quinta-feira, 6 de junho de 2013

ESTÃO EMBRANQUECENDO O FUTEBOL, E ISTO É UMA MAL PARA O BRASIL, AFIRMA JUCA KFOURY

 Edição: Adilson GonçalvesTexto:Juca Kafoury Fonte:Folha de São Paulo

QUE PERDOEM os que vivem num país tão diferente que imaginam não haver racismo no Brasil.
Que perdoem, ainda, os que diziam que a política de cotas é que estabeleceria discriminação racial em nossas faculdades, o que os fatos têm desmentido à exaustão.
Que perdoem, também, os complacentes de plantão que a tudo justificam, até a entrega de estádios inacabados, sujos, com entornos perigosos, por mais que as obras tenham estourado todos os prazos e quase dobrado os custos.
Porque o preço médio do ingresso na reabertura do Maracanã ficou na casa dos R$ 150!
Negros, no estádio, só os que lá foram para trabalhar.
Dê uma olhada neste time, dos anos 80, convocado por Telê Santana: Valdir Peres, Leandro, Oscar, Edinho e Pedrinho; Falcão, Sócrates e Zico; Dirceu, Careca e Éder. Sabe o que ele tem de extraordinário, apesar de jamais ter entrado em campo, embora os 11 tenham convivido na mesma concentração para a Copa da Espanha? São todos brancos.
Fruto do momento em que a várzea perdeu para a especulação imobiliária, do surgimento da escolinhas de futebol e, é claro, de circunstâncias aleatórias.
Curiosamente, os maiores ídolos dos times mais populares do eixo Rio-São Paulo eram brancos, Zico e Sócrates, filhos da classe média.
João Saldanha se preocupava e apelava: "Não acabem com os nossos crioulos!".
Do time que disputou a Copa de 1982, Luisinho, Júnior, Toninho Cerezo e Serginho eram os titulares que davam o tom mestiço que sempre caracterizou nossas seleções de Djalma Santos, Didi, Mané Garrincha, Pelé, Zózimo, Amarildo, Jairzinho, Brito, Everaldo, Cafu, Aldair, Márcio Santos, Mauro Silva, Mazinho, Romário, Ronaldos, Rivaldo, Roque Júnior, Gilberto Silva, Kleberson, Roberto Carlos, para citar apenas os titulares campeões mundiais.
Será que teremos de criar cotas também nos estádios, para evitar que a elitização em marcha exclua ainda mais os excluídos? Se até no velho Pacaembu, nos jogos mais cotados do Corinthians, é perceptível o branqueamento, como será nos novos estádios da Copa-14, chamados impropriamente de arenas?
Dia desses esta Folha fez certeiro editorial sobre as oportunidades que a nova situação enseja para a modernização do futebol brasileiro.
Organização, conforto, segurança e bons gramados, tudo é essencial e há décadas se luta por isso.
Como não se deve esquecer de que o bom gestor do negócio do futebol haverá de ser aquele profissional que, friamente, for capaz de exacerbar a paixão.
Que perdoem as arenas, mas sem os crioulos a paixão será absorvida pela areia virtual e movediça que as caracterizam, porque até do ponto de vista puramente da língua elas são uma fraude, plastificadas, pasteurizadas e higienizadas.



quarta-feira, 5 de junho de 2013

MULHER É PRESA EM BRASÍLIA POR CRIME DE RACISMO E INCURSA NA LEI 7716- LEI CAÓ, VAI DIRETO PARA PRESÍDIO

Edição: Adilson Gonçalves Fonte Vermelho e G1 foto

Uma mulher de 48 anos foi presa na tarde deste domingo (3), suspeita de chamar dois vendedores de “neguinhos” e de bater e arranhar outros dois funcionários de uma padaria da 113 Sul, em Brasília, por discordar do preço cobrado pelo suco e pelo salgado que ela comeu no estabelecimento – R$ 8,14. A mulher foi indicada por por injúria racial e agressão.
O estabelecimento disse estar adotando os procedimentos legais que cabem ao caso. A Polícia Civil informou que ela já foi transferida para o Presídio Feminino do DF.
A ocorrência foi denunciada por uma cliente, que fez imagens das agressões pelo celular e as divulgou em redes sociais. Segundo a assessoria da padaria, ainda durante a discussão, a mulher disse à vendedora que já havia trabalhado com negros e que sabia que eles eram "acostumados a roubar". O estabelecimento disse ainda não ter tido acesso à filmagem.
Um dos sócios, Luiz Guilherme Carvalho disse que a cliente havia consultado o cardápio antes de pedir o lanche, mas que só na hora de pagar a conta questionou o preço. “Ela deu tipo um escândalo, perguntando que valores eram aqueles. Nosso gerente, que é negro, se aproximou para saber o que estava acontecendo. É o trabalho dele, inclusive, agir assim nessas situações. Aí começaram os insultos. Depois nossa técnica de nutrição também se aproximou e ela ficou gritando ‘agora vem mais outra negra para tentar me roubar’.”
A padaria, que funciona há 13 anos no local e tem outra unidade em Brasília, falou em nota que os funcionários continuam trabalhando normalmente e que repudia todo tipo de preconceito. Carvalho destacou o estranhamento dele e dos outros sócios diante da situação.
"A gente ficou muito surpreso. No mundo de hoje ainda ter gente com essa cabeça, é lamentável. Eles querem levar para frente isso e nós vamos dar todo o amparo jurídico e legal para essa situação."
A suspeita foi indiciada por injúria racial e  lesão corporal. A Polícia Civil não informou por quanto tempo ela pode ficar presa, caso seja condenada. No ano de 2012, a Secretaria de Segurança Pública registrou 409 casos de injúria racial.
Dados da Companhia de Planejamento indicam que 53,5% da população no DF são de negros e pardos. A maior concentração de negros por região se encontra na Estrutural (76%) e as menores, nos lagos Sul e Norte (19%). "Essa diferença social por si só já é uma expressão do racismo existente na sociedade brasiliense", afirma a empresa.
O GDF lançou em março um serviço telefônico para receber denúncias de racismo contra índios, negros, ciganos e quilombolas. Entre 20 de abril e 17 de maio, o serviço recebeu 3.034 ligações – 28 casos foram caracterizados como caso de discriminação (injúria e racismo).

Para fazer a denúncia, é preciso ligar para o telefone 156, opção 7. As denúncias são tratadas de forma sigilosa.
Outros casos
Em março deste ano, a empregada doméstica Márcia Pereira do Nascimento afirmou a filha dela de 12 anos foi espancada perto de uma parada de ônibus da avenida Potiguar, no Recanto das Emas, no Distrito Federal, por ser negra.