sábado, 4 de agosto de 2012

EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIAS MOSTRA O COTIDIANO DE MORADORES DO HARLEM NA DÉCADA DE 70


  • Edição: Adilson Gonçalves
  • Fonte: New York Times
  • Fotos:Dawoud BeY 

Para sua decepção, não havia manifestantes fora do museu, que estava sendo criticado por excluir obras de artistas negros em seu retrato do Harlem, bairro de Nova York. Mas dentro do local ele presenciou algo que o marcou bastante: paredes repletas de fotografias de negros comuns que pareciam chamar a atenção dos presentes, que pareciam intrigados.
Dez anos depois, após ter mudado seu nome para DawoudBey e estudado fotografia na Escola de Artes Visuais, ele fez sua estreia com uma exposição no Museu Studio, no bairro do Harlem. Intitulada "Harlem USA", ela era composta por 25 fotos em preto e branco de moradores do bairro, de veteranos de guerra tocando em uma banda a mulheres idosas a caminho da igreja.

Bey, que agora vive em Chicago e ensina fotografia na Columbia College, tornou-se um aclamado fotógrafo de retratos, conhecido por transmitir uma perceptível autoconsciência e introspecção em suas imagens. Seu trabalho tem sido mostrado nos Estados Unidos e na Europa e está nas coleções permanentes do Museu de Arte Moderna, no Museu Whitney de Arte Americana e no Museu do Brooklyn.
Agora, sua exposição sobre o Harlem está em cartaz na íntegra no Instituto de Arte de Chicago - pela primeira vez desde sua primeira exposição no Museu Studio em 1979. O Instituto de Arte montou uma unidade especial de captação de recursos para comprar impressões, principalmente as antigas, da série original (por um preço que Bey descreveu como por volta dos "seis dígitos") e também está apresentando outras obras de pioneiros da fotografia de seu acervo, incluindo James Van Der Zee, Irving Penn e Roy DeCarava, todos influenciados por Bey.
Em uma tarde recente, Bey, 58, visitou a exposição do Instituto de Arte e falou sobre a relação entre suas fotos e a exposição "HarlemonMyMind".
"Naquela época", disse ele, "eu apenas andava por tudo que é lado com uma câmera que havia herdado do meu padrinho porque achava que era bacana. Mas eu não sabia o que fazer com ela. A exposição do Museu Metropolitano de Arte me marcou, me fez pensar."
Ele começou a ir a outros museus e galerias para apreciar as fotografias dos inovadores do começo do século, como Walker Evans e Henri Cartier-Bresson. "As obras deles me deram uma ideia do que eu queria fazer e do que eu não queria fazer", disse. "Não eram apenas obras ilustrativas. Eram subjetivas e interpretativas. Essas fotos começaram a apontar para uma direção, para mostrar que as fotos de pessoas comuns, poderiam, quando feitas de maneira correta, ter bastante significado."
Em meados dos anos 1970 ele estava utilizando uma câmera de lente única e havia começado a tirar fotografias das ruas do Harlem, que eventualmente acabaram fazendo parte de sua exposição no Museu Studio.
No período de quase mais de três décadas desde a exposição do Museu Studio, Bey tem continuado a explorar imagens de americanos negros e, mais recentemente, adolescentes de diversas origens. No processo, ele mudou de fotos em preto e branco para coloridas, começou a utilizar câmeras de grande formato e optou por intercalar fotos feitas em seu estúdio e nas ruas.
Esta evolução foi refletida em outra exposição feita em Chicago, a “DawoudBey: Picturing People” (DawouldBey: Retratando Pessoas, em tradução literal), uma retrospectiva de sua carreira que ficou exposta na galeria da Sociedade Renascentista na Universidade de Chicago de meados de maio a meados de julho e vai viajar pelo país no ano que vem.
Para o crítico Arthur Danto, que escreveu um ensaio para o catálogo de "Retratando Pessoas", um humanismo subjacente unifica toda a obra de Bey. "Há uma qualidade de clareza, de simpatia e compreensão", disse Danto. "As pessoas às vezes falam que algumas de suas fotos possuem a mesma qualidade que as obras de Rembrandt".
"Dou um passo para trás, brinco um pouco com a câmera, faço algo para que elas tenham a oportunidade de se sentir confortáveis", disse. "Então presto atenção no momento. A mão no joelho, o cotovelo apoiado na cadeira, tudo isso nos mostra quem são essas pessoas e como a narrativa do espaço e dos indivíduos interagem. "
O elemento que distingue Bey, no entanto, é menos a precisão geométrica com a qual ele apresenta o espaço em seus retratos do que o que David Travis, ex-curador de fotografia no Instituto de Arte, refere-se como a "bússola moral" de Bey.
"Ele realmente quer descobrir coisas sobre as pessoas, ele não quer ficar apenas na superfície de suas vidas e sim realmente mostrar quem são ", disse Travis. Mas ao contrário de Richard Avedon, que muitas vezes fazia com que uma luz estroboscópica aparecesse quando as pessoas menos esperavam, ou Diane Arbus, que disse uma vez que fotografar era como "entrar de fininho na cozinha tarde da noite para roubar biscoitos", Bey insiste que o processo tem que ser colaborativo.
"Dawoud acredita que as pessoas que posam para ele possuem uma voz, e ele não vai roubar algo que não queiram que seja mostrado", disse Travis. "Ele sempre toma muito cuidado para ter certeza de que não irá roubar um momento da pessoa que ele está fotografando. Ele não quer ser um intruso."

