quarta-feira, 13 de julho de 2011

DEPUTADO DIVULGA CARTA DE REPÚDIO ÀS AGRESSÕES A JOVENS NEGROS POR SKINHEADS; UM DELES É REINCIDENTE

Senhor Presidente,senhoras e senhores deputados,
Venho manifestar o repúdio do nosso mandato e do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) aos atos de intolerância racial que continuam acontecendo em nosso país. No último domingo,a polícia de São Paulo prendeu cinco jovens integrantes de um grupo skinhead,intitulado Impacto Hooligan,por agressão contra quatro pessoas negras na região central da cidade. Outros quatro conseguiram fugir. Os detidos usavam camisetas com os dizeres White Pride (Orgulho Branco) e jaquetas idolatrando Hitler. Com eles foram encontradas facas,correntes,punhais,canivetes,soco inglês e até um machado. Durante depoimento no Distrito Policial,as vítimas,que foram atacadas por volta de 1h da madrugada,contaram que,enquanto recebiam socos e pontapés,seus agressores gritavam:"Negros,nordestinos,filhos da p.,somos skinheads e vamos matar vocês,seus zumbis".
As vítimas prestaram queixa por racismo,mas os detidos foram indiciados por crime de injúria racial. Ora,injúria racial é crime que caracteriza agressão verbal por conta da cor da outra pessoa. O que aconteceu neste domingo foi muito mais do que isso! Mas como o racismo é um crime inafiançavel,o próprio Estado brasileiro ameniza tais agressões,favorecendo a impunidade. Um dos cinco skinheads presos já havia sido indiciado há dez meses por crime de intolerância. Ele liderou uma gangue acusada de praticar um atentado a bomba durante a Parada do Orgulho LGBT de 2009. Mas como foi autorizado a responder o processo em liberdade,pode praticar atos de violência mais uma vez.
Este grupo chamado Impacto Hooligan que é um dos 20 investigados pela Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi),que funciona em São Paulo. Atualmente,a delegacia cuida de 130 inquéritos,a maioria por intolerância religiosa,racial,orientação sexual e preferências esportivas. É a mesma turma que gosta de provocar brigas em estádios de futebol. Segundo a Decradi,para tentar evitar ataques de grupos organizados,os investigadores monitoram as atividades desses grupos,que no total envolvem cerca de 200 pessoas. Mas esta ação não tem sido suficiente.
A delegacia afirma,por exemplo,que o caso deste domingo foi o primeiro em que um grupo de skinheads foi além de agressões verbais contra negros. Não é verdade,senhor Presidente. Organizações de defesa dos direitos humanos e de combate ao neonazismo possuem um conjunto de informações que mostram que esta prática é muito frequente na cidade. Os números do próprio SOS Racismo,registrados pelo Disque Denúncia,revelam mais de um caso de discriminação por dia na capital paulista. Isso porque são números subestimados de agressões,já que muita gente não denuncia porque duvida que a Justiça seja feita.
É por isso,senhoras e senhores deputados,que este caso precisa ser tratado de forma exemplar. Esses agressores,presos em flagrante,precisam ser condenados pela prática de racismo. A Delegacia de Crimes Raciais não pode continuar tratando agressões desta ordem como "injúria racial". Trata-se de um tipo de prática que sempre esteve camuflada em nossa sociedade,mas que no último período – e não somente contra os negros e negras – tem se manifestado de forma objetiva,organizada principalmente pela internet. Tanto que 40% das ocorrências atualmente em investigação pela Decradi se referem a casos cibernéticos. O país precisa repudiar e combater com vigor tais crimes de intolerância.
Gostaria ainda de alertar as autoridades para um novo ato neonazista que está sendo organizado para o próximo sábado,às 8h,na Avenida Paulista,em saudação à Revolução de 30. No ano passado,felizmente a Polícia Militar de São Paulo agiu e conseguiu impedir uma manifestação em homenagem aos 23 anos da morte de Rudolf Hess,nazista que foi o principal auxiliar de Adolf Hitler durante toda sua trajetória até a chegada ao poder. Na época,quem alertou para a organização do ato foi o Movimento Anarcopunk,um grupo antifascista que tem feito diversas denúncias ao Ministério Público contra crimes de intolerância na cidade.
Nosso Mandato se soma então ao movimento negro e a todas as organizações que lutam pelo fim do racismo em nossa sociedade em seu repúdio à agressão praticada neste domingo. Nossa solidariedade às vítimas e nossa reivindicação para que este não seja mais um crime contra a população negra que termine impune.
Se o Brasil avançou na construção de sua democracia e possui em seu ordenamento jurídico uma lei que criminaliza o racismo,os agentes do Estado tem o dever de respeitá-la e garantir seu cumprimento. Do contrário,seguiremos vivendo o mito da democracia racial no país,tratando casos como este de forma isolada e mascarando um preconceito infelizmente ainda estrutural em nosso país,que se manifesta cotidianamente de formas tão violentas quanto esta.
Muito obrigado.
Ivan Valente

