sexta-feira, 18 de outubro de 2013

MERCADO DE COSMÉSTICOS DESTINADOS AOS CABELOS DE MULHERES NEGRAS CRESCE NO BRASIL



 Edição: Adilson Gonçalves 
Fonte: Uol

A dificuldade de encontrar cosméticos específicos para cuidar dos seus cabelos motivou a jovem Carolina Lima, 27, a criar um site para oferecer produtos exclusivos para mulheres de cabelos crespos, cacheados ou alongados, o Prapreta.
"Eu tinha uma necessidade e o que eu encontrava no mercado não me agradava", diz a empresária.
Junto com a sócia Alana Lourenço, 26, uma amiga que acompanhava a sua saga para encontrar produtos específicos para cabelos crespos, ela investiu R$ 20 mil –R$ 15 mil de um empréstimo e R$ 5.000 em recursos próprios–  para começar o negócio.
Com o dinheiro, elas desenvolveram o site, fizeram as instalações da empresa e montaram um estoque para começar as atividades em outubro do ano passado.
Atualmente, o site revende 60 itens, como xampús, condicionadores, finalizadores e cremes de tratamento (para hidratação e reconstrução) de marcas nacionais e internacionais, para cabelos crespos e cacheados.
A empresa não informa o faturamento e a margem de lucro.  Os preços variam de R$ 6 (creme) a R$ 400 (kit com quatro produtos – xampú, condicionador, hidratante e óleo).

Sócias queriam nome de impacto e de fácil fixação

Amigas desde 2005, Carolina Lima e a sócia se formaram na Faculdade de Jornalismo da Universidade São Judas Tadeu, em 2008. As duas atuaram no jornalismo até o final de 2011, quando decidiram mudar de atividade.
Com base na experiência consumidora de Lima e no conhecimento sobre comércio eletrônico de Lourenço, que fez cursos sobre a área, elas decidiram montar um plano de negócio com foco no consumo da mulher negra e na internet como canal de vendas.
Segundo Lima, o nome Prapreta surgiu logo depois que as sócias definiram qual o público que elas desejavam atingir. "Queríamos um nome que causasse impacto e que fosse facilmente fixado pelos consumidores", declara.

Comércio eletrônico exige investimento em tecnologia e logística

Segundo a consultora Elderci Garcia, do Sebrae-SP (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo), apesar de o comércio eletrônico baratear os custos do negócio, os investimentos em tecnologia e em logística devem ser frequentes para quem opera nessa plataforma de vendas.
De acordo com a consultora, consumidores que compram produtos pela internet queixam-se de problemas, desde o pagamento até o prazo de entrega. Reclamações sobre transações com cartão de crédito e descumprimento do prazo de entrega são corriqueiros.
Como a venda é rápida e há muitos concorrentes, a consumidora vai logo em busca de outro fornecedor, afirma Garcia. "Os produtos de beleza são itens da cesta básica da mulher brasileira. E, por haver muita oferta, sai na frente quem oferece qualidade e facilidades", diz a consultora.

Cabeleireira cria linha de produtos para cabelos crespos

Outra empresária que resolveu apostar na oferta de produtos para o tratamento de cabelos crespos foi Sheila Silva de Oliveira, 36. Com investimento de R$ 20 mil (site, matéria-prima e instalações), ela abriu, em maio deste ano, a Makeda Cosméticos, em São Paulo (SP).
Oliveira afirma que começou a perceber a falta de opções de produtos para cabelos crespos ao trabalhar no salão de beleza da sua mãe. "No dia a dia, eu percebia que as mulheres com cabelos crespos sofriam para conseguir tratá-los e vi que poderia explorar melhor este mercado", diz.
Oliveira criou, então, uma linha de produtos a base de óleos vegetais para mulheres de cabelos crespos, black power, cacheados e ondulados composta por xampú, ativador de cachos, creme, hidratante, condicionador e óleo.
Os preços variam de R$ 69,90 (ativador de cacho) a R$ 151 (máscara nutritiva) e podem ser encontrados na loja virtual e na loja física, em São Paulo (SP).
Para reduzir os custos operacionais, a empresária terceiriza a produção da sua linha. Por mês, ela fatura de R$ 4.000 a R$ 5.000.
A empresária não é a primeira a investir em uma linha específica para cabelos crespos.
Antes dela, a ex-faxineira Zica Assis, 52, que inspirou a criação da personagem de Heloisa Périssé na novela Avenida Brasil, a cabeleireira Monalisa, abriu a rede de salões de cabeleireiros Instituto Beleza Natural, especializado em cabelos crespos e ondulados.
Assis, inclusive, já ganhou destaque até na mídia internacional por figurar entre as dez mulheres de negócios mais poderosas do Brasil, segundo a revista americana "Forbes".

