terça-feira, 28 de maio de 2013

CRIADA EM SÃO PAULO A SECRETARIA DE PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL

 Edição Adilson Gonçalves Fonte Vermelho

A Prefeitura oficializou nesta segunda-feira (27), no evento D´África-São Paulo, a criação da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial, que apresentou políticas etnicorraciais projetadas para a cidade. O ato contou com as presenças do ministro do Esporte, Aldo Rebelo, e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na ocasião, o prefeito Fernando Haddad ressaltou a importância do ensino da História da África nas escolas.
"Nem sempre temos a consciência do que é ser negro no Brasil, do que é ser afrodescentende, do que é ser descendente de escravos e, muitas vezes, isso é falta de consciência histórica em função de uma educação precária, em função de falta de consciência política", afirmou Haddad. "O papel dos dirigentes é justamente aprofundar esse debate e fazer chegar para as crianças e jovens do Brasil o quanto nós temos de caminhar para um dia poder olhar para trás e dizer que resgatamos a história dos negros no Brasil", concluiu o prefeito.
A Secretaria de Promoção da Igualdade Racial amplia o trabalho da Coordenadoria dos Assuntos da População Negra, criado em 1989, no combate às desigualdades raciais. Ela tem como missão desenvolver políticas públicas e construir uma agenda com ênfase para a população negra. Também serão atendidos os imigrantes (em especial africanos), e as comunidades tradicionais (como os povos indígenas e ciganos), além das religiões de matriz africana.
"A criação dessa Secretaria é uma conquista do nosso movimento negro e da organização das mulheres, em nome de toda a população negra e também de outros setores organizados. Isso demonstra a vontade política, o reconhecimento da necessidade de uma efetiva construção de estratégias para o combate das desigualdades raciais", afirmou o secretário municipal de Promoção da Igualdade Racial, Netinho de Paula.
Durante a celebração, o secretário anunciou seu grupo de trabalho "Educação das Relações Etnicorraciais", que irá trabalhar principalmente na elaboração da proposta de implementação, acompanhamento e monitoramento da Lei 10.639/2003, que institui o ensino da História da África nas escolas públicas e privadas. "A implementação dessa lei é, aqui em São Paulo, uma prioridade de governo, efetiva política de estado, que deve assegurar oportunidades raciais no interior da escola e na sociedade", concluiu Netinho.
O Grupo de Trabalho será composto pelas secretarias de Educação (formação dos educadores, monitoramento da população e distribuição de materiais didáticos e paradidáticos), Cultura (implementação de debates sobre a cultura negra/indígena, investimento em publicações de livros temático e promoção da aproximação com o samba como patrimônio histórico), Esporte (investir na prática da capoeira e aproximação dos centros esportivos às práticas educativas e de socialização) e de Governo (monitoramento do conjunto das ações e a implementação da Lei 10.639).

Em seu discurso, Lula lembrou das dificuldades enfrentadas para a aprovação do Estatuto da Igualdade Racial e a grande vitória que ele representou. O ex-presidente falou dos avanços feitos nos últimos anos, mas ressaltou que muito ainda precisa ser feito. Ele também falou da dívida história do Brasil com os países africanos: "Uma dívida que não pode ser mensurada em dinheiro, tem que ser mensurada em solidariedade". Lula se disse ainda muito feliz com a reação da imprensa brasileira à visita da presidenta Dilma Rousseff à África. "Parece que a imprensa descobriu a África", afirmou.
Sobre o papel do Brasil nas relações com a África, o ex-presidente ressaltou que o modelo colonizador implantado em quase todos os países do continente não pode voltar a existir. "As empresas brasileiras têm que estabelecer uma política de associação, de parceria", afirmou ele. Lula defendeu ainda que as empresas brasileiras devem colocar negros africanos em cargos de chefia e não fazer como as empresas estrangeiras faziam no Brasil em seus tempos de sindicato. "Quem pode ter uma relação diferente com a África é o Brasil", ressaltou.
Dia da África
O Dia da África foi instituído pela União Africana (antiga Organização da Unidade Africana) ressaltando o momento de sua criação - 25 de Maio de 1963, como forma de celebrar e lembrar o Continente Africano como parte da historia, da memória, e, dos valores civilizatórios mundiais. Esta data reflete o compromisso político dos líderes africanos e destes com instituições internacionais, visando à aceleração do fim da colonização do continente. Nesta perspectiva, nos últimos anos a agenda governamental brasileira se intensificou junto ao Continente Africano reforçando os laços históricos e incrementando a relação econômica, política, social e cultural.
Ainda, ao longo das três últimas décadas, em função da negociação entre o Movimento Negro e a organização de mulheres negras com o Estado brasileiro, foram criados órgãos de promoção da igualdade racial - Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra no Estado de São Paulo (1984), a Coordenadoria dos Assuntos da População Negra no Município de São Paulo (1989); a Fundação Cultural Palmares vinculada ao Ministério da Cultura (1988); e, a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, da Presidência da República (2003).