segunda-feira, 30 de julho de 2012

SEEDORF AFIRMA:"RACISMO É FALTA DE EDUCAÇÃO E CULTURA"


Edição: Adilson Gonçalves: Fonte Lancenet
Logo no primeiro contato, ao abrir a porta, Seedorf fez questão de cumprimentar cada repórter com um abraço. E mesmo instalado em bela suíte de hotel na Zona Sul do Rio de Janeiro, mostrou não se importar com status e se esparramou em uma poltrona. Foi assim, naturalmente humilde, que ele falou sobre questões como o racismo e a desigualdade social.
Seedorf nasceu no Suriname, pobre, e foi para a Holanda com três anos. Sofreu com dificuldades, porém se destacou ao aliar educação a um futebol de alto nível, movido por uma alegria natural do povo:
- No aspecto de como comemorar a vida, os brasileiros são exemplo. Muita gente é pobre, mas ri o tempo todo, com todos os problemas. E isso levei sempre em mim.


Como você avalia as atuais condições gerais do Brasil?


É muito claro o crescimento do Brasil. São mais de dez anos que venho em férias, e se nota muitas coisas, pequenas e grandes. É clara a situação de um país muito unido, porque para você fazer esse crescimento o país tem que estar assim. Agora para mim é um prazer viver cada dia e ver com meus próprios olhos as evoluções, ver a vida dos brasileiros, de todas as classes.

O quanto você se parece no jeito com os brasileiros?

Não sei, vou deixar vocês falarem (risos)! Sempre me dei bem com os brasileiros. São parecidos os valores de vida, como a gente vê a vida. No aspecto de como comemorar a vida, os brasileiros são um grande exemplo para o mundo. Sempre tive muita admiração por esse aspecto. No meu país (Suriname) também é assim. Muita gente é pobre, mas ri o tempo todo, com todos os problemas que tem. O dinheiro não faz felicidade, e isso é uma certeza.

Quando pensou em ter o seu projeto social?

Eu era muito jovem quando tive bem clara essa missão. É quase uma missão de vida. A maior felicidade para uma pessoa é ajudar o próximo. Não com dinheiro, mas com uma palavra, uma atenção, um abraço, um olhar. São pequenas coisas que podem mudar o dia de uma pessoa. Ou a vida de uma pessoa.

Ser um bom exemplo ajuda quanto nessa missão de atrair pessoas para o bem?

Especialmente as crianças, as novas gerações, precisam de um guia, de bons exemplos, de pessoas que podem ajudá-las a ficar na linha correta da vida. Nunca bebi, nunca fumei, em toda minha vida, porque sei que faz mal. Então eu não faço. Sei que tenho sorte de ter essa força mental, desde pequeno, para falar não. Não preciso beber para ficar feliz. Você pode beber suco ou água, como eu faço (risos), e ser feliz. Precisamos aumentar essa responsabilidade social que temos (jogadores), pois temos muita visibilidade.

A inspiração em Nelson Mandela mexeu de que forma contigo?


Ele fez um caminho muito duro. Não só ele, muitas outras pessoas por trás, que a gente conhece menos. Por exemplo, Desmond Tutu (saiba mais dele acima) falou para 2 mil jovens certa vez: “Vocês podem mudar esse mundo também. Vocês têm que lutar contra mil coisas. A facilidade para chegar na droga está perto, e você tem que ficar falando não, não quero”. Essas foram palavras que deram mais força para promover o que estou promovendo, Voltando ao Mandela, ele fez uma mudança em um país usando o esporte para unir. Ele significa para o mundo uma grande inspiração.

Mandela lutou pela igualdade étnica, mas ainda existem casos de racismo. Em 2011, um torcedor jogou uma banana em Roberto Carlos na Rússia. O que você faria?

A primeira coisa: banana é bom. Eu pegaria a banana e comeria. “É bom né?”. Todo mundo come banana, né? (risos). As pessoas precisam ser mais leves nessas coisas. Porque tem racismo no mundo, não tem como falar que não. Em alguns casos o racismo é falta de educação e cultura. O esporte, em geral, reflete os problemas do país. Eu sou bem escuro, mas não sofria racismo. Acho também que as pessoas olham o tipo de jogador, o comportamento dele. Se gostam, gostam. Se não gostam, vão procurar a parte mais débil para tentar fazer mal.

Você deixou o Suriname aos três anos. Então, como fez crescer um carinho tão grande pelo país?

Realmente, o relacionamento com o Suriname foi construído à distância. Depois, quando comecei a ganhar dinheiro, consegui voltar com frequência ao Suriname. Mas o amor ao país sempre esteve aí, e só foi crescendo com o tempo. Eu conheci o mundo todo, joguei em vários países, mas no Suriname seguiram todos os meu passos, o que estava fazendo. Você é quase um embaixador, sem saber. Então, o mínimo que posso fazer é dar amor para as coisas que faço pelo país.


É complicado ter tempo livre, mas o que vocês faz quando aparece uma brecha?

Gosto de esportes, em especial de ver atletismo. Também gosto muito de cinema, dos filmes com o Denzel Washington (ator). Gosto muito de desenho, amo. Gosto mais de desenho do que meus filhos gostam. Eu que levo eles para ver, porque gosto muito (risos). Procurando Nemo, Hulk e Homem-Aranha, adorei os três.