Fábrica de fundo quintal prejudica imagem, segundo especialista

Segundo a consultora de negócios em beleza Rose Gonçalves, da empresa Assessoria em Beleza, a terceirização de uma produção precisa passar por um criterioso controle de qualidade.
"A empresa pode ser pequena, mas não precisa ser vista como uma fábrica de fundo de quintal", afirma.
Segundo Gonçalves, para lançar produtos diferenciados e sair na frente dos concorrentes, é comum alguns pequenos empresários apressarem as pesquisas para lançar a linha o quanto antes.  Esta prática, de acordo com ela, pode comprometer a qualidade.
"O produto precisa passar por uma fase de testes de, no mínimo, um ano para evitar problemas com as consumidoras.  Muita química pode causar queda de cabelo, por exemplo", diz a consultora.
Gonçalves diz também que é importante fazer estudos de mercado, principalmente dos concorrentes. Segundo a ABIHPEC, 20 empresas de grande porte, com faturamento líquido acima de R$ 100 milhões, representam 73% do faturamento do setor no Brasil.
Para ela, diante de um mercado forte, o melhor é investir em internet e em lojas enxutas. "Portais tipo perfumaria são mais eficientes para quem está iniciando por terem um custo baixo", afirma a especialista.

Onde encontrar:

Prapreta - Fone: (11) 2506-4024
www.prapreta.com.br
Makeda Cosméticos
www.makedacosmeticos.com.br


quinta-feira, 17 de outubro de 2013

HOMICÍDIOS ENTRE NEGROS E PARDOS É MAIS DE TRÊS VEZES MAIOR QUE ENTRE OS NÃO NEGROS, AFIRMA ESTUDO DO IPEA

Edição Adilson Gonçalves Fonte: R7
A probabilidade de um brasileiro de cor negra ou parda ser assassinado no País é oito pontos percentuais maior do que a de um não negro (brancos e amarelos). O dado é destacado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) em seu Boletim de Análise Político-Institucional, divulgado nesta quinta-feira (17).
A pesquisa lembra que mais de 60 mil pessoas são assassinadas no Brasil a cada ano e destaca que “há um forte viés de cor/raça nessas mortes”. Segundo o diretor de Estudos e Políticas do Estado, das Instituições e da Democracia do Ipea, Daniel Cerqueira, que assina o levantamento, o  negro é discriminado duas vezes no Brasil: pela condição social e por sua cor da pele.
Os dados do estudo dão conta de que a taxa de homicídios entre negros e pardos (36,5 por 100 mil) é mais do que o dobro do que entre não negros (15,5 por 100 mil). Como consequência desse quadro, a perda de expectativa de vida para negros devido à violência letal é 114% maior.
Os pesquisadores envolvidos na pesquisa destacaram que, se no Brasil a exposição da população como um todo à possibilidade de morte violenta já é grande, ser negro significa pertencer a um grupo de risco, já que a cada três assassinatos, dois são de negros.
Somada a população residente nos 226 municípios brasileiros com mais de 100 mil habitantes, o Ipea calcula que a possibilidade de um adolescente negro ser vítima de homicídio é 3,7 vezes maior em comparação com os brancos.
Segundo o instituto, os dados indicam que enquanto o homem negro perde 1,73 ano de expectativa de vida ao nascer, a perda do branco quando se considera o risco de homicídio é de 0,71 ano. Esses números levam o Ipea a questionar se existe racismo institucional no Brasil.
Desconfiança

Outro indicador destacado pelo Ipea contribui para a hipótese do racismo institucional: enquanto apenas 38,2% dos não negros vítimas de agressão tendem a não procurar a polícia para registrar o crime, quando se trata de negros a proporção sobe para 68,8%.
Entre as razões para não buscar auxílio policial estão a falta de crença no trabalho da polícia e o receio de sofrer represálias. Entre os negros, esse medo é maior (60,7%) do que entre os não negros (39,3%). Não por acaso: segundo o levantamento, negros compõem a maior parte das vítimas de agressão por parte de policiais.
A Pesquisa Nacional de Vitimização mostra que 6,5% dos negros que sofreram uma agressão no ano anterior à coleta dos dados pelo IBGE, em 2010, tiveram como agressores policiais ou seguranças privados, contra 3,7% dos brancos. Para o Ipea, enquanto existir essa diferença de dados entre cidadãos de cor diferente, a democracia estará incompleta.