JOÃO CÂNDIDO, O ALMIRANTE NEGRO, TERÁ MUSEU NO RIO DE JANEIRO, EM SÃO JOÃO DE MERITI

                                                                         Por Daiane Souza*/FCP
Passados 131 anos do nascimento de João Cândido Felisberto, o Almirante Negro que lutou pelo fim dos castigos corporais no início do século XX e pela melhoria das condições de trabalho na Marinha terá em sua homenagem um museu na cidade fluminense de São João do Meriti, onde viveu seus últimos anos.
O presidente da Fundação Cultural Palmares, Eloi Ferreira de Araujo, reuniu-se na terça-feira, (12) com o presidente do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), José do Nascimento Júnior, e o prefeito do município de São João do Meriti, Sandro Matos, no Rio de Janeiro, para acompanhar o andamento do processo de implantação do museu e discutir algumas possibilidades de parcerias internas e externas.
“Este projeto vai aumentar o valor cultural da Baixada Fluminense e elevar a autoestima de sua população. Será o primeiro museu dedicado a este que é um dos maiores herois da história brasileira”, disse o presidente da Palmares.
Para a Fundação, é importante que a população brasileira reconheça a luta do homem que mudou o rumo da história da Marinha e da população negra brasileira ainda no período pós-escravocrata. Eloi Ferreira reforça que o museu será uma importante ferramenta para que a história deste heroi seja sempre lembrada. O acervo será doado pela família do marinheiro, pela Palmares e pela Marinha do Brasil.
O MUSEU – O memorial que abrigará o histórico da vida e luta do Almirante Negro tem custo estimado em R$ 2 milhões, apenas para um dos quatro edifícios que irá compor o complexo. A arquitetura do prédio principal remeterá a um navio sobre as águas. Dois outros espaços já existem, são casas do período colonial que serão restauradas. A área total do museu será de aproximadamente 700m2.
A prefeitura de São João do Meriti, responsável pela obra, prevê o início da construção para o mês de agosto. O presidente Eloi Ferreira afirma que o complexo será entregue o mais rápido possível.
ALMIRANTE NEGRO – Nascido em 24 de junho de 1880 em Encruzilhada, Rio Grande do Sul, João Cândido pertenceu a uma família de ex-escravos. Aos 13 anos apresentou-se na Companhia de Artífices Militares e Menores Aprendizes no Arsenal de Guerra de Porto Alegre e em 1895 foi transferido para a Escola de Aprendizes de Porto Alegre. Em dezembro do mesmo ano, ingressou na Marinha de Guerra do Brasil.
Teve uma carreira extensa de viagens nacionais e por vários países do mundo nos 15 anos que pertenceu à instituição. Era o marinheiro mais experiente e respeitado pelos colegas e oficiais. Apesar disso, era contrário ao tratamento dado aos subalternos, penalidades que persistiam mesmo após as assinaturas da Lei Áurea, em 1888, e do Decreto n°3 do regime republicano, em 1889.
REFLEXO DA ESCRAVIDÃO – Os castigos a que os marinheiros brasileiros eram submetidos tinham características de tortura e a chibata como principal instrumento “disciplinar”. As penalidades se assemelhavam ao tratamento dado aos escravos pelos capatazes nas fazendas coloniais.
No documentário Cem Anos sem Chibata, produzido pela EBC – TV Brasil, o próprio Almirante Negro explica o significado do castigo da chibata: “Era uma corda intitulada linha de barca onde os carrascos colocavam agulhas e pregos. Nus da cintura para cima, os homens eram amarrados em um ferro, expostos e castigados brutalmente”. O registro realizado em 1968 foi a única gravação de voz do almirante.
Em 1910, João Cândido assistiu junto de outros marinheiros a aplicação da pena de 250 chibatadas a que foi condenado seu colega Marcelino Rodrigues Meneses. Liderada pelo Almirante Negro, a tripulação da embarcação Minas Gerais da Marinha se revoltou contra seu comandante e junto a ela se uniram as tripulações de outros três navios. O protesto que ficou conhecido como Revolta da Chibata tinha entre as reivindicações o fim dos maus-tratos psicológicos e das punições corporais, o aumento salarial, melhor alimentação e a anistia aos envolvidos.
Para Eloi Araujo, a principal conquista da rebelião foi o compromisso do governo da época em acabar com a chibata na Marinha. João Cândido foi preso e expulso da corporação ainda em 1910, sob a acusação de ter favorecido os rebeldes. Em 1912 foi libertado, porém só recebeu a anistia em 2008, 39 anos depois de seu falecimento.
MESTRE SALA DOS MARES – Na década de 1970 João Cândido e a Revolta da Chibata foram imortalizados na canção O mestre-sala dos mares composta por João Bosco e Aldir Blanc. Mesmo depois de morto, o Almirante Negro foi vítima do preconceito e da censura pela ditadura militar que naquela década não aceitou homenagem a um marinheiro que quebrou a hierarquia dos oficiais da Marinha.
Para mostrar ao país estas e outras histórias, o Museu João Cândido armazenará sob a forma de acervo as conquistas a partir da Revolta da Chibata e o passado do almirante que mudou os rumos da história do negro no Brasil e virou música.

