quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

CAÓ, MOVIMENTO NEGRO E GRUPO AUTÊNTICO SE INSURGEM CONTRA A DIREÇÃO DA SECRETARIA NACIONAL DO MOVIMENTO NEGRO DO PDT

Edição e foto: Adilison Gonçalves
Quando fundamos a Secretaria Nacional do Movimento Negro do PDT nos anos
80, tínhamos como missão o combate ao racismo e incutir na esquerda o entendimento
de que apenas a luta de classe não traria a igualdade ao povo negro. Nesta ocasião,
contávamos como nosso maior aliado Leonel de Moura Brizola, entre tantos guerreiros
da esquerda brasileira. A publicação do estatuto do PDT foi o grande legado do
trabalhismo para todas as forças políticas da época; apenas nosso partido tem o combate
ao racismo como clausula pétrea na sua lei orgânica.

Nossa luta dentro do partido não foi fácil, lembro-me de quantas vezes o
saudoso companheiro Abdias Nascimento teve que discursar para que o espaço do
negro não fosse obstaculizado. Recordo-me ainda do também saudoso, deputado José
Miguel e de seu empenho em aprovar a construção do Monumento Nacional a Zumbi
dos Palmares, assim com da luta dos educadores negros para a inclusão de nomes de
heróis negros para nomearem os Centros Integrados de Educação Pública (Cieps), os
Brizolões, como foram mais conhecidos e também do trabalho de companheiras, entre
outras, das secretárias de Estado Vanda Ferreira e Edialeda Salgado do Nascimento, entre
tantos que trabalharam para transformar o PDT em uma força política de vanguarda que
lutasse pelos brasileiros de todas as cores.

Hoje me sinto desgostoso do que vejo: um movimento apequenado, vivenciando
os tempos da escravidão, instalado na cozinha da casa grande e perseguindo os irmãos
de luta, para não perderem seus privilégios, assim como faziam os capitães do mato.
Infelizmente, não reconheço a Secretaria Nacional do Movimento Negro do PDT como
consciência racial para alicerçar o partido nas lutas do povo negro. Em todos os anos, no
dia 20 de novembro, dia dedicado ao nosso maior herói, estou no Monumento ao Zumbi
dos Palmares e compareço aos fóruns de combate ao Racismo. Mas a atual direção da
SNMNPDT, onde nos representa? Acompanho algumas iniciativas da Secretaria de
Política de Promoção da Igualdadea Racial (Seppir) e nunca vejo alguem da SNMN.

Recentemente ouvi uma conversa sobre a realização de um congresso do
Movimento Negro do PDT, e para minha surpresa e estupefação, foi determinado por
encaminhamento do presidente da SNMN, participariam apenas dois representantes por
estado, indicados pelos presidentes das secretarias regionais. O motivo alegado para tal
medida esdrúxula foi a de que a direção dio partido achou custoso fazer um congresso
com estrutura, no minimo decente para os negros.

Minha indignação pela postura subserviente, tal qual tinham os capitães do mato,
começa pela aceitação destes estratagemas que só retiram o negro do poder. Como
contraponto à esta subserviência, minha combativa e querida Juventude Socialista do
realizou um congresso com uma estrutura decente no Ceará.

Como diria nosso saudoso comandante e grande aliado, Leonel de Moura
Brizola: Eu venho de longe e por vir de longe é que não acredito que se comece uma
mudança por cima, mas sim pelas bases e as bases estão nos estados. Hoje não temos
informações de como vão as bases e em que situação estão as secretarias regionais do
Movimento Negro pelo Brasil. Quantas são?

A secretaria regional do Rio é um caso pitoresco, em março deste ano foi
realizada uma, alcunhada de congresso. Meus amigos, enquanto negro, fiquei pálido,
pois os então candidatos às presidências regional e nacional indicaram meu nome para
ser o presidente de honra, porém minha alegria durou pouco. Informo que até a presente
data o dito congresso não findou. Não houve debate , nem qualquer documento,
contendo nossa plataforma, foi encaminhado à direção do partido. Sobre tal congresso,
há apenas um aviso no mural do partido, reconduzindo o mesmo candidato à reeleição.

Nos meus tempos da UNE, congresso era palco de disputas, falações e paixões sobre a
construção de uma nova sociedade. Nos dias atuais, é picadeiro de estratégias deletérias
para a manutenção de cartórios improdutivos e dúbios.