Camdomblé de Salvador, que aos 70 anos se formou em Direito no Rio de Janeiro, acredita que a libertação do negro ainda é uma ilusão, pois ainda não há no país uma real igualdade. “Os negros ainda sofrem as consequências da falta de oportunidades, mas a igualdade tem que ser para todos: negros, índios, ciganos, enquanto não houver, é ilusão”, afirmou.
O Secretário de Emprego e Renda de Nova Iguaçu disse que não adiantam as cotas para o ensino superior se não houver educação de qualidade no ensino fundamental e médio, pois é enorme o contingente de pessoas que não conseguem trabalho por falta de qualificação. Ele lamentou o fim dos cursos profissionalizantes gratuitos e de qualidade, como o antigo SENAI. “Atualmente, um curso do SENAI custa caríssimo, cerca de R$ 2 mil, como o trabalhador pobre pode se qualificar? É perverso! Se não houver uma melhoria da educação pública no Brasil, não haverá negros nem para preencher a cota, porque não conseguiremos chegar lá”, alertou Luis Eduardo.

A atuação do PDT em prol da causa negra foi lembrada e exaltada pelos participantes da mesa e da plateia, como a professora Vanda Maria de Souza Ferreira, primeira diretora negra de um CAIC (Centro de Aprendizagem e Integração de Cursos). “O governador Brizola queria que a primeira diretora fosse negra, desconhecida entre os nomes conhecidos do partido, e que tivesse sido diretora de um CIEP, então meu nome foi lembrado. Ele tinha essa visão pioneira de promover e valorizar o negro. Ser negro é ter consciência de uma luta, não é cor da pele”, disse a professora.
Na plateia, José Carlos Brasileiro, ex-presidiário, atualmente presidente do Instituto de Cultura e Consciência Negra Nelson Mandela, deu um depoimento sobre o despertar de consciência que teve na prisão após assistir uma palestra da professora Vanda de Souza Ferreira, quando era detento. “Eu era um rebelde sem causa. A presença daquela mulher linda, negra, inteligente, uma autoridade que vestia um traje diferente, uma veste amarela e enfeites africanos, mexeu comigo. A partir daquele momento algo mudou em mim, na minha autoestima, eu percebi que era preto, mas não tinha consciência negra”, resumiu. O encontro dos dois no auditório da CMRJ e o depoimento de Brasileiro, recém-filiado ao PDT, levou a professora Vanda às lágrimas, para emoção de todos os presentes.
A presidente do Condedine/RJ, professora Dulce Vasconcelos, lembrou que o PDT foi o primeiro partido a ter em estatuto como prioridade de luta a igualdade racial, e que foram inúmeras as ações de Brizola nesse sentido, como colocar um negro no comando da polícia militar do Rio de Janeiro e chamar negros para ocupar espaços de poder em seu governo, e como candidatos do partido nas esferas estadual, federal e Senado. Outra ação foi a política de defesa da cidadania para os moradores das favelas, razão pela qual foi combatido fortemente por setores reacionários da sociedade, da qual a mídia era porta-voz. Contudo, Dulce vê razões para comemorar o 13 de maio:
-Estamos colhendo os frutos que nossos antepassados e os que apoiaram nossa luta plantaram. A votação das cotas foi uma prova disso, vencemos por unanimidade! As ações afirmativas, porém, são transitórias e ainda insuficientes- disse. O COMDEDINE coordena um movimento para que o recém-descoberto Cais do Valongo, na área do porto, onde milhões de negros africanos desembarcaram como escravos no Brasil, faça parte do Circuito Histórico e Arqueológico da Celebração da Herança Africana no Rio de Janeiro, incluindo também o Cemitério dos Pretos Novos e a Pedra do Sal.
Viúva de Abdias Nascimento, único Senador negro da história do país, eleito pelo PDT, a pesquisadora Elisa Larkin Nascimento, do Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros, disse que a contribuição do negro no campo do conhecimento não é difundida e qualificou de racismo a mentalidade que exclui o negro do passado cultural e tecnológico. “A contribuição tecnológica do negro foi sempre omitida, como se ele não tivesse um saber. A visão racista não coloca o negro como protagonista da história”.
“Nossa dívida com os negros é imensa, tudo neste país foi construído com a participação deles. O fato de existir ainda hoje partidos que questionam as cotas e os reparos sociais mostram muito bem a necessidade de fazermos este resgate de nosso povo”, disse o vereador Leonel Brizola Neto.
Com a autoridade outorgada pelo terreiro de Mãe Menininha do Gantois, Mãe Edelzuíta pegou as mãos do vereador Leonel Brizola Neto e proclamou com a fé:
- Oxalá te guie, que você tem uma missão. Leve o legado do seu avô e contribua para a compreensão mútua e a paz.
-OGUNHÊ! – a saudação de Ogum ecoou no auditório. Na tradição afro-brasileira, Ogum é o Orixá guerreiro e valente que nos ensina a lutar pelo que é certo e não esmorecer nas situações adversas. No sincretismo, ele é São Jorge, que abre os caminhos e vence as demandas.

domingo, 27 de maio de 2012

EMBAIXADA ANGOLANA COLOCA ADVOGADOS À DISPOSIÇÃO DA FAMÍLIA DE ESTUDANTE ASSASSINADA EM SÃO PAULO


Edição Adilson Gonçalves
São Paulo – O Embaixador de Angola no Brasil, Nelson Cosme, disse hoje que os familiares de Zumira Cardoso, estudante assassinada terça-feira última, em São Paulo, e de outros três cidadãos angolanos feridos, terão assistência jurídica de advogados para defenderem a sua causa.
A informação foi prestada durante uma reunião, em São Paulo, com os familiares, antes da transladação dos restos mortais de Zumira Cardoso para Angola. 
Segundo o diplomata já foram feitos contactos junto das autoridades brasileiras no sentido de a Embaixada angolana ser formalmente informada das investigações policiais e do andamento do processo judicial em torno deste triste acontecimento. 
Mais de uma centena de estudantes angolanos marcaram presença na cerimónia alusiva à última homenagem à malograda Zumira Cardoso
a oportunidade, o diplomata Angolano manifestou a sua solidariedade e exortou os estudantes a manterem-se firmes e elevarem o bom nome de Angola, aguardando que as autoridades competentes acompanhem o assunto nos fóruns adequados.
Quanto aos feridos, o diplomata disse que o Consulado de Angola em São Paulo vai apoiar e acompanhar o estado de saúde dos mesmos.
Refira-se que Zumira Cardoso estava a concluir o seu mestrado em engenharia. Em sua memória, o Consulado de Angola no São Paulo abriu um livro de condolências.