PRODUTORES CULTURAIS E MILITANTES DO MOVIMENTO NEGRO QUESTIONAM A SUSPENSÃO DE EDITAIS DE INCENTIVOS À CULTURA PELA JUSTIÇA FEDERAL

Edição: Adilson Gonçalves Fonte: Mulher Negra
Produtores e militantes do Movimento Negro que promovem atividades artísticas e culturais questionaram a
decisão da Justiça Federal, que suspende editais de incentivo à produção cultural negra do Ministério da Cultura. Foram inscritos 2,4 mil projetos de médio e pequeno porte que concorriam a R$ 10 milhões. Na avaliação das entidades negras, a medida é um retrocesso e compromete projetos que refletem a diversidade brasileira.
Adriana Araújo organização da Feira Preta em São Paulo, revela dificuldade para acessar recursos, mesmo com uso de leis de incentivo fiscal estadual e federal, como a Lei Rouanet. Para fazer a feira de produtos étnicos nos últimos quatro anos, ela recebeu dinheiro de empresas privadas apenas da Petrobras, da Natura e do Banco Santander. "Mas não por leis de incentivo, que [por meio delas] poderiam passar quantia maior". A dificuldade a fez buscar o edital do Ministério da Cultura.
Organizadora do Festival da Mulher Afro-Latino-Americana e Caribenha, Jaqueline Fernandes, de Brasília, sofre com o mesmo problema: captar recursos na iniciativa privada. Segundo ela, o edital suspenso era o início de uma política para grupos que sofrem com a burocracia e a discriminação. "Sentimos na pele a diferença quando a gente chega para as empresas, públicas ou privadas, com temas negros e outros projetos. Mesmo com a melhor produção do mundo, se forem estes os temas [gênero e raça, principalmente], vão ser preteridos", disse a diretora da Griô Produções.
Para o presidente do Grupo Cultural Olodum, João Jorge Santos Rodrigues, da Bahia, a dificuldade de as empresas e dos editais universalistas distribuírem recursos para produtores negros é um reflexo do racismo das instituições. "Sé há um campo em que a contribuição dos afrodescendentes é fundamental e visível no Brasil é na cultura e no esporte, mas mesmo assim, como mostram os dados do Ministério da Cultura, por meio das políticas atuais, os recursos não chegam", disse.
De acordo com o presidente do órgão, Hilton Cobra, "nem com lupa" é possível encontrar projetos de incentivo à cultura negra patrocinados por empresas privadas no país, por isso a necessidade dos editais com recorte racial, que estão agora suspensos pela Justiça.
"É necessário que se saiba que há uma dificuldade nos mecanismos de captação [de recursos] atuais, que são excludentes e as empresas não querem vincular a marca delas à nossa cultura e arte negra", completou Cobra. Ele também atuou por 25 anos como produtor cultural e cobra que a classe artística se manifeste. "Uma única pessoa não pode retroceder toda uma política".