terça-feira, 12 de julho de 2011

SEMINÁRIO MULHER E LITERATURA NA UnB EM AGOSTO PRESTA HOMENAGEM A ESCRITORAS AFRO BRASILEIRAS

FONTE:GELEDÉS
Há 25 anos, nascia no Brasil o seminário Mulher e Literatura. Catorze edições depois, o encontro que discute a literatura a partir do olhar feminino como sujeito, e não como objeto, das narrativas ocorrerá simultaneamente a outro, internacional, com pauta idêntica. Mais de 600 inscrições já foram feitas para os dois encontros, de 4 a 6 de agosto, que homenagearão, na Universidade de Brasília, mulheres afro-descendentes a partir do tema "Palavra e Poder: representAÇÕES literárias". Inscrições podem ser feitas pelo site do evento.
O tema ressalta a palavra "ação" em dois sentidos: o das representações literárias e o das ações literárias. Para a professora Cristina Stevens, do Departamento de Teorias Literárias e Literaturas (TEL), o conteúdo do texto carrega possibilidades além do que é dito objetivamente. "A palavra literária é muito poderosa, empodera a mulher", diz. "A literatura pode ser ficcional, mas representa o real. É uma ação em si mesma".
A professora ressalta que, historicamente, a literatura é feita por maioria masculina. "Ainda existem desigualdades entre homens e mulheres e, na literatura, isso não é diferente", destaca. Ela explica que as questões tratadas pelas mulheres são diferentes das dos homens. "Uma mulher não vai escrever 'Guerra e paz', vai escrever sobre a vida, sobre o nascimento. Mas 'Guerra e paz' é mais importante do que a maternidade?", questiona, citando o famoso romance do russo Leon Tolstói.
Justamente por trazer temas diversos do universo masculino, a literatura feita por mulheres acaba trazendo questões subjetivas que extrapolam o que é dito nos textos. Isso se torna ainda mais ampliado no caso das escritoras negras, que permeiam suas produções com questões muito próprias do que é ser mulher e negra em um país como o Brasil.
"De um modo geral, as mulheres negras são vistas no papel da subalternidade", afirma a escritora Conceição Evaristo, um expoente da literatura atual e uma das homenageadas no seminário. "As pessoas esperam que a mulher negra cozinhe bem, arrume bem a casa, seja uma boa babá, dance, cante. Mas, em determinadas áreas do saber, embora estejam presentes, essa imagem é muito invisibilizada".
Para Conceição, dar visibilidade à presença das mulheres negras na litaratura rompe esse lugar de subalternidade. "O cânone literário brasileiro é marcado por uma presença masculina branca. Quando se pensa em escritores, pensa-se primeiro nos homens, depois nas mulheres brancas. Em ultimo lugar, se pensa nas escritoras brasileiras negras", diz. "Nossa literatura traz à tona as relações raciais na sociedade. Quando você está no campo ficcional é que essas mazelas aparecem com mais veemência do que o próprio texto da História", diz.
           Conceição participará dos seminários junto com Geni Guimarães, Lia Vieira, Miriam Alves, Esmeralda Rubens, Ana Maria Gonçalves e a africana Paula Tavares. Na cerimônia de abertura, alunos negros vão fazer uma performance com leitura dos textos delas. Para ver a programação do XIV Seminário Nacional e V Seminário Internacional Mulher e Literatura, acesse o site do evento