Edição: Adilson Gonçalves Fonte Folha de São Paulo
A ministra da Cultura, Marta Suplicy, afirmou na manhã desta
quarta-feira (2/10), em entrevista na Biblioteca Nacional, no Rio, que não foi
usado nenhum parâmetro étnico na escolha da delegação de escritores brasileiros
para a Feira do Livro de Frankfurt. Marta comentou a polêmica, levantada na imprensa alemã, de que
teria havido racismo na seleção dos integrantes da comitiva oficial brasileira
para o evento, que neste ano tem o Brasil como país convidado. Na delegação
brasileira há 70 autores e somente um negro, Paulo Lins. A imprensa alemão
também destacou o fato de só haver, entre os 70, um descendente de indígena,
Daniel Munduruku.
"O critério não foi étnico, o critério
foi outro e eu achei correto. O primeiro era a qualidade estética, depois
autores que tivessem livros traduzidos para o alemão e língua estrangeira. A
Feira de Frankfurt é uma feira comercial e nós temos que dar prioridade a quem
já está lá e vai poder se colocar também pela diversidade", disse Marta
Suplicy.
A ministra afirmou ainda que o país vive um
momento de transformação, o que vai permitir que, nas próximas gerações, haja
um número maior de negros em eventos como esses. "Hoje infelizmente não
temos. Devemos entender que toda lista tem sempre um recorte que provoca
discussão", afirmou.
Em sua
página no facebook, Paulo Lins ironizou a situação. Ao postar o link
desta reportagem da Folha,
comentou: "Aposto que se der algum problema o culpado vai ser eu".
De acordo com a coordenadora do Centro
Internacional do Livro da Biblioteca Nacional, Moema Salgado, o critério de
traduzir os livros surgiu em acordo com a organização da feira. "Achei até
estranho os próprios alemães levantarem essa questão. É uma demanda da feira
internacional. Quem vê um debate, quer ter um livro traduzido para comprar",
disse.
Sobre o Brasil ter decidido a delegação
brasileira em março, quando foram anunciados os 70 nomes de escritores que
viajariam pelo Ministério da Cultura, e e
deixado para fazer a licitação apenas às vésperas do evento, a ministra
disse que o processo foi retardado por mudanças administrativas na pasta, na
Biblioteca Nacional e no Itamaraty.
"Foram três mudanças ao mesmo tempo: no
ministério, na Biblioteca Nacional e do embaixador [na verdade o cônsul
brasileiro em Frankfurt]. Essas mudanças todas acarretaram várias confusões,
mas viramos a página e fomos em frente. Quando se dizia que a licitação ia ficar
no vazio, que os autores iam ficar sem hospedagem, não aconteceu nada disso,
nós temos tudo resolvido e da melhor maneira possível, com um hotel quatro
estrelas dentro do nosso orçamento. Estamos satisfeitos", afirmou Marta.
Em tom irônico, a ministra disse que sobraram
vagas de hospedagem. "Quem quiser ir, ainda tem lugar."
O Ministério da Cultura divulgou que um hotel
da rede Holiday Inn ofereceu 656 diárias a R$ 315 mil, além de translado ao
evento --no resultado da licitação de hospedagem da delegação brasileira. A
ministra disse que o orçamento final ficou dentro dos R$ 18,9 milhões
anunciados há meses.
O presidente da Biblioteca Nacional, Renato
Lessa, que também participou da entrevista, destacou que, apesar de as
licitações terem sido feitas só agora, às vésperas do evento, "seu
processo já vem desde abril". Ele disse que representantes do ministério viajaram
nesse período à Alemanha para tratar exclusivamente do assunto.